Goiânia tem blitz de Bolsonaro e Caiado para alavancar candidatos na reta final
Ranier Bragon / FOLHA DE SP
A eleição para a Prefeitura de Goiânia chega à reta final com o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) e o governador do estado, Ronaldo Caiado (União Brasil), intensificando o corpo a corpo para tentar alavancar seus candidatos, em uma disputa acirrada que envolve, por ora, ao menos quatro nomes competitivos.
Bolsonaro foi a um comício na capital de Goiás na quinta-feira da semana passada (24) em apoio ao nome do ex-deputado estadual Fred Rodrigues (PL), para quem já gravou vários vídeos dizendo ser ele, Fred, o verdadeiro e único candidato da direita na capital goiana.
Na segunda-feira (30) foi a vez da ex-primeira-dama Michelle Bolsonaro desembarcar na cidade para gravar apoio e participar de ato em prol do candidato.
"Queremos sim, Fred, trabalhar, queremos sim te eleger como o primeiro prefeito verdadeiro de direita. Nós estamos vendo tantos oportunistas, mas sempre falo que a verdade prevalecerá", disse Michelle no evento.
Já Caiado promoveu no domingo (30) um passeio ciclístico ao lado de seu apadrinhado, o empresário e ex-deputado federal Sandro Mabel (União Brasil). No dia seguinte, os dois estiveram juntos novamente em uma carreata na zona sul da cidade. Nesta quarta, visitaram a rua 44, famoso polo local de comércio de roupas.
Caiado e Bolsonaro tem um histórico de afagos e atritos. A atual disputa pelo voto conservador de Goiânia tem como pano de fundo também a busca de protagonismo do governador nos próximos anos, já que ele manifesta o desejo de disputar o posto de representante da direita —Bolsonaro está inelegível— na possível disputa contra Lula (PT) em 2026.
Uma derrota na capital do estado reduziria consideravelmente o capital político de Caiado.
Nos debates, na propaganda eleitoral na TV e nas redes sociais Fred Rodrigues e seus aliados regionais —o principal deles, o deputado federal Gustavo Gayer (PL)— têm direcionado a artilharia contra Mabel.
Fred tem 39 anos e tentou ser vereador em 2020, sem sucesso. Foi eleito deputado estadual dois anos depois, mas teve o mandato cassado em 2023 por irregularidades na prestação de contas da campanha anterior.
Os bolsonaristas batem repetidas vezes na tecla de que Mabel não seria um candidato genuinamente de direita e tentam colar nele a estrela vermelha do PT, já que no passado chegou a elogiar o governo Dilma Rousseff (PT).
No comício da semana passada, além de se referir a Caiado como "governador covarde", Bolsonaro chamou Mabel de candidato da "rosquinha" que já elogiou Dilma.
Em live nesta quarta (2), na qual pediu votos para uma série de candidatos pelo país, o ex-presidente falou do cenário de Goiânia e disse: "O Fred é nosso candidato. Vamos lá passar o trator em cima do candidato do governador".
Bolsonaro, porém, negou que tenha chamado Caiado de covarde na semana passada e disse que estava se referindo a todos os governadores que adotaram medidas restringindo a circulação na época da pandemia.
Mabel, diante dos ataques, veiculou propaganda em que afirma ter liderado a direita em Goiás para destituir Dilma, "que estava acabando com o país". "Sempre fui de direita, sempre em defesa da família e da pátria."
O empresário, que tem 65 anos, traz no sobrenome a empresa de biscoitos da família, vendida à Pepsico em 2011, que a revendeu em 2022 à Camil.
Ele foi deputado federal por quatro mandatos, de 1995 a 2015, além de ter sido assessor especial da Presidência no governo de Michel Temer (2016-2018). Com bens declarados de R$ 313 milhões, é o mais rico dos candidato nas 103 maiores cidades do Brasil (com mais de 200 mil eleitores).
Nos eventos que participou nos últimos dias, Caiado voltou a bater na tecla de que Mabel é o gestor mais preparado entre os candidatos.
Goiânia registrou no segundo turno de 2022 64% dos votos válidos para Bolsonaro e 36% para Lula.
A fatia do eleitorado conservador é disputada ainda por outro candidato de centro-direita, o empresário e senador Vanderlan Cardoso (PSD), que já disputou a prefeitura da cidade em 2020, perdendo no segundo turno para Maguito Vilela (MDB).
Sem padrinhos, o senador tem caído nas pesquisas, mas ainda está no páreo para uma vaga no segundo turno.
A única candidata de esquerda na majoritariamente conservadora Goiânia é a deputada federal Adriana Accorsi (PT), que é filha de um ex-prefeito da cidade e delegada da Polícia Civil.
Ela tem usado o nome e a imagem de Lula, mas de maneira muito mais discreta em relação ao massivo uso dos padrinhos pelas campanhas de Mabel e Fred.
No segundo pelotão de candidatos aparecem o jornalista Matheus Ribeiro (PSDB) e o prefeito de Goiânia, Rogério Cruz (Solidariedade), radialista e pastor da Igreja Universal. Ele assumiu a função em janeiro de 2021, ainda no primeiro mês de mandato de Maguito Vilela, que morreu vítima de complicações da Covid-19.
Cruz enfrentou desgastes devido, entre outras, a crises na coleta de lixo e na área da saúde na cidade, o que levou o seu próprio partido, o Republicanos, a vetar a legenda para a sua reeleição.
O prefeito migrou então para o Solidariedade, mas até o momento tem ido mal nas pesquisas. Levantamento da Quaest divulgado no início de setembro mostrou que 53% da população rejeita sua administração.
Caiado e Bolsonaro se enfrentam ainda nas outras duas maiores cidades de Goiás, as únicas que além de Goiânia com mais de 200 mil eleitores e que, portanto, podem ter segundo turno.
Em Aparecida de Goiânia, Caiado tem como candidato Leandro Vilela (MDB). Bolsonaro, Professor Alcides (PL). Em Anápolis, Caiado caminha para sofrer uma derrota. Sua candidata, Eerizania Freitas (União Brasil) não decolou em pesquisas. O nome de Bolsonaro, Marcio Correa (PL), rivaliza com o petista Antonio Gomide.