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Reforçar nicho ou reduzir prejuízo? Viagens expõem estratégias opostas de Lula e Bolsonaro

Por Guilherme Caetano e Victória Cócolo — São Paulo / O GLOBO

 

O presidente Jair Bolsonaro (PL) e o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) têm lançado mão de estratégias opostas em relação ao mapa eleitoral do primeiro turno da eleição. Enquanto o chefe do Executivo passa mais tempo em municípios em que saiu derrotado no dia 2 de outubro, o petista foca as agendas onde foi o mais votado.

 

A proporção de penetração em redutos adversários é inversa. Cerca de dois terços (64%) dos 33 compromissos eleitorais de Bolsonaro foram em cidades em que ele teve desempenho pior do que o adversário, enquanto apenas 36% das 22 agendas de Lula são em “terreno adversário”.

 

A Região Sudeste, em especial o estado de São Paulo, tornou-se o palco da disputa do segundo turno: é onde Bolsonaro marcou 58% de seus compromissos, e Lula, 77%. Os quatro estados (Rio de Janeiro, São Paulo, Minas Gerais e Espírito Santo) concentram 42% do eleitorado nacional.

 

A capital paulista, que deu 47,54% ao petista e 37,99% a Bolsonaro, foi local de aproximadamente três a cada dez eventos eleitorais dos dois candidatos.

 

A campanha de Bolsonaro em redutos lulistas passa por uma necessidade maior de conquistar votos até 30 de outubro. Ele terminou a corrida 6,2 milhões de votos atrás do ex-presidente: 43,2% contra 48,43%, segundo o Tribunal Superior Eleitoral (TSE).

 

A última pesquisa Datafolha, no entanto, apontou que a distância entre Lula (49%) e Bolsonaro (45%) no segundo turno caiu para quatro pontos percentuais. O ex-presidente venceria com 52% dos votos válidos.

 

Outras cidades “hostis” onde Bolsonaro teve compromissos foram Belém, Pelotas (RS), Recife, Teresina, Fortaleza, São Luís, Juiz de Fora (MG) e Montes Claros (MG). A ida à capital paraense, na comemoração do Círio de Nazaré — tradicional em devoção à Nossa Senhora de Nazaré —, no entanto, é considerada um aceno ao eleitorado católico.

 

Nesses locais, o presidente nem sempre encontrou a recepção a que está habituado em seus redutos eleitorais, como o Sul do país. Na capital pernambucana, por exemplo, ele discursou para uma plateia esvaziada em frente a um hotel. Dias antes, ele havia associado a vitória de Lula na região ao suposto “analfabetismo” da população.

 

Bolsonaro tem apostado em um discurso de “virada” para animar sua militância. Em comício na capital paulista na quinta-feira, tanto ele quanto seu candidato ao governo estadual, Tarcísio de Freitas (Republicanos), disseram em discurso terem identificado uma “disparada’ nas intenções de voto na região.

 

— Não basta (ter) apenas o voto da família, tem que buscar fora dela. Nós já viramos Minas Gerais. Em São Paulo, ampliamos a vantagem — disse Bolsonaro, após mencionar que tem crescido “em todos os estados”.

 

A uma semana da eleição definitiva, Bolsonaro cumpriu 33 compromissos em 16 cidades — elas somam 2,9 milhões de “votos em disputa”, isso é, de pessoas que escolheram qualquer outra opção na urna que não o PT ou o PL, incluindo votar em branco ou anular.

 

Lula, por sua vez, pisou com frequência inferior em municípios menos “acolhedores”. São casos como Guarulhos (SP), Campinas (SP), Belo Horizonte, Belford Roxo (RJ), Rio de Janeiro e Maceió (AL) — a única capital do Nordeste que não lhe deu a vitória.

 

Na última sexta-feira, em uma coletiva de imprensa em Juiz de Fora, o petista deu uma declaração que simboliza sua estratégia no segundo turno. Ele declarou que, entre 1989 e 2006, em cinco eleições, sempre se saiu vitorioso no município, demonstrando estar em um reduto confortável.

 

— Essa é uma cidade onde eu nunca perdi as eleições. A minha vinda agora é para agradecer o voto no primeiro turno e pedir um pouquinho mais para o segundo turno. Porque Minas Gerais é um estado muito importante para nós do ponto de vista político — afirmou.

 

Nenhum dos candidatos foi à Região Centro-Oeste. Não fosse a ida de Bolsonaro a Belém, a Região Norte também passaria ao largo da campanha, pois Lula não a visitou. Já o Sul representa entre 5% e 6% das agendas do presidente e do petista.

 

Busca de fé e algoritmo

 

Agendas com lideranças religiosas vêm tendo destaque nesta competição eleitoral. Bolsonaro é quem mais recorre a templos para pedir votos, enquanto a campanha adversária vem relutando em dar uso eleitoral à religião.

 

A aposta se reflete na agenda dos candidatos. Quase um terço dos comícios de Bolsonaro foi com religiosos, em sua maioria evangélicos, enquanto a taxa é de 13% na campanha de Lula, que foca em católicos.

 

De qualquer forma, o apelo religioso tomou a corrida presidencial. Para tentar combater notícias falsas associando o candidato ao diabo, a campanha de Lula publicou em seu site oficial um texto intitulado “a verdade sobre Lula e o satanismo”. Dias depois, foi a vez de a esquerda repercutir desinformação a respeito de supostos vínculos do presidente com o satanismo.

 

Na quarta-feira, o candidato do PT publicou uma carta de compromisso para os evangélicos, em que reitera seu respeito pela liberdade religiosa. O texto diz que “não há motivo para acreditar que seria diferente” em um eventual novo governo petista.

 

Outro destaque deste segundo turno é a reunião dos presidenciáveis com influenciadores digitais. Em 13 de outubro, o coach Pablo Marçal (PROS) fez uma transmissão ao vivo com Bolsonaro para pedir a outros comunicadores que “colocassem a reputação de lado” para ajudar a reeleger o aliado e não ser preciso “um dia pegar em arma”.

 

Dias depois, Bolsonaro reuniu dezenas de influenciadores de moda, estilo de vida e negócios em um condomínio de luxo em São Paulo para pedir empenho na campanha.

Do lado lulista, o deputado federal André Janones (Avante) foi quem articulou uma live com milhares de outros influenciadores para orientar estratégias de militância digital.

 

 

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