O distritão melhora a política? Sim
O distritão melhora a política? O projeto voltou ao debate no Congresso. Miro Teixeira (Rede-RJ) diz por que o defende.
ÉPOCA – Por que o distritão é melhor?
Miro Teixeira – Você pode ter um tempo mais bem aproveitado na propaganda eleitoral de rádio e televisão. Pode ter uma campanha mais barata, porque não precisa encher uma chapa a fim de reunir votos para fazer quociente eleitoral. Hoje, cada partido lança um número de candidatos 50% maior que o número de vagas.
ÉPOCA – Reduzir o número de candidatos não seria possível com cláusula de barreira e a limitação do fundo partidário?
Miro – Nós aprovamos a cláusula de barreira, mas o Supremo a julgou inconstitucional. Sem a cláusula, agora temos 40 partidos.
ÉPOCA – Limitar o número de candidatos não seria uma alternativa melhor?
Miro – Eu aceitaria todas as suas sugestões. Mande convertê-las em Projeto de Lei. Entre os projetos existentes no Congresso, estávamos caminhando para o voto em lista. Voto em lista é uma maneira de levar, para o Parlamento, pessoas sem voto. Sou aberto a outro sistema, se provarem que esse aí [distritão] resultou em algo pior que o atual. Eu duvido. Não há nada pior que um sistema com quociente eleitoral. O quociente leva à ilusão de que, votando em um candidato, você elege aquele candidato.
ÉPOCA – O distritão favorece a reeleição de deputados acusados de corrupção?
Miro – O voto em lista faria isso. Distritão é o contrário. Não tem ninguém escondido. O eleitor escolhe o candidato e lhe dá o voto. Em dez vagas, entram os dez mais votados.
ÉPOCA – Ao individualizar os votos, o sistema eleitoral não acaba por esvaziar – ou, ao menos, não estimular – a identidade dos partidos?
Miro – Os partidos terão de se dedicar à escolha dos candidatos que representem parcelas da população. Acho até que dá para haver eleições primárias. A renovação quem dita é o povo. Hoje você tem um sistema que renova o quê? Metade. Quando você olha os renovados, são quase todos parentes de ex-parlamentares. Olhe os sobrenomes!
ÉPOCA – Ao depender mais de candidatos individuais, o partido não ficaria mais dependente dos tais sobrenomes e menos da ideologia?
Miro – Pode até ser que sim. Mas o voto fica só para o candidato, não passa para outros.
ÉPOCA – Como isso ajudaria a fortalecer a identidade dos partidos?
Miro – Os partidos cuidarão de seu próprio fortalecimento, ao escolher pessoas de qualidade. Com as regras de hoje, que partido se afirmou como autor de uma ideia? A população tem um conceito negativo. O distritão é uma tentativa de fazer, de fato, partidos políticos.
ÉPOCA – Países com partidos fortes, como Alemanha e Estados Unidos, adotaram outros sistemas eleitorais. Só quatro adotam o distritão. Por que ele seria bom para o Brasil?
Miro – Cada país tem seu motivo e seu critério. Não fico procurando modelos em outros países, porque senão eu teria de jogar no lixo a máquina de votar brasileira. Ela só existe aqui e nem por isso é ruim.