Mundo político é incapaz de construir uma saída para evitar a degradação do dinheiro público
04 de junho de 2022 | 04h00
É “now or never”, relata o repórter Felipe Frazão, do Estadão, sobre o nome com que o Centrão batizou o plano para resolver a alta dos preços nos postos de combustíveis e garantir a reeleição do presidente Jair Bolsonaro.
O Centrão quer subsídio aos combustíveis, compensação aos Estados para reduzir o ICMS de combustíveis e também aumento de R$ 400 para R$ 600 do Auxílio Brasil. De preferência, tudo junto e misturado.
A escalada da tensão e pressão, que envolve a definição de medida para diminuir o preço dos combustíveis, só terá um resultado certo. Mais um atropelo das normas legais para uma farra eleitoral.
A farra não é com a possibilidade de concessão de um subsídio com custo previsto no Orçamento público para reduzir o impacto dos preços para a população de baixa renda. Essa medida é justificável e já foi feita no passado.
A farra é pela incapacidade do mundo político de construir uma saída por meio de cortes de despesas que não são prioridades ou com medidas sem atropelos e bem comunicadas.
Para começar, por que não se fez um subsídio a partir de cortes de emendas secretas do Orçamento? Essa resposta nem se cogita. Os parlamentares não largam esse osso, mas se dizem preocupados com a população desamparada pelos preços altos.
Na hora da eleição, se faz o diabo.
O exemplo de Brasília se espalha para o Brasil. É um processo de degradação orçamentária em que dinheiro público é usado para financiar milhões em shows de artistas. Em cidades em que falta tudo, inclusive dinheiro para pagar o aluguel a desabrigados das enchentes.
Na pequena Teolândia, na Bahia, R$ 2 milhões seriam usados para um show de artistas, com o cantor sertanejo Gusttavo Lima como estrela maior, se não fosse o cancelamento da festa pela Justiça após a repercussão de reportagem do Estadão.
O custo da festa seria superior a 40% de todo o gasto com saúde realizado na cidade em 2021. Uma verba que se aproxima dos cerca de R$ 2,3 milhões recebidos pela prefeitura do governo federal para fazer frente às chuvas que castigaram o município.
Nada contra o sertanejo Gusttavo Lima. Essa não é uma guerra entre apoiadores do presidente Bolsonaro e do ex-presidente Lula.
Trata-se de cuidar do essencial, das prioridades. Aviso aos defensores de Gusttavo Lima que não gostaram do cancelamento: como dinheiro não tem carimbo, o show em Teolândia estaria, sim, desviando recursos do crédito de emergência para combater os danos das enchentes. O resto é choro dos admiradores do cantor.
*REPÓRTER ESPECIAL DE ECONOMIA EM BRASÍLIA