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Do Rio a Manaus: eleições municipais abrem crise entre prefeitos e governadores em diferentes capitais

Por — Rio de Janeiro / O GLOBO

 

 

O Rio não é o único lugar em que um prefeito que concorre à reeleição tem reforçado o embate com o governador do estado no período eleitoral. Em capitais importantes do país, como Salvador, Fortaleza e Manaus, prefeitos têm partido para o ataque e feito declarações críticas aos chefes do Executivo estadual nas últimas semanas.

 

Com o embate escancarado entre Eduardo Paes (PSD) e Cláudio Castro (PL), o Rio desponta como a cidade na qual o cenário está mais conflagrado. Do lado do prefeito, adjetivos como “incompetente” são usados para descrever o governador — sobretudo na área da segurança, mas também na educação, por causa do mau desempenho estadual no Índice de Desenvolvimento da Educação Básica (Ideb). Em resposta, Castro não deixou barato e apelou para provocações políticas: chamou o candidato à reeleição de “traidor” e “nervosinho”, além de classificar o ex-governador Sérgio Cabral (MDB) como “sócio e pai” de Paes.

 

Outra capital em que há frases fortes é Fortaleza. Por lá, a polarização entre cidade e estado não é de hoje. Há meses o prefeito José Sarto (PDT) e o governador Elmano de Freitas (PT), que tem como candidato Evandro Leitão (PT), protagonizam brigas verbais. “A paralisia do Governo do Estado no combate às facções não parece ser apenas incompetência, mas também cumplicidade”, escreveu Sarto nas redes sociais, em abril. Elmano, também na arena digital, alegou que a postura do prefeito era “irresponsável e oportunista”, e também uma “terceirização” de responsabilidades.

 

Na campanha, Sarto precisa atacar não só a direita bolsonarista, como também o PT de Elmano e Leitão. O racha entre petistas e o PDT do prefeito no Ceará foi ruidoso e levou até a um rompimento interno no partido do prefeito, que viu os irmãos Ciro e Cid Gomes se afastarem. Senador, Cid migrou para o PSB e apoia Leitão, também ex-PDT e aliado de longa data, enquanto o ex-presidenciável se manteve com Sarto.

 

Se em Fortaleza a cisão entre os grupos de prefeito e governador é recente, em Salvador é coisa antiga. Há anos a cidade é comandada por prefeitos vinculados ao carlismo, cultura política iniciada pelo ex-governador Antônio Carlos Magalhães, o ACM. O estado, por sua vez, é administrado pelo PT desde 2006. Nos últimos dias, o candidato à reeleição, Bruno Reis (União), criticou o governo estadual em pontos como o projeto VLT do Subúrbio.

 

— Por que tiraram os trilhos do Subúrbio e agora ainda estão elaborando o projeto executivo? Isso é incompetência. Prometeram uma Ferrari e vão entregar um Fusquinha — disse em entrevista à CBN Salvador.

 

O governador Jerônimo Rodrigues (PT) rebateu. Afirmou que “nem todo mundo pode ter uma Ferrari como ele” e emendou com uma crítica aos ônibus municipais.

 

— Espero que ele também possa cuidar do transporte coletivo, em vez de ficar tirando ônibus. Procure saber do povo. A população está aguardando (ônibus com ar- condicionado) até hoje.

 

Cidade mais populosa do Norte, Manaus tem este ano uma das eleições mais disputadas do país. Na tentativa de reeleição, o prefeito David Almeida (Avante) acusa o governador Wilson Lima (União) de atuar contra a gestão municipal.

 

— Após a reeleição do governador Wilson Lima, ele se meteu pessoalmente, elegeu um aliado dele para dificultar a minha vida na Câmara Municipal. Essa é a verdade. A oposição que eu tenho na Câmara é toda comandada pelo Wilson Lima, que tem como candidato Roberto Cidade (União). Eles tentaram dificultar totalmente a minha vida à frente da prefeitura para tentar invisibilizar a minha candidatura — afirmou em entrevista à rádio Norte FM.

 

Levantamento do GLOBO identificou que, nas últimas duas eleições municipais, de 2016 e 2020, menos de um terço dos prefeitos eleitos nas capitais brasileiras foram endossados pelos governadores dos respectivos estados durante a campanha. Por outro lado, mais da metade dos vitoriosos era ligado ao grupo político que comandava as prefeituras. O dado reforça como a máquina municipal tem mais relevância do que a estadual nas eleições locais.

 

Disputa fria

Mesmo em locais onde não há ataques diretos entre os chefes de Executivo, as eleições municipais marcam a oposição entre as forças políticas que comandam as duas esferas. É o caso do Recife. Na capital pernambucana, o prefeito e favorito com folga para a reeleição, João Campos (PSB), evita ataques à governadora Raquel Lyra (PSDB), mas tem a disputa deste ano como um trampolim para a eleição estadual de 2026, quando tende a se candidatar ao governo contra Lyra.

 

Em Belo Horizonte, o candidato à reeleição Fuad Noman (PSD) também não tem como prioridade a produção de críticas ao governador Romeu Zema (Novo), mas o chefe do Executivo estadual anunciou apoio a Mauro Tramonte (Republicanos), líder das pesquisas e principal obstáculo no caminho do atual prefeito, que ainda tenta decolar.

 

Depois das enchentes que assolaram o Rio Grande do Sul, o governador Eduardo Leite (PSDB) perdeu força política e viu a avaliação despencar, o que o transformou em coadjuvante na eleição de Porto Alegre. Os tucanos estão oficialmente com Juliana Brizola (PDT), mas o envolvimento de Leite, até o momento, é tímido. O prefeito Sebastião Melo (MDB), aliado do ex-presidente Jair Bolsonaro (PL), tenta a reeleição e aparece empatado nas pesquisas com Maria do Rosário (PT).

 

O cenário de oposição entre prefeito e governador se repete em Belém. Impopular, Edmilson Rodrigues (PSOL) encara, na difícil missão de tentar um novo mandato, o favoritismo do candidato lançado pelo clã Barbalho, o emedebista Igor Normando, que é primo do governador Helder Barbalho (MDB).

 

Em outra ponta, os dois chefes de Executivo em São Paulo estão em harmonia durante esta campanha — Tarcísio de Freitas (Republicanos) é apoiador de Ricardo Nunes (MDB). Além da capital paulista, em Curitiba há alinhamento: o governador Ratinho Júnior apoia Eduardo Pimentel, favorito para suceder o atual prefeito, Rafael Greca — todos do PSD.

 

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