País terá de conviver com a direita popular
O espectro de um inédito movimento de massas de direita ronda o Brasil. Ativou-se em 2013 como derivado silencioso das marchas dos mais ricos nas ruas.
Constitui-se de pequenos proprietários, como os caminhoneiros recém-rebelados e os empreendedores familiares dedicados a arrancar em ambiente hostil o sustento que não vem do emprego.
Alastra-se pelo gigantesco setor de serviços de baixa produtividade. Caixas, frentistas, cobradores, motoristas, secretários, operadores de telemarketing, mecânicos, entregadores.
Ganha corpo nas densas categorias de remuneração inferior da burocracia dos governos. São policiais e integrantes das Forças Armadas, técnicos e auxiliares administrativos.
Atrai simpatizantes entre quem depende da aposentadoria do INSS acima do salário mínimo. A direita popular brasileira não tem pele clara e está mais próxima do cotidiano violento das cidades.
O desprezo por políticos que se revezam em postos de comando, a desconfiança nas elites bem pagas do Estado e do setor privado, a animosidade contra a mídia consolidada, o anti-intelectualismo e o desejo de restauração da ordem corrompida parecem compor, em graus diversos, o sentimento comum do movimento.
Em 2014 e 2016, os partidos estabelecidos, em especial o consórcio liderado pelo PSDB, exacerbaram práticas e discursos e se beneficiaram nas urnas desse colosso de contrariados.
Agora há um forte competidor excêntrico. A rudimentar organização partidária em torno de Jair Bolsonaro está perto de obter um terço da intenção de voto nas fatias medianas da renda e da escolaridade.
O avanço do bolsonarismo se deve à sintonia com o novo direitismo, ora popular. Sem decifrar a insatisfação dessa vasta camada de brasileiros e sem falar respeitosa e diretamente com ela, não se combate Bolsonaro.
A despeito do resultado do capitão no dia 7, a corrente de opinião que hoje o sustenta veio para ficar. O país deveria aprender a lidar com ela.
Vinicius Mota