Eleição em São Paulo tem reta final sem Lula e Bolsonaro e expectativa de polarização no 2º turno
Por Bianca Gomes e Zeca Ferreira / O ESTADAO DE SP
A polarização entre o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL) não tem dado o tom da reta final da eleição para a Prefeitura de São Paulo. Ao contrário, os dois padrinhos políticos estiveram ausentes da capital paulista nos últimos dias. Lula, que viajou ao México neste domingo, 29, cancelou uma agenda que faria ao lado de Guilherme Boulos (PSOL) neste fim de semana, frustrando a campanha do psolista. O ex-presidente, que esteve em São Paulo pela última vez no dia 7 de setembro, tem rodado outros Estados do País para pedir voto a aliados.
Tanto a campanha de Nunes quanto a de Boulos já veem um segundo turno entre os dois como o cenário mais provável. As pesquisas de tracking realizadas pelas equipes nos últimos dias reforçam essa expectativa, com Pablo Marçal (PRTB) numericamente atrás dos dois. Nesse cenário, as campanhas apostam que a polarização poderá ganhar força na segunda fase da disputa municipal.
Apesar de o entorno de Boulos considerar que uma presença mais intensa de Lula em São Paulo seja fundamental para conquistar votos na periferia, onde Nunes tem ganhado terreno, membros da campanha psolista avaliam também que esse movimento pode ser adiado para o segundo turno, uma vez que há confiança de que o nome do PSOL deverá seguir na disputa. Além disso, interlocutores de Boulos afirmam que, considerando o perfil da cidade, dificilmente haverá dois candidatos da direita no segundo turno da disputa.
Integrantes do governo Lula afirmam que a ausência do presidente nas carreatas de Boulos que ocorreram neste sábado, 28, nas zonas sul e leste de São Paulo, está relacionada, em parte, à avaliação de que sua presença não é essencial neste momento da campanha. Inicialmente, estava previsto que Lula participaria de dois eventos com Boulos. Mas o Palácio do Planalto reconsiderou sua participação, tendo como principal justificativa a viagem dele para o México neste domingo, para acompanhar a posse de Claudia Sheinbaum, primeira mulher eleita presidente do país latino-americano.
A decisão de cancelar a presença de Lula nos eventos de Boulos também levou em conta a preservação da saúde do presidente, de 78 anos, que retornou há poucos dias de uma viagem a Nova York. Além disso, Lula ainda deve se reunir com o ministro da Fazenda, Fernando Haddad, para discutir a regularização das casas de apostas esportivas online, conhecidas como bets.
A campanha de Boulos afirma que espera a presença do presidente em um evento na véspera do primeiro turno, no dia 5 de outubro. Já para o segundo turno, é esperado que Lula participe de forma mais ativa do pleito – ainda que assessores de Boulos ponderem que a participação do mandatário dependerá da agenda presidencial. Boulos aposta justamente nessa participação de Lula para ampliar sua intenção de voto entre o eleitorado de baixa renda. Segundo a última pesquisa Datafolha, divulgada na quinta-feira, 26, Nunes aparece à frente nesse segmento, com 32%, ante 21% do candidato do PSOL.
Aliados de Bolsonaro, por sua vez, garantem que ele não planeja pisar na capital paulista antes do primeiro turno. Mas se Nunes avançar para o segundo, o ex-presidente “vai entrar pesado” na campanha, disse um aliado próximo a ele.
Nas últimas semanas, Bolsonaro tem percorrido o País participando de eventos de campanha de seus correligionários. Recentemente, ele esteve em cidades como Jaru (RO), Ji-Paraná (RO), Goiânia (GO), Aparecida de Goiânia (GO), Anápolis (GO), Alexânia (GO), São Luís (MA), Imbituba (SC), Balneário Camboriú (SC) e Imperatriz (MA).
O entorno de Nunes já planeja agendas ao lado do ex-presidente e assegura que está “fora de cogitação” descartar Bolsonaro numa eventual próxima etapa da eleição. Embora posar ao lado do ex-presidente seja visto como um risco, devido à alta rejeição dele na capital, pessoas próximas a Ricardo Nunes dizem que os compromissos conjuntos estão “apalavrados” e que o prefeito não quebrará o acordo. Um aliado do prefeito afirmou que todos entendem que é importante essa presença do político do PL.
No primeiro turno, a relação entre Nunes e Bolsonaro foi marcada por idas e vindas, em um jogo de “morde e assopra”, com poucas aparições juntos. No ato bolsonarista de 7 de Setembro, o prefeito subiu no carro de som onde estava Bolsonaro e posou para fotos com aliados do ex-presidente, incluindo o deputado federal Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Já Bolsonaro participou da convenção do MDB que oficializou a candidatura de Nunes à reeleição, onde fez um discurso morno, afirmando que o emedebista já havia provado suas qualidades no mandato e era o “nome adequado e justo para São Paulo”.
Nunes chegou a anunciar que Bolsonaro gravaria inserções para o seu horário eleitoral e participaria de uma agenda com ele na Companhia de Entrepostos e Armazéns Gerais de São Paulo (Ceagesp), que foi comandada pelo seu vice, o coronel Ricardo Mello Araújo (PL). Mas nada disso se concretizou. Aliados de Nunes alegam incompatibilidade de agendas, mas há bolsonaristas que afirmam que o comando da campanha não fez questão do encontro. A expectativa é que, num eventual segundo turno, a agenda do Ceagesp seja um dos compromissos conjuntos do ex-presidente e do prefeito.
A eleição para o comando da capital paulista é considerada estratégica para o bolsonarismo. Vencer na cidade, que abriga o maior colégio eleitoral do País, seria uma demonstração de força desse campo ideológico com vistas a 2026 – razão pela qual Bolsonaro fará questão de colocar a sua digital na campanha no segundo turno.