Junto com Lula, pragmatismo do PT foi parar na cadeia
Dos presidentes pós-redemocratização, Lula talvez tenha sido o que poderia ter reformado com mais facilidade a economia e nos livrado dos graves problemas que temos à frente.
“O cara” de Barack Obama era popular, não tinha pruridos para negociações fisiológicas no Congresso e foi pragmático na economia.
Mas como a insistência de sua candidatura natimorta revela, a pulsão do “Lula de novo, nos braços do povo” das caravanas é pela inebriação popular, o que o afastou de enfrentar tarefas espinhosas na Presidência.
De resto, nem precisou, pois tinha uma situação externa muito boa a seu favor até 2008. Mas, do alto de sua popularidade de mais de 80%, não é improvável que tomasse medidas impopulares se necessário, como o fez em 2003, no início do mandato.
Corta e chegamos a 2018 com o Brasil quebrado, sobretudo por conta de gastos crescentes com Previdência e funcionalismo.
O melhor indicador do tamanho do rombo é a dificuldade que teremos para cumprir o chamado teto dos gastos, que colocou na Constituição um limite (a inflação dos 12 meses anteriores) para o aumento da despesa não financeira.
Segundo o Ibre-FGV, a margem de manobra do próximo governo é tão pequena que ele terá, dentro de uma receita líquida total de R$ 1,3 trilhão em 2019, só R$ 98 bilhões (7,5%) para as chamadas despesas discricionárias –verbas para gasolina, passaportes ou bolsas de estudo, onde é possível fazer cortes.
O resto do dinheiro irá todo para despesas obrigatórias, impossíveis de cortar, sendo as maiores Previdência e funcionalismo, que somam 75% da receita disponível.
Em 2021, para uma projeção de receita de R$ 1,5 trilhão, o gasto discricionário terá de ser ainda menor, de R$ 52 bilhões (3,4%). Antes disso, a inflação voltará com a emissão de dinheiro para pagar as contas ou a máquina pública vai parar em meio a algumas revoltas.
É disso que se trata.
Mesmo com Lula preso, é possível que o PT seja competitivo e acabe no segundo turno com a chapa Fernando Haddad e Manuela D´Ávila (PC do B), como ocorreu nas últimas quatro eleições.
Mas pelo que foi apresentado até aqui, não é o pragmatismo do velho Lula o que devemos esperar.
Nas 70 páginas do plano de governo do PT, há apenas nove sobre economia e nenhuma linha sobre a Previdência. O toque populista é a promessa de isentar de IR rendimentos até cinco salários mínimos e tributar “super ricos”, sem estimativas do resultado contábil disso.
Sobre as restrições orçamentárias impostas pelo teto de gastos, a solução do programa é simples: acabar com ele –o que requer gastar muito capital político no Congresso pelos 3/5 dos votos necessários para revogar a emenda constitucional.
Em se tratando de pragmatismo, os mesmos votos poderiam reformar a Previdência, motivo da doença para a qual o teto é só o termômetro.
Jornalista, autor de "Desastre Global - Um Ano na Pior Crise desde 1929". Vencedor de quatro prêmios Esso. FOLHA DE SP