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A OFENSIVA NO LIMITE

William Waack / FOLHA DE SP

 

No jargão militar a palavra “culminar” significa atingir o ponto máximo, mas sem ter alcançado o objetivo. Nesse sentido, o que aconteceu no 7 de Setembro foi um sinal de que a atual ofensiva de Jair Bolsonaro culminou.

 

A demonstração de força gerou as pretendidas imagens de nutrido apoio. E a sensação, entre apoiadores de Bolsonaro, de que as pesquisas “mentem”. Como não acreditar que está com a reeleição garantida, se foi capaz de colocar tanta gente na rua?

 

Manifestações dessa magnitude ajudariam, teoricamente, a virar um jogo eleitoral até aqui desfavorável para Bolsonaro. O problema é a distância em que ele se encontra de um ponto de inflexão em relação a Lula.

 

Essa distância está bastante clara em dois números. O primeiro é a taxa de rejeição. Nunca antes neste País alguém se elegeu com uma taxa de rejeição como a de Bolsonaro (a de Lula é mais baixa). E que teima em permanecer alta. Seus apoiadores podem se perguntar como é possível, olhando em volta, acreditar numa taxa de rejeição tão alta. O problema para eles é que, olhando em volta, só enxergam outros apoiadores.

 

O presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro, durante o desfile cívico-militar do Bicentenário da Independência, em BrasíliaO presidente e candidato à reeleição, Jair Bolsonaro, durante o desfile cívico-militar do Bicentenário da Independência, em Brasília Foto: Wilton Júnior/Estadão - 7/9/2022

 

O segundo número é igualmente eloquente. É pequena a distância que separa a intenção de voto estimulada da intenção de voto espontânea, tanto para Lula como para Bolsonaro. Séries históricas confiáveis demonstram que ambos estão bem próximos de seus respectivos “tetos” de votos. O “teto” é atingido quando é pequena a distância entre o voto espontâneo e o estimulado.

 

Ou seja, chegaram até onde dava, e não existe muito espaço para Lula e Bolsonaro alterarem o que as pesquisas dizem que eles possuem hoje. Ocorre que é grande a vantagem do “teto” de Lula em relação ao “teto” de Bolsonaro. Essa vantagem tem variado (nos últimos tempos em favor de Bolsonaro), mas se manteve sólida nos últimos 12 meses.

 

Portanto, para ser o “evento decisivo” numa corrida eleitoral, a mobilização do 7 de Setembro em favor de Bolsonaro teria de conseguir alterar o quadro mais geral. É a persistente liderança de Lula nas camadas mais pobres, inclusive no Sul e Sudeste. Dependendo da base de dados que se utiliza, essa faixa supera a metade do eleitorado – e é justamente a faixa menos envolvida ou “arrebatada” nos embates político-eleitorais.

 

E a mais suscetível ao custo de vida e bondades do governo, algo que até aqui não funcionou (pelo menos não na proporção esperada) em favor de Bolsonaro. As ferramentas da ofensiva já foram todas colocadas em campo: ajuda emergencial, uso da máquina pública, maciça barragem de artilharia de propaganda e, culminando no 7 de Setembro, a grande mobilização de rua.

 

A esperança agora é o tempo até o segundo turno.

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