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‘Se não soltarem Lula, caos social vai aumentar’

Às vésperas do julgamento em que o TRF-4 confirmou a condenação de Lula no caso do tríplex no Guaruja, a presidente do PT, senadora Gleisi Hoffmann (PR), dizia: “Para prender o Lula, vai ter de prender muita gente, mais do que isso, vai ter de matar gente.” Nesta quinta-feira, dia em que a prisão de Lula fez aniversário de dois meses, Gleisi escalou a tribuna do Senado. Dirigindo-se ao Judiciário, ela declarou: “Se não soltarem o Lula, o caos social vai aumentar. Nós não conseguiremos tirar o país da crise.”

Num instante em que o encarceramento de Lula cai na rotina —sem cadáveres nem a solidariedade das multidões—, Gleisi se autoproclamou porta-voz dos interesses do povo: “Não falo isso pelo PT. Falo isso pelo povo brasileiro. Nós não temos o direito de deixar esse povo sofrendo. Não temos o direito de olhar a situação como está e não fazer nada. Nós do PT estamos lutando muito, lutando muito para tirar o Lula da cadeia.”

Gleisi anunciou que a pré-candidatura presidencial de Lula será lançada nesta sexta-feira. Soou como se estivesse pessimista quanto às chances de o candidato ganhar a liberdade. Mas desconsidera a hipótese de a Justiça Eleitoral barrar o projeto Lula-2018:: “Nós vamos fazer campanha com ele, mesmo preso. E ele vai ganhar. Quero dizer a vocês: ele vai ganhar! […] Agora, vai ser mais bonito para o Brasil se ele estiver solto, porque ele vai ganhar, mesmo preso.”

O evento partidário que formalizará a pré-candidatura de Lula será às 18h, em Contagem, na região metropolitana de Belo Horizonte. A escolha do local não foi casual. Optou-se por Minas Gerais porque, além de ser o segundo maior colégio eleitoral do país, o Estado é governado pelo petista Fernando Pimentel. Ironicamente, Minas vive dias caóticos. E o caos mineiro não tem nada a ver com a prisão de Lula.

De dentro dos presídios, criminosos ordenaram a queima de ônibus. Incapaz de conter a banda piromaníaca das cadeias, a gestão de Pimentel ainda teve de lidar nos últimos com uma revolta da turma da farda. Na noite de quarta-feira, policiais em greve invadiram os jardins do Palácio da Liberdade, sede do governo mineiro. Sob Pimentel, o Estado foi à breca. Uma legião de servidores passou a receber salários a prazo, embora continue prestando serviços à vista. Os policiais perderam a paciência.

Alheia ao que se passa no cenário que o PT escolheu para reafirmar a hipotética candidatura do seu líder supremo, Gleisi tranquilizou os brasileiros: “…Nós reafirmamos e dizemos ao povo brasileiro, que tem sido tão firme com o presidente Lula, pesquisa após pesquisa, colocando Lula em primeiro lugar: podem confiar, nós vamos registrar Lula. Nós vamos fazer campanha do Lula. E o Lula vai trazer de novo a paz social para este país.”

Gleisi serviu ao governo de Dilma Rousseff como ministra-chefe da Casa Civil. Conheceu por dentro a administração da presidente que, adepta da economia criativa, foi a precursora do descalabro gerencial que produziu recessão e desemprego. Hoje, a despeito de um crescimento econômico que a imoralidade do governo de Michel Temer tornou débil, mais de 13 milhões de brasileiros permanecem no olho da rua.

Em seu discurso, porém, a presidente do PT excluiu Dilma, a “gerentona'', do rol de realizações do seu criador. Gleisi enalteceu o que acha que Lula fez sem mencionar o que sabe que Dilma desfez: “Vocês já conhecem o que Lula fez, vocês se lembram do governo dele, era um governo em que havia prosperidade no Brasil, em que as pessoas estavam vivendo melhor, vivendo bem, tínhamos paz social. Só Lula pode trazer isso de novo.”

Gleisi reitetou que o PT não cultiva planos alternativos. Reproduziu algo que escreveu nas redes sociais em resposta ao noticiário sobre o Plano B do PT: “Olha, gente. Aceita que dói menos. Lula vai ser o candidato.'' E insinuou que falta miolos aos magistrados brasileiros. “Se o Judiciário tivesse juízo, porque está vendo o problema que nós temos no Brasil hoje —acho que o Judiciário tinha que se sensibilizar com isso, com o caos social da economia, com tudo—, se tivesse juízo, liberaria o Lula imediatamente, para fazer a disputa à Presidência da República, sem precisar constranger a gente , sem precisar fazer com que Lula tenha que batalhar da prisão a sua candidatura. Liberaria.”

A oradora se absteve de recordar que Lula poderia ter cultivado seus desejos políticos sem precisar constranger a nação com a corrupção que converteu o PT numa máquina coletora de verbas espúrias. Gleisi, aliás, é ré num inquérito da Lava Jato. Seu processo corre no Supremo. Pode ser julgado antes da eleição. JOSIAS DE SOUZA

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