Queda do PT foi menor onde Bolsa Família é mais presente
RIO - Partido que mais perdeu prefeituras na comparação com a eleição anterior, o PT se livrou de uma queda ainda maior graças ao desempenho nos municípios do Nordeste com grande incidência do Bolsa Família. Analistas políticos avaliam que, apesar da legenda também ter encolhido na região, a força do programa de distribuição de renda diminuiu o tamanho da derrota.
Levantamento do GLOBO com base no resultado das eleições mostra que a derrota nos municípios do Nordeste em que mais da metade da população está inscrita no programa foi bem menor do que no resto do país. Nas cidades que concentram os beneficiários, o partido viu o número de prefeituras administradas cair 28% em relação a 2012. No país inteiro, o tombo foi de 60%.
REGIÃO COM MAIS BENEFICIÁRIOS
O Nordeste concentra metade dos beneficiários do programa. O recorte regional do resultado das urnas mostra que a queda de prefeituras na região foi de 40%. Mesmo sendo um desempenho negativo, foi o melhor na comparação com as outras regiões. No Centro-Oeste, a redução foi de 86%, enquanto no Sudeste perdeu três quatros de sua força e sofreu sua maior derrota — a perda da prefeitura de São Paulo para o PSDB.
— O discurso que tenta associar o PT à corrupção e à crise tem menos sucesso nas regiões em que houve mais políticas sociais. Se você não contava com nada e alguém te oferece alguma coisa, a lógica é que você estabeleça alguma proximidade — analisa o cientista político Eurico Figueiredo, da UFF.
— O Bolsa Família, assim como a aposentadoria, é um beneficio importante para um região carente. Esses dois se configuram como as principais fontes de renda de muitos municípios do Nordeste. Eles fazem girar a economia local — completa Paulo Baía, cientista político da UFRJ.
MAIOR PRESENÇA NA BAHIA
No Nordeste, o PT manteve 43 prefeituras e conquistou outras 70. A maior vitória aconteceu em Lauro de Freitas, na Bahia, estado administrado pelo partido desde 2006 — primeiro com Jaques Wagner, depois com Rui Costa, eleito em 2014. O município baiano é o único administrado pelo partido na região com mais de cem mil habitantes, segundo o IBGE.
É também na Bahia onde o PT tem o maior número de prefeituras na região, ainda que tenha passado de 92 para 39 — em 21 delas, mais da metade da população é contemplada com o Bolsa Família.
O benefício é dado a famílias em situação de extrema pobreza ou de pobreza, cuja renda mensal não ultrapassa R$ 170 por pessoa. O piso mensal é de R$ 85, mas pode passar de R$ 300 devido a acréscimos em caso de gestantes, crianças e adolescentes.
No Piauí, também governado por um petista (Wellington Dias, que venceu no primeiro turno em 2014), o resultado vai na contramão do verificado no país. A sigla passou de 21 para 38 prefeituras. O crescimento foi na esteira do Bolsa Família: 85% das cidades onde o PT venceu têm a maioria da população no cadastro do programa.
— Nos Piauí e na Bahia, além das políticas sociais que prevalecem, a presença de governadores do PT faz com que existam mais possibilidades de contraponto ao discurso antipetista. Óbvio que há um limite: é difícil para um governo suavizar o impacto de questões como aumento do desemprego, por exemplo. Mas a presença desses governos aumenta a possibilidade de contrapontos — diz o cientista político Marcus Ianoni, da UFF.
A lista de cidades que serão governadas por petistas no Nordeste indica uma mudança no perfil das vitórias do partido: enquanto perde espaço em grandes centros, transfere parte de seus sucessos para municípios de menor poder econômico, cuja população tende a ser mais dependente do Bolsa Família. O PT venceu as eleições em 70 municípios onde não tinha prefeito eleito em 2012. Em 75%, a maioria da população é beneficiária do programa. O índice fica acima da média da região, onde dois terços das cidades têm mais de metade dos seus habitantes recebendo o benefício.
Por outro lado, o PT perdeu o comando de todas as sete cidades com mais de cem mil habitantes onde havia vencido em 2012. Exceto por Itapipoca (CE), em nenhuma delas o percentual de beneficiários do Bolsa Família ultrapassa a casa dos 30%. A maior derrota foi em João Pessoa (PB), onde o prefeito Luciano Cartaxo foi reeleito em primeiro turno, mas após migrar para o PSD. Já em Vitória da Conquista e Camaçari, terceira e quarta cidades mais populosas da Bahia, nem a participação do governador Rui Costa na campanha evitou derrotas dos petistas. O GLOBO