Ciro dá show de marketing de campanha, mas sua visão tem perna bamba
Você pode admirá-lo ou desprezá-lo, mas Ciro Gomes (PDT) deu show de marketing de campanha. No Roda Viva desta semana, enquanto o governo afundava sob o peso dos caminhoneiros, o pré-candidato que pretende liderar as forças de oposição mostrou disciplina ferrenha para apresentar-se como porta-voz da mudança.
Cada mensagem —mesmo quando falsa ou incorreta— foi talhada com cuidado para conquistar o voto do eleitor que está “cansado disso tudo que está aí”. Se alguém descartava a possibilidade de Ciro virar um candidato formidável à Presidência em outubro, precisa pensar de novo.
O trunfo, porém, não foi resultado de ideias e propostas de governo (que só vão aparecer para valer durante o horário eleitoral gratuito).
Ciro saiu vitorioso da jornada no Roda Viva porque encontrou um tom que atende a uma demanda popular e, de quebra, lhe cai bem: o de candidato mais bem qualificado para restaurar a autoridade presidencial num momento em que a população se encontra atordoada pelo desgoverno de seus líderes e à mercê de forças radicais.
Se faltam alimentos nas prateleiras dos supermercados e autoridades veem-se obrigadas a explicar por que seria impossível e indesejável o Brasil assistir a uma “intervenção militar constitucional”, Ciro achou mensagem certeira.
Só que aí começam os problemas. A visão do pré-candidato tem perna bamba. Ciro prometeu restaurar a ordem jogando pelas velhas regras do jogo. Afirmou não ter problema algum em pular na cama com o atraso para formar sua base aliada, usando para isso os instrumentos tradicionais do presidencialismo de coalizão.
Em sua visão, tais regras só trazem problemas quando o presidente em função não sabe usá-las direito. Nada em sua fala denotou assombro com a natureza das regras ou indicou algum tipo de ambição de modificá-las.
De quebra, Ciro fez promessas irrealistas para a economia, requentando teses econômicas que repetidas vezes levaram o país à falência e, no processo, deram força a oligarquias empresariais. Ele demonizou a “ditadura do mercado”, mas suas promessas fariam esse mercado funcionar ainda pior para a maioria dos brasileiros.
Como os congressistas respondem às demandas do eleitor por uma economia arrumada com menor intensidade do que respondem aos pedidos de criação de privilégios por parte de grupos de interesse particularistas, a tarefa de um presidente incapaz de mexer com as regras do jogo e ansioso por aumentar o tamanho da máquina pública já nasce difícil.
A julgar pelo Roda Viva, Ciro tem tudo para competir com força pelo Planalto. Mas sua chance de produzir ordem no processo —ao invés de desordem— é questionável.