Voto útil
O voto útil, esse nosso velho conhecido nas eleições, responsável por tantas surpresas nas últimas campanhas eleitorais, volta a dar as caras nas duas maiores cidades do país, São Paulo e Rio de Janeiro. A mais recente foi a vitória de Wilson Witzel para o governo do Rio. Para evitar que Romário pudesse ir para o segundo turno contra Eduardo Paes, muita gente pregou o voto útil em Witzel na ilusão de que seria derrotado no segundo turno com facilidade. Não contavam com a tempestade perfeita que vinha a reboque do fenômeno Bolsonaro naquele 2018, que transformou aquele juiz desconhecido em um fenômeno, passageiro felizmente.
Ao mesmo tempo que, no Rio de Janeiro, o reconhecimento de Ramagem como candidato apoiado por Bolsonaro o leva a melhorar de posição, em São Paulo os candidatos da direita dividem o eleitorado bolsonarista e caminham de maneira quase independente nos últimos dias de campanha, sem que o ex-presidente tente intervir.
À esquerda, também o presidente Lula se afasta da candidatura de Boulos, certo de que dificilmente terá chance de ver seu candidato vencer a disputa, mesmo que vá para o segundo turno. O problema da esquerda paulistana é não ter representante no segundo turno, o que seria uma derrota de grandes proporções. A disputa acirrada pelo segundo turno levou a que um grupo de artistas e intelectuais divulgasse texto defendendo o voto útil a favor de Boulos, para impedir que a direita leve seus dois candidatos ao segundo turno.
Esse voto útil paulistano ataca diretamente a candidata Tabata, que está com 11%, segundo a pesquisa Quaest divulgada ontem. Por sua vez, a candidata do PSB, que tem na esquerda uma rejeição forte, faz campanha pelo voto útil afirmando que somente ela pode derrotar Boulos no segundo turno. A performance de Tabata na campanha em si, e em especial nos debates, mostra como a esquerda está defasada em suas escolhas. Tem pouca chance de ter sucesso desta vez, mas fincou definitivamente sua bandeira como uma das boas revelações para a renovação da política brasileira.
No Rio de Janeiro, embora a situação do prefeito Eduardo Paes seja ainda tranquila para vencer no primeiro turno, o crescimento da candidatura Ramagem traz o fantasma da mudança de ventos na última semana da campanha. A ponto de uma campanha a favor do voto útil em Paes ser desencadeada nas redes sociais, contra a candidatura da esquerda Tarcísio Motta, que tem aparecido estagnado nas pesquisas de opinião mais recentes.
Embora o PT apoie a reeleição de Eduardo Paes, o candidato do PSOL tentou a campanha inteira atrair os votos da esquerda para si, sem renegar Lula. Até agora, no entanto, os que votaram em Lula no segundo turno da eleição presidencial estão indo majoritariamente para Eduardo Paes, e é possível que a campanha de voto útil tenha êxito entre a esquerda carioca para impedir que Ramagem consiga ir ao segundo turno.
O ex-presidente Bolsonaro, mesmo sem ter, como em São Paulo, divisão na direita, não se dedicou à campanha de Ramagem, provavelmente cheirando a derrota que está por vir. Os dois líderes populares pressentem derrotas em seus domínios eleitorais e procuram desvencilhar-se delas, como se fosse possível. Os dois, em momentos diversos, anunciaram que as eleições de domingo seriam um embate entre direita e esquerda representadas por ambos.
Levantamentos preliminares indicam que a direita terá uma vitória importante no quadro nacional. A presença de Marçal, no entanto, vitorioso tanto quanto Tabata na esquerda mesmo que não vença, deixa o futuro incerto na direita. O brilho de Tabata e a vitória esmagadora que seu namorado, o prefeito do Recife, João Campos, certamente terá farão com que o PSB ganhe mais força no campo da esquerda.