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É bom que eleições municipais tenham lógica própria

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Eleições municipais observam uma lógica própria, e São Paulo está aí para prová-lo. Padrinhos políticos com força no plano estadual ou federal têm exercido influência limitada na maior cidade do país.

De acordo com a mais recente pesquisa do Datafolha, a disputa pela prefeitura paulistana se estabilizou com uma trinca na dianteira das intenções de votoRicardo Nunes (MDB), com 27%, Guilherme Boulos (PSOL), 25%, e Pablo Marçal (PRTB), 21%.

Distantes deles aparecem Tabata Amaral (PSB), com 9%, José Luiz Datena (PSDB), 6%, e Marina Helena (Novo), 2%. Assim como no grupo de cima, nesse segundo pelotão houve movimentações apenas irrisórias nas últimas semanas, sem trocas de posições ou saltos nos percentuais.

 

Essa monotonia, porém, não diz tudo a respeito do pleito; algumas correntes ganharam bastante corpo em águas mais profundas —e é digno de nota que, ainda assim, não tenham abalado a calmaria da superfície.

Tome-se o caso de Nunes. Em maio, 26% dos entrevistados sabiam que o atual prefeito conta com o apoio do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL); essa parcela avançou a 44%, 15 dias atrás, e agora chegou a 49%. Suas intenções de voto, contudo, não mostraram o mesmo crescimento.

E não mostraram porque paulistanos que escolheram Bolsonaro em 2022 se dividem, em blocos quase iguais, entre Nunes e Marçal —situação que não mudou após o ex-presidente reforçar sua preferência pelo prefeito.

Que Bolsonaro não ocupe nenhum cargo público no momento parece irrelevante para a transferência apenas parcial de simpatizantes. A mesma coisa ocorre entre as pessoas que votaram em Tarcísio de Freitas (Republicanos), que faz campanha mais aberta por Nunes e senta-se na cadeira de governador estadual.

Tampouco se trata de fenômeno restrito à direita, campo que oferece aos paulistanos dois candidatos competitivos na dianteira do pleito. Boulos, principal representante da esquerda na disputa, atrai apenas 49% das pessoas que votaram em Lula (PT) em 2022, enquanto Nunes fica com 19%, e Tabata, com 13%.

Os limites dos padrinhos políticos, portanto, não se dão somente em decorrência da rejeição que possam suscitar, ou então em razão de eventual desconhecimento por parte do eleitorado.

Eleições municipais observam uma lógica própria, e é bom que seja assim. Os problemas das cidades precisam ser debatidos pelo que são, e não pela posição estratégica que possam assumir no xadrez da polarização nacional.

 

 

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