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Lula deixa herdeiros, mas centro tem potencial

Mauro PaulinoAlessandro Janoni
SÃO PAULO

A decisão do STF em negar o habeas corpus ao ex-presidente Lula (PT) e sua prisão transformam a eleição presidencial deste ano no pleito mais imprevisível pós-redemocratização. 

O Datafolha já havia mostrado em sua última pesquisa, feita em janeiro, o crescimento expressivo das taxas de voto branco e nulo quando o petista não era relacionado na lista de candidatos.

 No primeiro turno, o índice alcançava até 32% em simulação onde Jair Bolsonaro (PSL) assumia a liderança com 20% das menções. Nessa situação, o deputado era seguido por Ciro Gomes (PDT) e Geraldo Alckmin (PSDB) com 13% e 11% das intenções de voto, respectivamente.

Quando Marina Silva (Rede) aparecia como candidata, votos brancos e nulos caíam para 28% ou 24%, dependendo da combinação de candidatos apresentados.

Isso porque, apesar de um conjunto importante dos lulistas (35%) optar por não votar em ninguém na ausência do ex-presidente, uma parcela equivalente (33%) se dividia entre seus ex-ministros Marina (18%) e Ciro (15%).

A migração de votos de Lula para Alckmin, em janeiro, chegava no máximo a 9% em situação onde Marina era excluída da disputa. Nesse caso, além dos brancos e nulos, Ciro Gomes era o maior herdeiro do petista.

Apesar disso, o tucano, considerado uma opção ao centro do espectro político, é muito menos rejeitado pelos eleitores petistas do que Jair Bolsonaro (PSL), 32% contra 42% respectivamente.

O maior desafio do governador de São Paulo é conquistar eleitores fora do Sudeste.

Há também espaço para eventuais substitutos do ex-presidente dentro de seu próprio partido.

Lula como cabo eleitoral, tem forte apelo sobre a maioria de seus seguidores, especialmente na parcela mais fiel, que corresponde a 35% da população brasileira —nesse estrato, 67% afirmavam votar com certeza em um candidato apoiado pelo petista.

Os nomes já testados, como os de Fernando Haddad e Jaques Wagner dependem de comunicação para alavancar alcance nacional e tentar minimizar insatisfações sobre suas gestões locais.

A questão é o quanto essa comunicação poderia ser explorada em sua totalidade, considerando os limites impostos pela pena de Lula.

Sobre outros possíveis candidatos, Joaquim Barbosa, que acabou de se filiar ao PSB, tinha, na pesquisa de janeiro, 5% das intenções de voto. O ponto forte do ex-presidente do STF é seu recall junto aos mais escolarizados, onde chega a dobrar suas intenções de voto.

Seu desafio é popularizar sua candidatura, atraindo o perfil do eleitor lulista, segmento onde em janeiro, diante da ausência do petista, só conseguia 3%.

O ex-ministro Henrique Meirelles (MDB), com 2% das intenções de voto no total, tinha desempenho tão fraco quanto o de Barbosa entre os que na ocasião apoiavam o petista.

Mas ninguém supera Michel Temer (MDB) em rejeição nesse estrato. Entre os lulistas mais fiéis, o atual presidente nem pontuava na pesquisa de janeiro e a grande maioria do segmento dizia que não votaria no emedebista de jeito nenhum.

No entanto, vale a ressalva de que qualquer análise atual sobre resultados de pesquisas feitas antes da votação no STF e prisão do presidente, mesmo nas situações onde o nome de Lula era excluído da disputa, devem ter leitura cautelosa. 

O impacto das imagens da prisão de Lula e de seus possíveis desdobramentos na opinião pública, por seu ineditismo e força simbólica, devem provocar mudanças importantes no quadro.

Na pesquisa de janeiro, apesar de 53% acharem que ele deveria ser preso, 56% duvidavam que isso aconteceria de fato. Além de dividir as opiniões, mesmo na prisão, Lula permanece como personagem central da eleição. FOLHA DE SP

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