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Quando volta o povo à rua? O GLOBO

Marchamos, em 2018, para uma eleição de poucos sustos. Aí estão todas as previsões quanto à opção de esquerda, na tranquilidade da maioria de Lula, acima dos 50% de intenções de voto, num eventual segundo turno. A queda petista com a Operação Lava-Jato de pronto se amenizou, neste grupo político pouco sensível ao impacto da corrupção que atinge os estratos de maior renda.

 

As classes médias de voto petista veem-se, também, imunes a esse obstáculo eleitoral, persistindo na sua memória política, sobretudo, no que diz respeito aos grupos de menor poder aquisitivo, fiéis ao seu primeiro voto, e a manter, hoje, fechado o “povo de Lula”. E, de logo, vem a interrogação prospectiva, tanto o petista não tem possíveis substitutos, nem há uma renovação institucional, no assimilacionismo irrevogável da legenda e seu criador.

 

Nos contrabalanços eleitorais, o centro tenta uma inédita integração política, com Alckmin, na força do governo de São Paulo, intentando a conjugação do PSDB e do PMDB. Só se delineia, ao mesmo tempo, num somatório para o futuro, a agregação de João Doria, na pujança eleitoral da prefeitura da capital paulista.

 

Significativa, ao mesmo tempo, é a inexistência ou fraqueza de outras candidaturas de governadores, diante dos atuais referenciais de voto, à margem dos clássicos blocos regionais.

Inédita é a coligação das direitas, juntando Bolsonaro e o alinhamento clássico do voto conservador à explícita e ostensiva aliança confessional dos evangélicos, como todo o aparelho de sua ação midiática, a amadurecer a filiação política de viés explicitamente religioso.

 

Mal se percebe ainda a força desse impacto, a partir de lideranças como a de Paiva Neto, numa inédita e inquietante associação do credo ao voto, já prenunciada nos últimos pleitos municipais. Essa nova mobilização política é a contrapartida ao desencanto generalizado com a ida às ruas, e o pressentido voto em branco, que, hoje, ameaça o desencanto sobrevindo ao exercício ativo da cidadania.

O acúmulo de novos partidos exprime o desgosto com a presente militância política. Não importa a sua arregimentação emergente; cada um deles vem carregado do utopismo da diferença, na invocação do “novo” nas suas legendas e convocatórias.

 

Quando volta o povo às ruas? A única previsão imaginável é na eventual prisão de Lula. Mas, então, iremos ao teste avassalador da mantença da nossa própria democracia, edificado em estrito paralelismo com o PT, na conquista decisiva de nossa maturidade institucional.

 

Candido Mendes é membro do Conselho das Nações Unidas para a Aliança das Civilizações, da Academia Brasileira de Letras e da Comissão Brasileira Justiça e Paz.




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