Debate é mais essencial para educar candidatos do que esclarecer eleitores.
Colunista do UOL
26/08/2022 18h20
Realiza-se no domingo o primeiro debate presidencial da campanha de 2022. Deve-se a iniciativa a um pool formado por UOL, Folha, TV Bandeirantes e TV Cultura. Todos os candidatos aptos a debater já confirmaram presença, exceto dois. Lula condiciona sua participação à presença do seu principal rival. Bolsonaro faz declarações dúbias. Ora diz que não vai, ora insinua que pode dar as caras. Só há uma coisa pior do que o antipetismo ou o antibolsonarismo primário. É o pró-petismo ou o pró-bolsonarismo inocente, que se dispõe a engolir todas as presunções de Lula e Bolsonaro a seu próprio respeito. Isso inclui aceitar a tese segundo a qual o coronel da esquerda e o capitão da direita vieram ao mundo para desempenhar uma missão que, por ser divina, é indiscutível..
Todos os líderes políticos cultivam a fantasia da excepcionalidade. Mas Lula e Bolsonaro exageram. Ambos têm a pretensão de personificar a moral. Acham que a noção pessoal de superioridade anistia as suas falhas e perversões. São movidos por uma fé que lembra a origem, cristã ou socialista, da maioria dos seus devotos.
O ingrediente da dúvida está excluído de ambos os credos. Num caso, a presunção de virtude vem de revelações divinas. Noutro, vem de uma certa inevitabilidade dos processos históricos.
Não é a hipocrisia de Lula e Bolsonaro que assusta. A hipocrisia pelo menos é uma estratégia compreensível para pessoas que têm um enorme passado pela frente. O que espanta é perceber que, em certos momentos, o primeiro e o segundo colocado nas pesquisas parecem acreditar de verdade que sua missão sublime no planeta lhes dá o direito de transformar as eleições num circo que sonega a exposição de meia dúzia de projetos e explicações a um eleitorado que banca a bilheteria de R$ 5 bilhões do fundão eleitoral.
Hoje, o debate presidencial é mais essencial para a educação democrática dos candidatos do que para o esclarecimento do eleitor.