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Vera Magalhães: rejeição mostra que distância entre Lula e Bolsonaro pode cair

Por Vera Magalhães — São Paulo / O GLOBO

 

nova rodada da pesquisa Ideia/Exame confirma a dificuldade de Jair Bolsonaro romper os fatores que praticamente impedem sua reeleição, como a avaliação ruim de seu governo e de seu desempenho pessoal como presidente e o índice daqueles que indicam que não votam nele de maneira alguma, mas alguns dados do levantamento, combinados a acontecimentos recentes e que estão por vir, apontam que a definição do próximo presidente ainda no primeiro turno pode ser mais difícil do que aponta o discurso do PT.

 

O principal dado da pesquisa indicando que a diferença entre Lula e Bolsonaro pode se estreitar na reta final é a rejeição de ambos, cuja distância é bem menor do que aquela mostrada na intenção de votos dos dois. Para Maurício Moura, diretor do Ideia, isso aponta para a tendência de que o antipetismo ainda seja um fator de crescimento de Bolsonaro na reta final da corrida.

Lula tem 44% e Bolsonaro, 33% no cenário estimulado mais provável hoje. Trata-se de uma distância de 11 pontos percentuais, que já foi bem maior, mas vem se mantendo estável nos últimos levantamentos, com oscilações de ambos para cima e para baixo, na margem de erro.

 

Já a rejeição de ambos tem uma distância bem menor. Os que não votariam em Bolsonaro são 46%, enquanto 40% declaram que não votariam em Lula em nenhuma hipótese. Essa diferença de seis pontos é mais factível com o que Moura espera ser o desenvolvimento da campanha de agora em diante, ainda que ele avalie, olhando o conjunto das informações da pesquisa, que a eleição de Lula seja mais provável hoje, e Bolsonaro tenha uma batalha de alta complexidade adiante, para a qual o aumento do Auxílio Brasil e os demais benefícios fora de época e à revelia da lei eleitoral que vai conceder não sejam suficientes nem muito efetivos.

Isso porque, além de crescer entre aqueles que vão deixar para a última hora a manifestação de seu antipetismo, sentimento que a pré-campanha do presidente busca reviver, seria preciso crescer também em outros públicos que, ou declaram voto em Lula ou foram eleitores de Bolsonaro em 2018, mas fugiram dele.

Os grupos focais, de pesquisa qualitativa, portanto, que o Ideia tem realizado além da série histórica de sua pesquisa quantitativa ajudam a entender o tamanho da encrenca posta diante de Bolsonaro — e para a qual seu comportamento golpista de questionamento da lisura das eleições em nada contribui.

No grupo focal com eleitores que ganham de 2 a 5 salários mínimos, aparecem algumas razões profundas de não-voto em Bolsonaro: a forma como ele conduziu a gestão da pandemia de Covid-19, em especial a demora na compra de vacinas, a inflação e outros fatores econômicos e, surpresa para os bolsonaristas, a insatisfação com sua política de segurança pública.

Como esse é um eleitorado concentrado nas grandes cidades, é menos relevante o aumento do Auxílio Brasil, porque, ainda que esse eleitor receba o benefício, seu reajuste de 50% é insuficiente para fazer frente ao peso dos gastos nesses centros urbanos.

Além do fator tempo — não há certeza de que o aumento do Auxílio será capaz de ser relevante mesmo entre os eleitores hoje lulistas, concentrados no Nordeste e de baixa renda, que a medida busca captar — esse fator de que os grandes contingentes de eleitores que poderiam alterar o quadro estão no Sudeste urbano e de 2 a 5 salários mínimos joga contra a pretensão de Bolsonaro.

Para esse público, assim como o de baixa renda, as falas apopléticas de Bolsonaro contra as urnas não surtem efeito algum — nem para angariar votos, mas nem para tirar, nota o diretor do Ideia.

Diante da alta rejeição de Lula e de Bolsonaro e dessa incerteza quanto aos efeitos do dinheiro na veia dos mais pobres que o presidente vai injetar, a possibilidade de decisão da eleição no primeiro turno, que já esteve mais presente em levantamentos anteriores, vai se tornando menos provável.

 

Um fator que poderia ser decisivo para isso seria a migração de votos de Ciro Gomes, que se mantém isolado em terceiro lugar, com 8% das intenções de votos, para Lula. Mas nesse quesito também os grupos focais do Ideia dão pistas de que não será fácil: pesquisas com eleitores do pedetista mostram que a rejeição a Lula não é muito menor que a Bolsonaro entre eles, e não há a manifestação da intenção de migrar para Lula antes a fim de decidir a fatura em 2 de outubro.

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