Diante de cenário desfavorável, Lula muda estratégia e decide atuar em cinco capitais, mas só na reta final da campanha
Por Jeniffer Gularte — Brasília / O GLOBO
Em cenário desfavorável nas eleições deste ano, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva deverá intensificar sua participação em palanques apenas na reta final da disputa. Em outubro, o PT tentará conquistar o comando de ao menos uma capital, já que no pleito municipal de 2020 o partido passou em branco. Lula manifestou a aliados o desejo de participar de comícios em Natal, Goiânia, Fortaleza e Teresina, onde a sigla tem mais esperança para reverter o quadro.
O petista também deve privilegiar São Paulo, única capital onde Lula subiu em palanque desde início da campanha, para apoiar Guilherme Boulos, do PSOL.
Lula tratou sobre o tema no último domingo em conversa no Palácio da Alvorada com a presidente do PT, Gleisi Hoffmann, e auxiliares próximos. O presidente expressou vontade de subir em palanques com cenários mais definidos e fazendo apostas que são consideradas mais certeiras, em candidatos considerados estratégicos para o PT e com chance de ir ao segundo turno.
A nova previsão é de que Lula amplie seu protagonismo nessas cidades na última semana de campanha. Na semana anterior, o presidente estará em Nova York, onde participará da Assembleia-Geral da ONU. Outra viagem internacional do presidente que irá disputar agenda de Lula com a reta final da campanha é a posse da nova presidente do México, Claudia Sheinbaum, marcada para 1º de outubro. Lula já manifestou desejo de ir à cerimônia.
Esforço por Fortaleza
Capital mais populosa do Nordeste, Fortaleza é considerada um local estratégico para o PT na região onde Lula tem mais popularidade, mas enfrenta dificuldade para emplacar aliados na liderança das disputas.
O Palácio do Planalto deposita expectativa na eleição de Evandro Leitão (PT). O ministro da Educação, Camilo Santana, ex-governador do Ceará bem avaliado, tirou férias para se dedicar à campanha do aliado. Leitão enfrenta cenário disputado entre capitão Wagner (União Brasil) e o candidato bolsonarista André Fernandes (PL). Durante a fase de convenções, Lula esteve apenas nos eventos promovidos por Leitão e Boulos.
Em Natal, a última pesquisa Quaest mostra a petista Natalia Bonavides empatada com Paulinho Freire (União Brasil) na busca pela segunda vaga do segundo turno. O ex-prefeito Carlos Eduardo (PSD) lidera a disputa. Em 2022, Bonavides foi a deputada federal mais votada do Rio Grande do Norte.
Na capital do estado mais lulista do Brasil, em Teresina, Fabio Novo (PT) disputa a liderança com Silvio Mendes (União Brasil) e usa Lula e Rafael Fonteles, governador petista mais bem avaliado do país, como seus principais cabos eleitorais.
A ida de Lula à cidade é vista como uma possibilidade de tentar garantir vitória do petista na capital que o PT nunca governou, mas onde o presidente teve 66% dos votos em 2022.
O adversário do petista, Silvio Mendes, embora apoiado pelo senador Ciro Nogueira (PP-AL), esconde o ex-presidente Jair Bolsonaro (PL). Já Fábio Novo, ex-filiado do PSDB, reuniu tucanos, Cidadania e MDB em sua chapa. A estratégia do candidato é mostrar que a população terá ganhos com a parceria de estado e governo federal.
Capital de um estado conservador e ligado ao agronegócio, Goiânia tem a petista Adriana Accorsi como uma das favoritas, em cenário de empate técnico com Vanderlan Cardoso (PSD) e Sandro Mabel (União Brasil). Accorsi tenta ser a primeira candidatura feminina a ir para o segundo turno na capital de Goiás, unindo a posição de delegada da Polícia Civil — foi chefe da corporação em 2011 e 2012 — ao histórico familiar na gestão da capital. Seu pai, Darci Accorsi, foi prefeito de Goiânia de 1993 a 1996, e deixou a gestão bem avaliado. Na última sexta-feira, Lula afirmou que pretende fazer um comício para a candidata:
— Quero ver se venho aqui fazer um comício para a minha candidata, a Adriana Accorsi. Acho que a Adriana é uma pessoa que merece ser levada em conta pelo povo de Goiás e de Goiânia. É uma menina bem preparada. A Adriana é uma menina extraordinária. Sinceramente, acho que o povo de Goiânia pode fazer uma aposta extraordinária numa mulher competente — disse à rádio Difusora.
Em São Paulo, a campanha de Boulos espera ter pelo menos mais um ato com a presença de Lula até o dia do primeiro turno. Na pré-campanha, chegou-se a cogitar pelo menos quatro datas com a presença do presidente. Na cidade, o petista participou de dois comícios no mesmo dia ao lado do deputado federal, e o PT enviou R$ 30 milhões do fundo partidário para tentar elegê-lo.
Havia desejo de petistas e aliados de que Lula estivesse presente ao menos em mais quatro capitais: Recife, Belo Horizonte, Salvador e Porto Alegre. Essas cidades estão, por ora, fora dos planos.
Auxiliares de Lula tentam convencê-lo a ir à capital do Rio Grande do Sul, onde Maria do Rosário aparece em segundo lugar nas pesquisas, atrás de Sebastião Melo (MDB), que tenta reeleição. Mesmo as capitais citadas por Lula ainda não possuem definições de datas. Auxiliares afirmam que a marcação depende da agenda presidencial e que assuntos do governo e eventuais crises podem se impor, alterando o roteiro das campanhas.
Mesmo com preferências, petistas afirmam que a legenda nunca tentou impor um roteiro de palanques para Lula. Para ter mais chances nas disputas nais quais é protagonista, ou até mesmo onde possui dificuldades, o PT pediu que o presidente gravasse vídeos de apoio a candidatos da sigla.
Até aqui, ao invés de subir palanques, Lula tem optado por agendas institucionais do governo com inaugurações de obras em cidades onde pretende eleger aliados importantes.
Foi isso o que fez na semana passada em Uberlândia, segunda maior cidade de Minas Gerais, onde quer eleger Dandara Tonantzin (PT). O presidente participou da entrega do novo bloco do Hospital de Clínicas da Universidade Federal de Uberlândia.
Inaugurações
Embora a legislação eleitoral proíba a participação de candidatos em inaugurações, não há restrição para uso político de obras após o fim da cerimônia do governo federal.
Com a largada da campanha e a possibilidade de sua presença em comícios causar fissuras em legendas que integram a base do governo, Lula manifestou que teria uma presença mais tímida. O argumento para evitar alguns locais é que o papel do presidente exige cuidado pela composição de apoio no Congresso Nacional.
O petista, no entanto, afirmou ter preferência por estar ao lado de aliados que têm adversários “ideológicos” ao governo. Desde o início da campanha, a ideia de Lula é marcar posição frente ao bolsonarismo.
— Tenho que levar em conta quem são os adversários e aí naquele que o adversário ideológico ou adversário negacionista, você pode ter certeza que eu vou fazer campanha — afirmou Lula em entrevista à rádio Verdinha de Fortaleza em 20 de junho.