Delatado, Lupi suja a ‘hegemonia moral’ de Ciro
"Ciro Gomes, o presidenciável do PDT, adota uma retórica encrespada ao falar sobre corrupção. Chama Michel Temer de “escroque”. Eleito, desmontará o MDB, porque o partido “só existe para roubar”. Eventuais alianças com PP, DEM e assemelhados, só seriam cogitadas depois de um acerto com PSB e PCdoB, “porque a hegemonia moral e intelectual do rumo estará afirmada.” Sempre em riste, a língua de Ciro ganhou um desafio novo. Carlos Lupi, o presidente do PDT, foi delatado como beneficiário de uma mesada de R$ 100 mil mensais fornecida pela quadrilha do ex-governador fluminense Sérgio Cabral.
Carlos Miranda, um dos principais auxiliares de Cabral, operador financeiro da quadrilha que saqueou os cofres do Rio de Janeiro, disse em delação premiada o seguinte:
1) No ano de 2012, o então secretário de governo da gestão de Cabral, Wilson Carlos, ordenou que transferisse para Carlos Lupi R$ 100 mil por mês em verbas clandestinas.
2) O dinheiro era entregue na sede do PDT por emissários de Renato Chebar, um dos doleiros que operavam para a quadrilha de Cabral.
3) Quem recebia a mesada em nome de Lupi era um personagem que o delator chamou de “senhor Loureiro”, tesoureiro do PDT.
4) O mensalão de Lupi durou do início de 2012 até março de 2014.
Lupi nega os recebimentos. Sustenta que jamais manteve nenhum tipo de relação com o delator. Mas a Polícia Federal e a Procuradoria já dispõem de matéria-prima para fazer o seu trabalho. O desafio de Ciro é encaixar a sujeira sob investigação na sua fórmula da “hegemonia moral”. O candidato decerto sabia dos riscos que corria ao falar de corda em casa de enforcado.
Nomeado por Lula para comandar o Ministério do Trabalho, Lupi deslizou para dentro do primeiro governo de Dilma Rousseff. Foi varrido da Esplanada dos Ministérios pela então “gerentona” em meio a denúncias de corrupção, no final de 2011. Por uma dessas coincidências implacáveis, a alegada mesada do esquema de Cabral começou a entrar no ano seguinte.
No momento, Ciro precisa de uma vacina capaz de imunizar sua campanha. Enquanto procura, talvez devesse fazer um pedido a Lupi. Diria algo assim para o correligionário encrencado: “Não diga nenhuma mentira que não possa provar.” JOSIAS DE SOUZA