Alianças, legados e influência nacional: Como está o cenário pré-eleitoral nas capitais do Nordeste
Fortaleza (CE), Salvador (BA), Recife (PE), Maceió (AL), Teresina (PI), João Pessoa (PB) e São Luís (MA). Sete das nove capitais do Nordeste têm prefeitos que tentarão se reeleger no pleito de outubro. Na maioria destas cidades, além da defesa de um legado construído - ou que deveria ter sido - ao longo dos últimos três anos de gestão, por serem adversários, os gestores terão que enfrentar candidaturas aliadas aos governos estaduais locais.
Além delas, em duas outras, Aracaju (SE) e Natal (RN), o eleitorado irá às urnas para escolher os agentes públicos que comandarão o Executivo municipal por um novo ciclo. Em ambas, o apoio dos atuais mandatários é cobiçado pelos que tentam se viabilizar para alcançar a cadeira.
Nesta matéria, o Diário do Nordeste elencou os principais nomes já colocados para a disputa eleitoral majoritária - mesmo que ainda como pré-candidatos - em cada uma das capitais nordestinas e as articulações tocadas pelas siglas tendo em vista o pleito que se aproxima.
FORTALEZA
Na Capital cearense, o atual prefeito José Sarto (PDT) deverá ser o candidato que liderará um grupo político com nove legendas. Eleito em 2020, apoiado por uma frente que chegou a reunir, no segundo turno, apoios como o do PT e do PSOL, o gestor agora poderá ser o escolhido para dar continuidade para uma agenda que é de interesse do Diretório Nacional, já que a cidade é a maior comandada pelo trabalhismo em todo o País.
Atualmente na vice de Sarto está Élcio Batista (PSDB), que poderá continuar no posto na tentativa de recondução. Pelo que contabilizam lideranças pedetistas, ao menos 9 partidos devem compor a coligação que será apresentada ao eleitor alencarino, a maior parte delas de pequeno ou médio porte. Por outro lado, a aposta na reeleição em Fortaleza encontra oponentes já testados e aprovados nas urnas, até mesmo para o Paço Municipal.
Um destes casos é o da ex-prefeita e deputada federal Luizianne Lins (PT), que, envolvida numa briga acirrada, procura se tornar a representante do seu partido na eleição, pois além dela, os deputados estaduais Evandro Leitão (PT) e Guilherme Sampaio (PT), a deputada estadual Larissa Gaspar (PT) e o ex-deputado Artur Bruno (PT) também querem o posto para si.
A vice do PT, apesar da indefinição, é desejada pelo PSB, que recentemente filiou o senador Cid Gomes, a ex-governadora Izolda Cela e uma leva de prefeitos do interior. Espera-se que orbite a aliança encabeçada pelo petismo legendas como PSD, Solidariedade, Republicanos e Podemos.
No espectro político mais à direita, o Capitão Wagner (União), o deputado federal André Fernandes (PL) e o senador Eduardo Girão (Novo) devem dividir votos do eleitorado, caso as suas candidaturas sejam oficializadas. Entre os integrantes do eixo, comenta-se sobre a possibilidade de chegarem a um entendimento e formalizarem uma aliança no primeiro turno, a fim de dar uma musculatura maior para um projeto comum. A ideia já foi admitida por Wagner e também por Carmelo Neto, presidente do PL Ceará.
Fechando a lista de pré-candidaturas já colocadas até aqui, o Partido Socialismo e Liberdade também é outra agremiação que lançou mais que um nome para a corrida eleitoral. Estão no páreo, aguardando por uma decisão interna, o produtor cultural Técio Nunes (Psol) e a professora Maya Eliz (Psol). A escolha deverá ser divulgada após a realização de plenárias do Diretório Municipal.
SALVADOR
Em seu terceiro mandato à frente do Palácio Tomé de Souza, sede da Prefeitura de Salvador, o União Brasil almeja ir para mais um ciclo. Para que isso aconteça, o partido aposta em Bruno Reis (União), que ainda não confirmou sua vontade de seguir no percurso. Ele chegou ao cargo depois de uma sucessão bem-sucedida de ACM Neto (União). Na vice, ao longo dos últimos três anos, esteve Ana Paula Matos (PDT), que ainda é uma dúvida na chapa.
O Partido Liberal, cujo maior representante no estado é o ex-ministro João Roma (PL), era uma sigla que poderia dividir a preferência do eleitorado mais conservador na cidade, mas que atualmente dá sinais de que irá se aproximar de Reis e seu grupo, que deve reunir ainda o PSDB, o Republicanos, o Progressistas, o Democracia Cristã e o PRD.
Como principal opositor do intento de Reis está um ex-aliado, o vice-governador da Bahia, Geraldo Júnior (MDB). O emedebista, que antes de chegar ao Executivo estadual era presidente da Câmara Municipal de Salvador (CMS), rompeu com o União Brasil pouco antes da eleição de 2022, ao ser atraído pelo Partido dos Trabalhadores.
"Geraldinho", como é conhecido o vice-governador, representará a aliança governista nas urnas, depois de um revés chancelado pelo Conselho Político - órgão formado por 12 legendas e que avaliza as decisões do grupo - em dezembro do ano passado. A vice para o pleito ainda é uma incógnita.
Antes da reunião da instância, PCdoB, PSB, PSD e o próprio PT possuíam pré-candidaturas à Prefeitura, mas tiveram que mudar a rota e tentarão viabilizar nomes no interior do estado, dentro da estratégia comandada pelo governador Jerônimo Rodrigues (PT) e seus auxiliares.
O sindicalista e professor Kléber Rosa (PSOL) será o único representante de um partido de esquerda a concorrer ao pleito soteropolitano. Quarto colocado na disputa em que tentou chegar ao cargo de governador da Bahia, em 2022, o pré-candidato psolista, como divulgou o partido quando da escolha do seu nome, deve tocar uma campanha que explore os desgastes das gestões do União Brasil junto a população de Salvador. Sua vice será Miralva Alves Nascimento, a "Dona Mira", também do PSOL.
Outra alternativa de voto já apresentada é o da professora universitária e administradora Luciana Buck (Novo), anunciada em dezembro. A postulante chegou a disputar um cargo eletivo em 2022, quanto quis ser deputada federal, mas não logrou êxito. O partido não divulgou quem irá representá-lo no segundo posto da chapa.
RECIFE
Herdeiro político do clã Campos-Arraes, o prefeito João Campos (PSB) deve tentar superar seu avô Miguel Arraes, que foi o mandatário de Recife por apenas uma oportunidade. Ele já é dono de um feito inédito, o de ser o mais jovem a ser eleito para o cargo de mandatário da Capital pernambucana - ele tinha 27 anos quando assumiu a condução do Palácio Capibaribe Antônio Farias. Atualmente, a vice é ocupada por Isabela de Roldão (PDT), mas a vaga na majoritária a ser apresentada para a Justiça Eleitoral é de interesse do PT.
Campos está inserido em um cenário em o seu partido tenta que tenta manter a hegemonia em Pernambuco, dois anos depois da derrota na eleição pelo Governo do Estado, de onde saiu vitoriosa a tucana Raquel Lyra. Para isso, o político tem investido em sua popularidade na internet, em tratativas buscando uma proximidade com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) e também na intensificação dos elos com a base, hoje composta por siglas como o Avante, PCdoB e MDB.
Uma implicação supraestadual recai sobre a candidatura de João Campos. Ou melhor, na composição da sua chapa. O Diretório Nacional do PDT, partido de Roldão, condiciona o apoio ao PSB de Recife caso haja uma reaproximação da sigla em Fortaleza, apoiando a reeleição do atual prefeito - elas estão rompidas desde agosto do ano passado.
A chegada de Cid Gomes e seu grupo ao PSB Ceará, no entanto, tende a dificultar qualquer condicionamento desta natureza. Com a exclusão das possibilidades, a candidatura de Roldão passou a ser cogitada, sobretudo na imprensa pernambucana, podendo ser mais um player apoiado por Raquel Lyra.
O apoiamento da mandatária do Palácio do Campo das Princesas é quisto por pelo menos três outros pré-postulantes à Prefeitura do Recife: o secretário estadual Daniel Coelho (Cidadania); o deputado federal Túlio Gadelha (Rede); e o ex-ministro do Governo Bolsonaro, Gilson Machado (PL).
A pulverização de apoios de oposição ao atual prefeito é um mecanismo defendido por integrantes do entorno da governadora e pode ser acionado visando a participação de um adversário a Campos num segundo turno, enfraquecendo qualquer possível incursão do socialista na competição pelo Governo do Estado em 2026.
No horizonte, o nome do deputado estadual e ex-prefeito de Recife, João Paulo Lima (PT), chegou a aparecer na mesa de negociações ao longo de 2023, como uma candidatura própria dos petistas. Mas essa via se tornou menos provável no decorrer dos últimos meses, com a ideia cada vez mais latente de que o PT apoie João Campos na sua busca pela recondução ao cargo.
A despeito das arrumações das demais legendas, o Psol de Recife se antecipou na decisão pela figura que aparecerá na cabina de votação no próximo dia 6 de outubro. No início de dezembro, o partido optou pela deputada estadual Dani Portela como pré-candidata. A pessoa responsável por concorrer no posto de vice ainda não foi divulgado. Esperava-se que o partido fosse compor chapa com a Rede Sustentabilidade, que lançou Túlio Gadelha, já que os dois formam uma federação.
MACEIÓ
Uma das disputas que mais irão ter influência de lideranças nacionais é a da capital alagoana. Base eleitoral do presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira (PP), e do senador Renan Calheiros (MDB), Maceió é uma cidade estratégica para os dois figurões do Centrão.
Somado a isso está o desastre socioambiental causado por minas de sal-gema operadas pela Braskem, que afundou o solo de bairros da cidade, tirou cerca de 60 mil pessoas de suas casas, atingiu 20% da mancha urbana da cidade e deve permear o debate eleitoral de 2024.
João Henrique Caldas (PL), o JHC, é quem ocupa o gabinete de prefeito desde janeiro de 2021. Ele é aliado de Lira e deve ser o defensor de um campo mais ideologizado que pende para a direita. Na eleição em que chegou ao poder, sua legenda era o PSB, mas migrou para o atual partido em 2022, no auge da virada bolsonarista da sigla.
Por parte do MDB, que também é o partido do governador Paulo Dantas, ao menos quatro nomes já estão colocados: o deputado federal Rafael Brito e os deputados estaduais Alexandre Ayres, Cibele Moura e Dr. Wanderley. Já Ricardo Barbosa, por sua vez, foi o escolhido pelo PT para tentar desbancar a reeleição do atual prefeito.
TERESINA
Na Capital do Piauí, o governador Rafael Fonteles (PT) deve participar ativamente da campanha política, apadrinhando o seu correligionário, o deputado estadual Fábio Novo (PT). O ex-governador e ministro do Desenvolvimento Social, Wellington Dias (PT), e o próprio Lula (PT) devem ser integrados ao palanque na cidade, assim como membros do MDB, PSD e Solidariedade.
Por lá, o prefeito Dr. Pessoa (Republicanos) é um potencial candidato à reeleição para a Prefeitura de Teresina, mesmo ainda não tendo confirmado sua pré-candidatura. A saída dele da legenda chegou a ser ventilada, mas o gestor publicamente nega que tenha a intenção de deixar o partido ligado à Igreja Universal do Reino de Deus (Iurd).
Na fileira de políticos cotados para o "corpo a corpo" eleitoral está um veterano, Silvio Mendes (União), que já foi eleito para dirigir Teresina por duas outras oportunidades, nas eleições municipais de 2004 e 2008.
A ex-deputada estadual Teresa Britto (PV) inicialmente demonstrou sua vontade em deixar a agremiação que está hoje para concorrer ao Palácio da Cidade. O Partido Verde, do qual é partidária, faz parte de uma federação com o PCdoB e o PT - que já escolheu previamente Fábio como sua representação. Mais recentemente, ela pontuou que levará sua pré-candidatura pelo agrupamento ecossocialista até as convenções partidárias.
Ravena Castro (PMN) é mais uma mulher com pré-candidatura lançada no colégio eleitoral terezinense. A postulante tem investido na atração de votos de um público formado por evangélicos e conservadores, bem como na aglutinação de mulheres em seu entorno.
O PSDB tem como pré-candidato o ex-deputado estadual Luciano Nunes. A presença dele no páreo, entretanto, pode ser convertida em apoio ao PT. O direcionamento é objeto de disputa entre alas do tucanato.
JOÃO PESSOA
Mais uma das capitais do Nordeste com um prefeito considerado como pré-candidato é a paraibana, onde Cícero Lucena (PP) deverá assumir essa tarefa. Mas, diferente das outras, em que a chefia do Executivo estadual antagoniza com a do Executivo municipal, em João Pessoa o apoiamento do governador João Azevedo (PSB), até então, é certo. Cidadania, PMB, Avante, PRTB, PTB, PDT e Agir são algumas das siglas que sinalizaram que vão estar com o mandatário.
Enquanto isso, no interior do Partido dos Trabalhadores da Paraíba, os parlamentares Cida Ramos e Luciano Cartaxo, da Assembleia Legislativa da Paraíba (ALPB), duelam por uma decisão dos filiados na consulta interna, para que, assim, um dos dois seja escolhido como aquele que dará a cara para a legenda em busca da preferência do eleitor.
Ruy Carneiro (Podemos) se colocou, mais uma vez, para uma candidatura à Prefeitura de João Pessoa. Sua trajetória política acumula duas investidas semelhantes, nas eleições de 2004 e 2020. Desta vez, o pré-candidato oposicionista conseguiu o apoio do seu antigo partido, o PSDB.
Também no bloco de oposição está Marcelo Queiroga (PL), ex-ministro da Saúde durante o Governo Jair Bolsonaro. A escolha partiu de uma decisão da cúpula do Partido Liberal e, segundo partidários, foi referendada pelo ex-presidente da República. A princípio, o jornalista Nilvan Ferreira (PL) era tido como o predileto para a missão de pré-candidato.
SÃO LUÍS
No extremo norte do Nordeste, São Luís também tem um candidato que busca sua reeleição, Eduardo Braide (PSD) é o representante da vez.
Oponente do 2º turno com Braide, o deputado federal Duarte Júnior (PSB), figura próxima do ex-governador e do senador Flávio Dino (PSB), é o predileto do governador Carlos Brandão (PSB) para disputar a Prefeitura.
Com vistas a eleição há também outros nomes da base de Brandão: o deputado estadual Neto Evangelista (União), aliado do ministro das Comunicações, Juscelino Filho (União); e o ex-prefeito Edivaldo Holanda Junior, atualmente sem partido, mas que já foi cortejado pelo PT.
O deputado estadual Yglésio Moysés, adepto a um projeto de Centro-Direita depois da sua desfiliação do PSB, é outra possibilidade, mas do lado do bolsonarismo. Em novembro do ano passado ele chegou a posar junto ao ex-chefe do Planalto.
O deputado estadual Wellington do Curso (sem partido) também encampa uma pré-candidatura. Ele esteve filiado ao PSC, que fundiu com o Podemos, até o ano passado e ainda busca uma legenda para chamar de sua. Recentemente, o parlamentar apontou que deu início a tratativas com o Partido Novo.
ARACAJU
Ao fim do segundo mandato na prefeitura de Aracaju, Edvaldo Nogueira (PDT), com o apoio do governador Fabio Mitidieri (PSD), tem um verdadeiro batalhão de possíveis sucessores para apoiar na eleição de 2024. O secretário de Desenvolvimento Urbano e Infraestrutura (Sedurbi), Luiz Roberto (PDT), é o pré-candidato do seu partido.
Mas, a deputada federal Yandra Moura (União); o vereador Fabiano Oliveira (PP); a deputada federal Delegada Katarina (PSD); e a secretária estadual de Políticas Públicas para as Mulheres, Daniele Garcia (MDB) - apadrinhada do senador Alessandro Vieira (MDB) - são nomes da base que correm lado a lado como pré-candidatos.
Na cidade, o Partido dos Trabalhadores deve indicar a jornalista Candisse Matos (PT), companheira do senador Rogério Carvalho (PT) como postulante. Embora, na mesma federação, o Comitê Municipal do Partido Comunista do Brasil tenha escolhido Dr. Emerson (PCdoB) para disputar a Prefeitura nas eleições.
Ainda no âmbito da esquerda, uma divergência interna ocorreu no Partido Socialismo e Liberdade de Aracaju, que elegeu a Niully Campos (Psol), que disputou o governo do Estado em 2022, como a representante nas eleições municipais. A atitude foi questionada por setores ligados à deputada estadual Linda Brasil (Psol), que tentava viabilizar sua candidatura, eles alegaram que a decisão ocorreu de forma isolada por apenas uma tendência da legenda.
A vereadora Emília Correia (PRD) deverá ser a opção para o eleitorado que não apoia a atual gestão municipal. O Partido Liberal deve marchar junto com ela em direção ao pleito.
NATAL
Junto com Aracaju, a Capital potiguar figura como uma das duas do Nordeste em que o atual prefeito não terá mais a chance de voltar ao cargo em 1º de janeiro do ano que vem. Natal é comandada desde 2016 por Álvaro Dias (Republicanos), cujo plano de sucessão ainda não é público. Paulo Freire (União) e Joanna Guerra (Republicanos) são pré-candidatos que querem um aceno de Dias.
O ex-prefeito Carlos Eduardo Alves (PSD) caminha na corrida eleitoral, tentando voltar para o Palácio Felipe Camarão. A presença do MDB, do vice-governador Walter Alves, na vice é cogitada.
Na contramão das projeções oposicionistas, a base da governadora Fátima Bezerra (PT) está dividida entre três pré-candidaturas: a da deputada federal Natália Bonavides (PT), que tem o apoio já declarado; a do ex-deputado federal Rafael Motta (PSB), aliado da chefe do Executivo; e a da deputada estadual Eudiane Macedo (PV), que sustentará o nome dela até março, quando haverá conversas entre os partidos da federação.
Caminhando por fora, o Solidariedade tem o deputado estadual Luiz Eduardo como pré-candidato e o Partido Liberal ofereceu, até então, o deputado federal General Girão (PL).