A cabeça do eleitor - FÁBIO CAMPOS
Em um contexto político repleto de variáveis, poucos se arvoram a fazer projeções acerca dos resultados eleitorais. Em Fortaleza, por exemplo, o quadro da disputa só permite uma aposta com grandes chances de ser certeira: a eleição será decidida em dois turnos. Quatro candidaturas são as francas favoritas para alcançar as duas vagas da segunda etapa da disputa: Roberto Cláudio (PDT), Luizianne Lins (PT), Heitor Férrer (PSB) e Capitão Wagner (PR).
Às vésperas da campanha, não há pesquisas disponíveis para o distinto público. O quadro político do País – que adiou ao limite o debate eleitoral – e a crise econômica provocaram uma retração no mercado de pesquisas de opinião. No entanto, os partidos encomendaram suas próprias consultas. Pouco se sabe delas, mas todas apontam uma disputa dificílima.
A campanha municipal vai ocorrer ainda sob os efeitos da hecatombe política que provocou o processo de impeachment de Dilma Rousseff. Durante meses a fio a Lava Jato e seus desdobramentos foram as pautas preponderantes na política nacional. Entre suas consequências, a aprovação de uma minirreforma eleitoral que diminuiu o período da campanha, cortou o tempo de exposição dos candidatos na TV e proibiu a doação de dinheiro por parte das empresas.
Não foi à toa que o presidente do Tribunal Superior Eleitoral (TSE), ministro Gilmar Mendes, disse que essa minirreforma, principalmente o fim do financiamento privado para as campanhas, sem que houvesse mudanças nos sistema eleitoral, foi um “salto no escuro”. Para Mendes, a eleição municipal deste ano será um “experimento institucional”.
Após meses seguidos de bombardeio de fatos, notícias e informações nada alentadoras para políticos e partidos, não se sabe ao certo o que se passa na cabeça dos eleitores. Se os partidos e os políticos já eram vistos com muita desconfiança pela maioria, os acontecimentos empurraram a avaliação negativa desses atores para o fundo do poço. É esse o público, ressabiado e desconfiado, que será agora bombardeado com pedidos de voto nesse “experimento institucional”.
Por essas e por outras que uma das metas prioritárias das estratégias eleitorais será diminuir a rejeição dos candidatos ou não deixar que esta se agregue às suas trajetórias. Sabe-se que este é principal problema de pelo menos dois concorrentes. No caso, a ex-prefeita Luizianne Lins e o prefeito Roberto Cláudio. É um problema menos grave para o Capitão e, até aqui, não é um problema para Heitor Férrer.
Numa campanha de tiro curto, tudo fica mais complicado. O tempo é estreito para candidatos que precisam conquistar a simpatia do eleitorado e para os que precisam diminuir suas arestas com o mesmo. Mais ainda se as circunstâncias políticas do País aumentaram a rejeição à política, aos políticos e aos partidos.
Os candidatos irão se mover em um território pouco amigável, movediço, com um eleitor frio, envolvido por uma crise econômica sem parâmetro recente, preocupado em manter seu emprego ou arranjar um. Agosto chegou. É o mês do efetivo início das campanhas. OPOVO