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Contra o tempo

Assim como boa parte das outras 5.568 cidades brasileiras, São Paulo tende a replicar nas eleições municipais a polarização encabeçada em 2022 por Jair Bolsonaro (PL) e pelo vencedor da corrida ao Planalto, Luiz Inácio Lula da Silva (PT).

O bloco lulista largou na frente. Segundo lugar em 2020 e sob as bênçãos do presidente, Guilherme Boulos (PSOL) cacifou-se há meses na centro-esquerda —a ponto de o PT abrir mão de lançar candidatura própria pela primeira vez.

Em agosto, pesquisa Datafolha apontou a sua liderança, com 32% das intenções. Deputado federal mais votado em São Paulo, tem a seu favor o bolsonarismo menos pujante na cidade, onde o ex-presidente, apesar dos 46,5% dos votos, foi derrotado por Lula (53,5%).

O desafio será tornar-se palatável para o eleitorado mais conservador e afastar a pecha de incitador de invasões urbanas —o psolista liderou por anos o Movimento dos Trabalhadores Sem-Teto.

Na centro-direita, o cenário ainda é nebuloso. Um nome certo é o do atual prefeito, Ricardo Nunes (MDB), que contou 24% das preferências no mesmo levantamento.

O emedebista também enfrenta barreiras consideráveis: com 23% de aprovação, sua gestão ainda busca uma marca própria, e 79% dos paulistanos desejam mudanças.

Seu trunfo está em ações de impacto, como congelar a tarifa de ônibus e torná-la gratuita aos domingos, e aproveitar o caixa recorde para concluir obras vistosas.

Nunes tenta costurar um amplo arco de apoios, que inclua o PSDB (com reduzidas chances de candidatura própria, mesmo após ter vencido as duas últimas disputas), partidos do centrão (bem encaminhados), o Republicanos do governador Tarcísio de Freitas (de aliança hoje estremecida) e a aposta maior: o PL de Bolsonaro.

Entre idas e vindas, e sob ampla desconfiança do bolsonarismo, que vê no prefeito uma adesão um tanto envergonhada, a parceria adentrou 2024 longe de definida.

O entrave atende pelo nome de Ricardo Salles, ex-ministro do Meio Ambiente de Bolsonaro e preferido da ala mais ideológica. Se preterido por Nunes pelo PL, o deputado ameaça lançar-se pelo PRD.

A jogada de Salles poderia provocar ampla divisão de votos na direita e no centro. Este também é disputado pela deputada Tabata Amaral (PSB), mais à esquerda, que anotou 11% no Datafolha e quer ser o fator surpresa —o que não seria novidade em São Paulo.

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