Estruturalmente, as circunstâncias jogam a favor de Alckmin. A questão agora é saber se ele consegue reunir forças que estão dispersas
Por: Reinaldo Azevedo
Publicada: 23/04/2018 - 8:06
O discurso contra a política exercitado por Marina Silva (Rede), Joaquim Barbosa (PSDB) e Jair Bolsonaro (PSL) é, a um só tempo, a maior força e a maior fraqueza dessas candidaturas. De saída, ele dificulta a composição com outras legendas, que não são bobas nem nada. Caso ajudem na eleição, na vitória do candidato em questão, sabem que não estará garantida a sua presença no poder. Convenham: nenhuma das legendas que estão aí à solta, à procura de um nome em que se escorar, poderia reivindicar o título de Academia de Platão. Por que dariam o seu contado dinheirinho da campanha eleitoral a figuras com esse perfil?
Assim, é melhor investir, na hora da composição, em quem faz a política dita tradicional. Se tudo der errado e triunfar um outsider, aí basta sentar e ficar esperando: a tentativa de composição de uma maioria no Congresso se impõe. E concessões terão de ser feitas. Ou não há governo. Com clorofila ou sem clorofila; com revólver na cinta ou sem revólver na cinta; com discurso irado ou de paz, Marina, Bolsonaro e Barbosa não conseguiriam governar sem o Congresso. E ainda bem que é assim: querer administrar um país sem Parlamento, ou reduzido ao silêncio obsequioso, é tentação de ditadores, não de democratas.
E é isso que pode, sim, levar Geraldo Alckmin (PSDB), ex-governador de São Paulo, ao segundo turno da eleição — o que, dados os números de agora, parece difícil. Mas a disputa não é agora. Fazer política tradicional — entendida a expressão aqui como “governar com os aliados” — não é e está longe de ser sinônimo de corrupção. Na verdade, trata-se do outro nome da estabilidade. Temos a evidência diante do nariz: Michel Temer é certamente o presidente mais operoso da história da República em um ano e meio. Não se trata de opinião, mas de fato. E ele só conseguiu aprovar aquelas medidas todas no Congresso, além de resistir a duas tentativas de golpe, porque sabe dialogar com o Legislativo.
Notem que Bolsonaro e Barbosa, ainda que falando por vias indiretas, dão a atender, sim, que bastará a vontade para fazer. E Marina não tem receio de deixar claro que o seu aliado principal será o Partido da Polícia. E essa é uma das razões de a sua coligação correr o risco de ser menor do que a de Guilherme Boulos (PSOL).
Hoje é difícil, mas não se descarte: uma eventual aliança do PSDB com o PMDB conferiria ao centro um potencial imenso. Estruturalmente, as circunstâncias jogam a favor de Alckmin. A questão agora é saber se ele vai conseguir reunir as forças que estão dispersas. Em nome da estabilidade do sistema democrático. E não se iludam os esquerdistas autênticos: caso o PT consiga emplacar um candidato, vai buscar ampliar a aliança o máximo possível para governar.
“E se vencer, Reinaldo, um dos candidatos da antipolítica, caudatários maiores ou menores do espírito lava-jatista?”
A resposta é simples: caso se leve a sério, não governa; caso governe, não se leva a sério. Nessa segunda hipótese, a constituição de uma base de apoio passará por critérios bem mais sórdidos do que os habitualmente empregados pela dita “velha política”. Afinal, ela terá de ser formada em condições bem mais hostis do que as de conformação de uma aliança. A crise estará garantida de qualquer modo; o que muda é só a intensidade.