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O candidato do sistema

Eliane Cantanhêde, O Estado de S.Paulo

24 Julho 2018 | 03h00

Jair Bolsonaro e Geraldo Alckmin estão em situações exatamente opostas na corrida pela Presidência. Bolsonaro tem sólidas intenções de voto, mas não apoios políticos e garantia de governabilidade. Alckmin é o contrário: tem sólidos apoios políticos, mas precisa revertê-los em intenções de voto. 

Sob outra ótica, o capitão reformado do Exército é o outsider numa campanha marcada pela irritação e pelo desprezo pela política. Já o ex-governador de São Paulo é o candidato do “sistema”, ou do status quo, aquele que transmite segurança em meio a tantas crises e a tanta insegurança na política e na economia. Notícia boa para a campanha do tucano equivale a notícia boa nas Bolsas e no mercado de câmbio.

Bolsonaro dialoga diretamente com o eleitor e a eleitora, numa linguagem que eles entendem e replicam. Alckmin discursa para o mercado, o mundo político, os formadores de opinião. Nesse confronto, Bolsonaro tentava uma pressão de baixo para cima: usar seu apoio popular para conquistar apoio político. Não deu certo. E Alckmin passa a tentar uma pressão de cima para baixo: usar seu apoio político-partidário para conquistar votos populares. Dará certo?

A pergunta-chave para Bolsonaro vem do alerta feito pela peculiaríssima professora Janaina Paschoal, cotada para ser sua vice: sem alianças e sem ampliar o diálogo, como Bolsonaro vai garantir condições de governabilidade, caso eleito? Isso não é brincadeira, é muito sério. Já a pergunta-chave para Alckmin é, mais uma vez, no sentido oposto: ser o candidato do “sistema”, dos mercados, da elite e do Centrão atrai ou afasta votos? Engrossa ou não os porcentuais nas pesquisas?

Outra diferença gritante é que Bolsonaro deu de ombros para a mídia tradicional e chegou à liderança das pesquisas (atrás apenas do ex-presidente Lula, tecnicamente ficha-suja) usando, primeiro, as redes sociais; depois, palanques improvisados; enfim, o boca a boca. Alckmin, porém, continua convencido de que “quem ganha eleição é a TV”. Está até agora esperando o início da propaganda eleitoral para deslanchar nas pesquisas – para aflição de tucanos e seus aliados.

Agora, quem entra em campo são as tropas. Bolsonaro tem apoios voluntários e distribuídos pelas regiões. Alckmin passa a contar com um exército que tem PSDB, DEM, PSD, PP, PR, PRB, Solidariedade, PPS e PV. Significa, além de 40% de todo o tempo da propaganda eleitoral na TV, também um batalhão de vereadores, prefeitos, deputados e cabos eleitorais trabalhando pela candidatura. Sem considerar, claro, as dissidências nos Estados.

Enquanto Bolsonaro tenta um vice atrás do outro, Alckmin sonha com Josué Gomes da Silva, um dos maiores empresários do País, simpático à esquerda e à direita e de um Estado decisivo: Minas Gerais. Só depende do próprio Josué e das pressões do PT.

Como na física, a uma ação corresponde uma reação. Se Alckmin conseguiu reunir o Centrão, é natural que as esquerdas tentem uma aglutinação em torno de um nome. Mas que nome? Além de Lula, os demais amargam 1% nas pesquisas e Ciro Gomes, do PDT, está tão “biruta de aeroporto” quanto o PSB. Vai do PT ao DEM, volta do DEM ao PT e não chega a lugar nenhum, ou a aliança nenhuma. A única certeza é que as esquerdas estão imobilizadas por Lula e sua candidatura fantasma.

Afora isso, Marina é uma candidata que, de tão discreta, nem parece candidata. E Henrique Meirelles é um candidato que, de tão inexpressivo, parece que não vai longe nem mesmo no MDB. É assim que a eleição vai ganhando forma e rumo. Bolsonaro tem voto, Alckmin tem partidos, Ciro atira para todo lado, Marina é válvula de escape e todos esperam – ou temem – o nome do PT.

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