Um novo jeito de fazer política - ISTOÉ
Imagine um partido diferente de todos os outros. Que não gosta de dinheiro público – a ponto de dispensar o fundo partidário de R$ 1,9 milhão, pouco se importa com tempo de televisão, é financiado com o dinheiro dos próprios filiados, em sua maioria formada por profissionais liberais abnegados, e que determina que seus parlamentares abram mão de regalias inerentes aos cargos, como carros oficiais e motoristas. Talvez você ainda não o conheça, mas ele já existe e há pouco mais de um ano. Trata-se do Partido Novo.
Nas eleições de 2016, mesmo com um discurso que provoca repulsa ao político tradicional, elegeu quatro vereadores e já conta com 10 mil filiados – dos quais sete mil depositam regiamente quantias para sustentar a nova legenda. Agora, o objetivo é difundir suas idéias pelo País para ganhar capilaridade e musculatura política visando ao próximo pleito, quando pretende lançar um candidato à Presidência da República. O partido, inclusive, tem um nome na manga: o empresário Flávio Rocha, da Riachuelo, mais ativo do que nunca nas redes sociais. “Excelente gestor, mas ainda vamos consultá-lo”, limita-se a dizer o presidente do Novo, João Dionísio Amoêdo, que para fundar a sigla fez um aporte de R$ 4 milhões do próprio bolso.
O partido defende bandeiras liberais, como a redução de impostos e Estado mínimo, e prega mudanças profundas na maneira de fazer política no Brasil. A começar com a redução no número de partidos. Amoedo acredita que, com a limitação de recursos públicos destinados às agremiações, elas seriam sufocadas. “Os partidos nascem por causa dos privilégios e do tamanho da máquina pública. Apesar de termos 35 partidos, eles não representam o povo”, afirma. A legenda também é frontalmente contra o voto em lista fechada, defensor incondicional da Lava Jato e da revisão do foro privilegiado, pautas em consonância com o clamor das ruas. É nesse embalo, e com a constatação de que a população está cada vez mais enfastiada da chamada velha política, que o Novo espera alçar vôos mais ambiciosos. “O partido nasceu com o objetivo de melhorar a vida das pessoas. Para isso, é necessária a redução da carga tributária e da área de atuação do Estado, para que (o governo) possa focar nas áreas principais: saúde, educação e segurança. Essa será a melhor forma para o País crescer e gerar riqueza”, avalia Amoedo.
Com um tempo de TV de impraticáveis cinco segundos – foi o período a que teve direito a candidata a prefeito do Rio de Janeiro Carmem Miguete (RJ) em 2016 –, o Novo explora as redes sociais para atrair seguidores. A ideia é fixar o discurso de que, para mudar o modelo atual de política no Brasil, que não cresce e propicia a corrupção, é preciso participar da política. “O cenário atual tem contribuído para as pessoas estarem mais abertas ao novo”, afirma Amoêdo.
Seleção
Recentemente, os líderes da legenda decidiram abrir um processo seletivo a fim de selecionar novos quadros. A triagem procura identificar se a pessoa está alinhada com o Novo, se conhece o estatuto e quais são os planos dela na política. Tudo isso para consolidar o compromisso com o eleitor de trazer gente séria, competente e em sintonia com a cartilha na qual reza a nova sigla. “O partido é uma instituição não uma legenda. O novo é uma instituição que tem princípios, valores e uma cultura”, frisa Amoêdo.
Para Amoêdo, a Operação Lava Jato tem contribuído para o surgimento de agremiações como o Novo, pois, segundo ele, explicitou vícios do sistema, como o de levar os mesmo políticos a se perpetuarem no poder, além é claro de escancarar os métodos de corrupção. “Nós sempre questionamos o modelo de estado, que concentra muito poder nos representantes. E a Lava Jato tem mostrado isso”, afirma.
O desafio do Novo é manter o rigor nos propósitos, sem se deixar seduzir por conveniências políticas de ocasião. Vale lembrar que certos partidos brasileiros nasceram e floresceram assentados no discurso fácil e atraente da mudança. Para alcançar o poder a todo custo, no entanto, não tiveram pudores em trair seus ideais. O resto já é história.