Sem sobressaltos, disputa entre Lula e Bolsonaro caminha para 2º turno; leia análise
Por Rubens Figueiredo / o estadão
Não faltam pesquisas no cenário político eleitoral. Acabam de sair os resultados de um novo levantamento. Desta vez, realizado pelo Ipec – Inteligência em Pesquisa e Consultoria Estratégica. O instituto é dirigido por profissionais egressos do Ibope, uma das mais importantes referências em pesquisas de opinião no Brasil e respeitado internacionalmente.
Está muito chato ser cientista político nessa altura do campeonato. A sociedade altamente polarizada e uma visão absolutamente rasa da atividade transforma a interpretação de dados em algo muito perigoso. Você pode virar bolsonarista-fascista ao ponderar que ele pode crescer nos segmentos com menos renda do eleitorado. Ou lulista-ladrão-comunista se ousar dizer que o recall positivo da gestão Lula dificilmente poderá ser arranhado.
Os dados do Ipec apontam Lula com 44% contra 32% de Bolsonaro, uma diferença de 12 pontos porcentuais. A pesquisa anterior realizada com técnica de coleta de dados semelhante, face a face, é a do Datafolha. Coletados os dados entre 27 e 28 de julho, o resultado foi 47% para Lula contra 29% de Bolsonaro. Uma diferença de 18 pontos porcentuais. Admitindo que ambos os institutos apresentaram resultados dentro dos seus altos padrões de qualidade, a diferença Lula-Bolsonaro diminuiu 6 pontos porcentuais em 15 dias, o que é bastante expressivo.
Dia 16, a campanha começou legalmente, mas o bicho pega mesmo dia 26, com o início do horário eleitoral gratuito. Em 2018, os programas de rádio e TV tiveram um impacto muito reduzido. Geraldo Alckmin, que conseguiu agrupar uma coligação gigantesca, que possibilitou 434 inserções de comerciais de 30 segundos durante o primeiro turno, teve votação pífia. Bolsonaro, com apenas 11 inserções, venceu as eleições.
O histórico das eleições mostra que o rádio e a TV costumam ter grande poder quando algumas candidaturas representam algo que o eleitorado, em sua grande maioria, ainda não sabe. Foi o caso de Collor, o caçador de marajás, na época uma absoluta novidade. Ou quando os eleitores ficaram sabendo que Dilma Rousseff era a candidata de Lula, na época quase um Deus.
Neste ano, tudo indica que as movimentações nos índices de intenção de voto nestes 45 dias de campanha serão modestas. É impossível conceber algo novo que possa macular ainda mais a imagem de Lula. E Bolsonaro faz absoluta questão de mostrar que é exatamente aquilo que é. O eleitor está sinalizando que votará em um com toda certeza e não vota no outro de jeito nenhum. Como Bolsonaro deve crescer um pouco por conta da usina de bondades na qual se transformou o governo, a decisão deve ficar para o segundo turno. Mas sem grandes sobressaltos.
RUBENS FIGUEIREDO É CIENTISTA POLÍTICO