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O duelo - João Domingos, O Estado de S.Paulo

João Domingos, O Estado de S.Paulo

15 Setembro 2018 | 03h00

 

Há um bom tempo, antes mesmo de Lula ser preso, o PT chegou à conclusão de que o adversário mais vulnerável no segundo turno seria o deputado Jair Bolsonaro (PSL). Portanto, todas as ações do partido deveriam ser feitas de forma a desconstruir candidatos como Ciro Gomes (PDT), Geraldo Alckmin (PSDB) e Marina Silva (Rede), até que sobrassem apenas o PT e o candidato do PSL. 

Só para se ter uma ideia de como os petistas trabalharam para que esse cenário ocorresse, reproduz-se a orientação de um estrategista da campanha do PT à militância do partido, feita há cerca de dois meses: “O ex-capitão Jair Bolsonaro é o candidato mais execrável, mas não o nosso inimigo principal. Há uma operação em curso para criar uma onda de ‘unidade nacional’ contra o neofascista, tentando viabilizar a recuperação de uma candidatura da centro-direita, do partido golpista. Nosso inimigo principal chama-se Geraldo Alckmin. O neofascista Jair Bolsonaro é o candidato que preferimos enfrentar em eventual segundo turno, até porque deixa as elites do Brasil sem máscara nem maquiagem.”

Àquela altura, havia na direção do PT a certeza de que Geraldo Alckmin conseguiria unir os partidos de centro em torno de sua candidatura, o que poderia torná-lo muito competitivo, a ponto de ultrapassar Bolsonaro. E um segundo turno entre o candidato petista e o tucano levaria, inevitavelmente, à vitória de Alckmin, que receberia os votos dos eleitores do capitão reformado e dos eleitores de centro que rejeitam o PT. Então, o melhor caminho seria derrubar Alckmin ainda no primeiro turno. Depois, esperar a chegada do capitão reformado. 

Do lado de Jair Bolsonaro, a estratégia traçada foi a mesma. Não interessava a ele enfrentar Alckmin, Ciro ou Marina, porque quem sobrasse poderia receber os votos dos eleitores do PT no segundo turno. Nessas condições desfavoráveis, o favorito de Bolsonaro passou a ser o PT. Com a torcida para que os eleitores de Geraldo Alckmin, Henrique Meirelles (MDB), João Amoêdo (Novo) e Alvaro Dias (Podemos), que rejeitam o PT, votassem nele. 

É possível que o confronto Bolsonaro x Fernando Haddad venha a ocorrer, embora não se possa assegurar que ocorrerá, porque nessa confusa eleição é impossível fazer qualquer tipo de previsão. Trata-se apenas de uma possibilidade. Ciro Gomes, Alckmin e Marina mostram-se competitivos e têm condições de crescer. Os petistas, no entanto, acreditam que terão chances até de ultrapassar Bolsonaro agora que Haddad iniciou a campanha. Pesquisas internas do PT apontam para a possibilidade de o candidato receber até 80% dos votos que iriam para Lula. 

Nesse clima de confiança, eles acham que vão contar até com a ajuda do PSDB que, por questões ideológicas, não estaria disposto a ver Bolsonaro chegar ao poder. É preciso observar, porém, que mesmo que a cúpula do PSDB faça um acordo institucional com o PT, não há nenhuma garantia de que o eleitor tucano vá votar em Haddad. A rejeição entre tucanos e petistas é muito grande. E a antipatia mútua só tem se agravado. A divisão que se verificou na campanha de 2014 continua a mesma, senão pior. Também não há garantia de que o voto do eleitor do PSDB venha a ser direcionado para Bolsonaro.

No Brasil alguns partidos, como o PT e o PSL, podem até ter algum viés ideológico. Mas o grosso do eleitor não tem. À exceção de um porcentual pequeno, o eleitor vota em que lhe transmite a mensagem mais compreensível, que se aproxima de suas necessidades, ou, por exclusão, naquele que pode ser o oposto do que detesta e rejeita. Esse é o drama tanto de Haddad quanto de Bolsonaro, caso venham a duelar no segundo turno. 

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