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Guerra de foice

Eliane Cantanhêde, O Estado de S.Paulo

08 Julho 2018 | 05h00

Acaba a Copa para nós e começa de fato a eleição, ainda cercada de interrogações, mas com o tempo correndo cada vez mais rápido. Até 15 de agosto, prazo final para o registro de candidaturas, as respostas mais importantes terão que ser dadas, queiram ou não os partidos. É quando ficará claro quem entra, quem sai, quem está com quem.

Cresce a pressão para que o ex-presidente Lula faça uma “Carta à Nação” a ser lida na convenção do PT, no dia 28, para sair de campo espetacularmente, lançar Fernando Haddad e articular a candidatura dele a partir da cela em Curitiba – enquanto ainda estiver na cela em Curitiba.

Essa carta, com a renúncia à candidatura, serviria, ou servirá, como sinal verde para o Supremo dar o passo seguinte: livrar Lula da prisão. Em resumo, Lula abdica de ser candidato em troca de conquistar a liberdade. Uma complexa negociação, com Dias Toffoli afirmando-se não só como o próximo presidente de fato do STF, mas como o mais audacioso entre os onze ministros. 

Fora da prisão e da chapa, Lula apresenta um candidato que mantém o PT e as esquerdas unidas, oferece enfim um nome ao Nordeste, que vota em quem seu mestre Lula mandar – e atrai dois tipos essenciais de eleitores: petistas decepcionados com o partido, mas sem alternativa, e também eleitores de outras siglas, igualmente desanimados com os nomes já colocados.

Do lado oposto, na raia da direita, Jair Bolsonaro repete Collor em 1989 e Trump agora nos EUA: a mídia e os analistas não conseguem acreditar que ele está consolidado para o segundo turno, mas ele vai vencendo resistências. Aplaudido na CNI? Sem entender de economia e sem ter administrado coisa nenhuma? Pois é. Collor, o marajá número um, venceu com o marketing de “caçador de marajás”. 

Bolsonaro desdenha de alianças e partidos e cobre preventivamente a falta de tempo na TV com as redes sociais, enquanto seus principais concorrentes fazem o oposto: desdenham a internet e mergulham em cafés, almoços, jantares e reuniões em busca de alianças que lhes deem minutos de TV, palanques e condições futuras de governabilidade.

No foco está o tucano Geraldo Alckmin, que, pelo currículo ou pelo partido (que vence ou disputa o segundo turno desde 1994), é, ou seria, o maior beneficiário de uma união ao centro. Mas o aliado e até afilhado João Doria lhe fez o imenso favor de criar, antes do início da eleição, a sensação de que ele “não tem chance”. A cada pesquisa, a cada nome alternativo, aumenta o medo dos aliados naturais do PSDB, a começar do DEM. Os partidos querem que Alckmin cresça nas pesquisas para se definir. Alckmin quer que eles se definam para poder crescer nas pesquisas.

O futuro de Ciro Gomes está atrelado ao PT, desde que ele cismou de se colocar como opção de esquerda, mas fez um movimento esquizofrênico: disputava o PT, enquanto soltava cobras e lagartos contra o partido e contra Lula. Agora, disputa o DEM, que pode ser tudo, menos de esquerda. “O que nós temos em comum com o Ciro? Nada!”, resume José Carlos Aleluia (DEM-BA).

Marina Silva é o voto confortável, de quem valoriza ética, biografia, simbologia, mas isso nunca será suficiente para levar uma candidatura ao segundo turno, muito menos para empurrá-la rampa acima. Mais uma vez, Marina parece candidata a válvula de escape para aqueles que não encontrarem uma opção entre os que são “para valer”.

É assim que a eleição mais pulverizada desde 1989 vai caminhando, trôpega, surpreendente e, de certa forma, amedrontadora. Mas, com o fim da Copa e a chegada, já, já, de agosto, tudo vai começar a afunilar. E a exigir que você, eleitor, eleitora, pare de resmungar e passe a fazer o mais difícil: analisar e decidir.

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