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Para o país de ontem

Na semana passada, Luiz Inácio Lula da Silva afirmou em um evento de campanha que, em caso de vitória, seu governo "não será um governo do PT". Dirigindo-se à presidente do partido, reiterou: "É importante, Gleisi [Hoffmann], você que é presidente, saiba: nós precisamos fazer um governo além do PT".

O candidato petista recordou que suas administrações contaram com muitos ministros que não eram da legenda, como Henrique Meirelles, chamado para o comando do Banco Central logo depois de ter sido eleito deputado federal pelo PSDB.

Ademais, Lula escolheu como seu vice, nesta eleição, um adversário histórico, o ex-tucano Geraldo Alckmin, um gesto evidente rumo à ampliação de alianças e horizontes programáticos.

Causa, pois, espanto e preocupação que o arremedo de programa econômico de última hora divulgado pela campanha, na quinta-feira (27), tenha horizontes estreitos.

Não se trata de dizer que o documento siga as diretrizes do velho PT, mas de observar antes de mais nada que o plano é ultrapassado e sugere que alguns fracassos desastrosos podem se repetir.

Uma dúzia de anos depois do fim do segundo governo Lula, o país e o mundo mudaram. Houve tempo suficiente para repensar políticas daninhas e para procurar alternativas mais racionais ou atualizadas de atingir alguns dos mesmos objetivos listados na "Carta para o Brasil de Amanhã".

É possível tratar de temas como modernização da economia, mesmo com incentivos estatais, por métodos novos. A carta, porém, limita-se a repetir motes do passado. Vários deles se tornaram políticas de Lula e de Dilma Rousseff.

Em resumo, trata-se de um programa baseado em vastos subsídios, recurso a estatais como instrumento de política econômica, reindustrialização calcada em substituição de importações e aumento desmedido ou incalculado de despesas ou de renúncia de receitas.

A exploração indevida de recursos do BNDES e da Petrobras redundaram em benefícios para grandes empresas e intervenções industriais ruinosas. A gastança sem limite foi um dos motivos da enorme crise que começou no final do primeiro governo Dilma.

Na carta há menção breve à reforma tributária e a nenhuma outra. Quanto a regras fiscais, há não mais que uma generalidade.

Fica a impressão —ou a esperança— de que o documento seja uma espécie de prêmio de consolação retórico para a ala esquerda envelhecida do partido. Ou de promessas desmedidas que possam servir nas horas finais de campanha.

Supostamente para o amanhã, o documento mostra falta de imaginação e saudosismo acrítico, em vez do diálogo prometido.

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