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Seis conceitos da ciência política úteis para as eleições deste ano

O cientista político Adriano Gianturco, italiano radicado no Brasil e professor do Ibmec-MG, lançou um ótimo livro –“A Ciência da Política: Uma Introdução”. É uma reunião de teorias e fenômenos que descrevem, quase sempre pelo olhar da economia e da teoria dos jogos, o comportamento de eleitores e políticos. Alguns conceitos do livro têm tudo a ver a eleição que se aproxima.

1. VOTO EXPRESSIVO

Do ponto de vista estritamente racional, não faz sentido votar, pois é muito difícil um simples indivíduo fazer diferença na eleição. Por que, então, as pessoas votam? Talvez por identidade coletiva. “Os indivíduos votam como torcem no estádio”, diz Gianturco. “Eles sabem que não mudarão o resultado em campo, mas, de forma mais emotiva que racional, querem participar, se sentir parte de um grupo, gritar contra o adversário.”

2. PROGRAMA NEGATIVO

Por causa do voto expressivo, políticos tentam convencer seus eleitores de que pertencem ao mesmo time. Mas é difícil fazer isso com um programa positivo de propostas e ideias convergentes, pois os eleitores, numa sociedade complexa, defendem opiniões das mais diversas. Longas discussões do programa fariam as pessoas perceberem que têm pouco em comum. 

Hayek, Nobel de Economia de 1974, mostrou que um modo mais fácil (e perigoso) de criar identidade coletiva é fomentando conflito. Um grupo ganha coesão quando se coloca contra um outro grupo, outra ideologia, etnia ou nação. Seus integrantes percebem muito bem as diferenças com “os outros” e deixam de notar as disparidades internas. 

3. “ISSUE OWNERSHIP” 

É a propriedade que partidos ou políticos têm sobre alguns temas. Bolsa Família, por exemplo, é um tema que pertence ao PT –e é difícil convencer os eleitores do contrário. Pior ainda, ao entrar no tema que pertence a um adversário, o político acaba dando um tiro no pé. Pois aumenta a importância daquela questão diante do eleitorado. 

4. “VALENCE ISSUE” 

É o tema sobre o qual há um consenso e já não pertence a ninguém. Responsabilidade fiscal, por exemplo, já foi consenso entre políticos europeus –até nascer a controvérsia sobre o “austericídio”. Ativistas tentam sempre transformar sua pauta (seja o aborto ou as privatizações) numa questão coringa. É bom eleger o candidato que defenda suas bandeiras; melhor ainda é se todos os candidatos concordarem com elas. 

5. VANTAGEM DO INCUMBENTE

Não é novidade que quem está no poder têm boas chances de reeleição. O melhor exemplo é o da Alemanha: desde 1953, o primeiro-ministro incumbente ganhou 13 das 16 eleições que concorreu. 
O interessante é que isso acontece não só por uso da máquina pública. O incumbente ganha o voto dos eleitores cautelosos –aqueles que até podem estar insatisfeitos com o governo, mas temem votar no opositor por não saber como ele governará. 

6. MÍNIMA COALIZÃO VENCEDORA

Uma coalizão grande demais (como a de Geraldo Alckmin) pode ser útil durante a eleição, para desidratar adversários. Depois de eleito, porém, o político terá que dividir o poder com gente demais, gerando aliados instáveis, pouco fiéis. 

“A melhor coalizão não é a maior, mas a menor possível para governar”, diz Gianturco. No caso brasileiro, é a menor aliança que garanta os três quintos de deputados necessários para a aprovação da reforma da Previdência. 

Leandro Narloch

Jornalista, autor de “Guia Politicamente Incorreto da História do Brasil”. É mestre em filosofia pela Universidade de Londres. / FOLHA DE SP

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