Busque abaixo o que você precisa!

Ciro Gomes continua magoado com Lula e rejeita uma aproximação com o PT

ANA VIRIATO / ISTOÉ

 

PT desiste de diálogo com Ciro Gomes e coloca na rua campanha pelo voto útil em torno de Lula. Pedetista, que já tachou o ex-presidente de “ladrão” e “encantador de serpentes”, vive relação de altos e baixos com os petistas desde 2010

 

Quando Lula se reabilitou eleitoralmente, Ciro Gomes tratou de sinalizar que não se posicionaria ao lado dele na corrida pelo Palácio do Planalto. “Não vejo caminho para o futuro com a volta ao passado lulopetista”, disse, menos de 24 horas depois de o ex-presidente retomar os direitos políticos. Com o passar dos meses, a tônica da ofensiva só escalou. O pedetista chamou o antigo aliado de “canalha” e “traidor”, chegou a tachar um dos filhos dele de “ladrão” e, de quebra, assegurou que não o apoiará no iminente confronto direto com Jair Bolsonaro. Com a indicação de que um armistício entre os dois será inviável, o PT contra-atacou, colocando de vez na rua a estratégia do voto útil em torno do nome de Lula. A coligação do ex-presidente, porém, não combaterá fogo com fogo. A ordem é evitar a troca de ofensas para não queimar pontes com o PDT e os próprios eleitores ciristas — afinal, o partido sabe que são pequenas as chances de uma vitória logo em 2 de outubro e entende a importância de composições para o segundo turno, que é logo ali.

“Lula é um encantador de serpentes, mas a mim ele não engana mais”
Ciro Gomes, candidato do DPT a presidente

Parlamentares e dirigentes partidários avaliam que Ciro mirou a artilharia em Lula sob o entendimento de que, diante da base cristalizada de Bolsonaro, sua única chance real de pegar impulso nas pesquisas e ir para o segundo turno seria “roubando” votos dos eleitores que apoiam o petista. O pedetista, segundo avaliam, vive uma espécie de “tudo ou nada”. O sentimento, acrescentam, tornou-se ainda mais agressivo quando Simone Tebet começou a crescer, ameaçando sua terceira colocação. Para as lideranças da coligação de Lula, as pesquisas comprovam que Ciro seguiu uma “estratégia equivocada” — a última sondagem do Datafolha o mostrou caindo dois pontos, enquanto Bolsonaro subiu dois — e sinalizam que, por isso, ele pode ter a biografia como um líder progressista comprometida.

“Estou convencido que a gente pode definir essas eleições no primeiro turno”
Lula, candidato do PT a presidente

Apesar do imbróglio, o presidente do PV, José Luiz Penna, aposta que a resistência de Ciro não será suficiente para inviabilizar a entrada do PDT, comandado por Carlos Lupi, no arco de alianças de Lula mais adiante. “Ninguém está pedindo que divergências sejam resolvidas em um passe de mágica. Mas há um cenário maior que exigirá que as organizações políticas e peças que só sobrevivem na vida democrática entendam o momento e se únam”, pontua. “Lupi não cairá nessa briga”, completa. O palpite de Penna, como de todos os demais dirigentes das siglas da coligação, leva em conta a história. A tese é: se, em 2018, o PDT declarou um “apoio crítico” ao PT sob o argumento de que buscava “evitar a derrocada da democracia”, seria incoerente seguir por um caminho diferente quatro anos depois, quando Bolsonaro ameaça abertamente uma ruptura e a violência política toma o país.

É justamente pela tradição de alinhamento que os nomes mais engajados na campanha defendem um tom de parcimônia na quinzena final que antecede a votação e pregam que, no debate da Globo, previsto para 29 de setembro, Lula não parta para o confronto direito, relembrando da ida de Ciro a Paris, atendo-se a ressaltar ter conseguido formar o que chamam de uma “frente ampla”, com nomes como Marina Silva e Geraldo Alckmin. O movimento, crêem, serviria tanto para atrair o voto útil quanto para pintá-lo como a melhor opção em um segundo round da disputa presidencial. “O PDT não vai misturar as mágoas de Ciro com o futuro do país e os eleitores dele sabem separar estratégia equivocada de responsabilidade histórica”, argumenta o líder do PT na Câmara, Reginaldo Lopes.

Altos e baixos

Os altos e baixos são de longa data. Em 2010, Ciro pretendia concorrer à Presidência pelo PSB, mas teve a candidatura retirada pelo então chefe da sigla, Eduardo Campos, que declarou apoio a Dilma Rousseff. Oito anos depois, viu Lula atuar da cadeia para desconstruir sua candidatura ao Planalto — o petista chefiou as negociações que levaram o PSB a declarar neutralidade nas eleições, o que isolou o pedetista, que teve só 33 segundos de propaganda na TV e no rádio e perdeu palanques. Em 2022, não foi diferente e Lula assediou o PDT para que Ciro fosse rifado. Lupi reclamou publicamente das investidas. “Por que tanta gente trabalhando para nos minar, nos entregar? Nos vençam no voto. É da democracia”, disse, em um vídeo divulgado nas redes nesta semana.

No conturbado cenário, Ciro já prometeu que, se derrotado neste ano, vai pendurar as chuteiras. Devido à mágoa, no entanto, o pedetista pode fazê-lo da pior forma possível. É que o isolamento no cenário nacional brecou a formação de alianças do PDT nos estados, aumentando as chances de fracasso de candidatos a governos e ao Senado. O risco é que, para além de Ciro, o partido saia menor das eleições.

Compartilhar Conteúdo

444