Marina, Bolsonaro e Barbosa fazem o discurso do fingimento
or: Reinaldo Azevedo
Publicada: 07/05/2018 - 17:24
A coisa a seu tempo mais divertida e de potencial trágico no debate político em curso é a suposição de que o discurso de moralização da política produz milagres. E, claro!, o mais sensacional deles seria criar uma maioria automática no Congresso, independentemente do atendimento de pleitos políticos destes ou daqueles.
O que há de subjacente nas pré-candidaturas de, vamos lá, Jair Bolsonaro (PSL, Marina Silva (Rede) e Joaquim Barbosa (PSB)? Ora, a suposição de que todos eles governarão com aquilo a que se chamava antigamente “força política”. Assim, nenhum deles precisaria nem de partido nem de base no Congresso. Ou de uma rede, quando menos, de influências, espalhadas Brasil afora. Então vejamos: o PMDB não constituía o núcleo de decisões das respectivas gestões de FHC, Lula e Dilma. E, no entanto, participou de forma decisiva do governo dos três, carregando a herança que vinha lá da redemocratização.
Dados para reflexão. Os peemedebistas estiveram ausentes, como força organizada, do governo Collor e, a partir de um determinado momento, romperam com o governo Dilma. E os dois caíram. Estou, com isso, querendo dizer que o agora MDB é que derruba ou faz governos? Ou que são conspiradores desde que não tenham seus pleitos atendidos? Não! Estou afirmando que o partido está para a estabilidade política mais ou menos como os macacos para a febre amarela: quando estes começam a morrer nos centos urbanos, é sinal de que o mal está rondando e de que é hora de iniciar vacinação em massa.
Ou por outra: o MDB é termômetro, não é causa da febre, à diferença do que faz crer o moralismo tacanho. Se é verdade que o PT é único grande partido militante do país; se é verdade que o PSDB ainda resiste como uma espécie de frente intelectual — caindo pelas tabelas, é verdade — que congrega, vamos dizer, uma certa crença na racionalidade econômica e administrativa, não é menos verdadeiro que o emedebismo é a expressão política de um Brasil profundo que é conservador sem ser virulento. Composição de poder que o exclua e que, portanto, diga “não” às suas exigências para comparecer com seus votos no Congresso tende ao insucesso porque é sinal de que o poderoso de turno perdeu a capacidade de dialogar com parte expressiva do país real, que não aparece nas redes sociais ou nos meios de comunicação influentes. Governo assim cai.
Essa gente pretende, afinal de contas, governar com quem se eleita? Havendo nesse grupo um vitorioso, o caminho certo será o loteamento do governo. E em piores condições, é evidente, do que quem faz uma aliança. Continua a ser necessário obter três quintos da Câmara e do Senado para aprovar uma Emenda Constitucional. O voluntarismo desses bacanas faz supor que a sua eleição é, por si, a revolução. Afirmar isso é uma mentira, e o político que o faz está de má-fé. Crer nisso é uma tolice.
Ora, Lula, que, à época, era Lula foi buscar o apoio do então PMDB. E olhem que chegou ao poder com um número expressivo de parlamentares no Congresso, com o domínio da máquina sindical e com uma influência entre ONGs e as ditas organizações da sociedade civil sem paralelo. O mesmo fez FHC, aí na liderança intelectual do plano que impediu que o país mergulhasse no abismo: o Real. Estes de agora, de uma mediocridade assombrosa quando comparada aos outros, prometem ao eleitor que chegarão lá metendo o pé na porta?
Você quer se enganar? Bom proveito! Mas estão mentindo pra você. E ponto.