Mandamentos de Lula começam com um 'não'.
Os mandamentos econômicos de Lula tornaram-se negativos, meio fugidios. À medida que a campanha avança, o presidenciável do PT vai enumerando, a conta-gotas, os preceitos com os quais espera mobilizar os devotos que carregam sua candidatura no andor. Todos começam com "não".
Eleito, Lula não admitirá o teto de gastos. Ele não preservará a reforma trabalhista. Também não aceitará as mexidas feitas no modelo de financiamento sindical. Não tolerará privatizações como a da Eletrobras. Não engolirá a política de preços da Petrobras.
Num evento organizado pela Força Sindical na quinta-feira, Lula declarou que "a mentalidade de quem fez a reforma trabalhista, a reforma sindical, é a mentalidade escravocrata, de quem acha que sindicato não tem que ter força, não tem representatividade."
Michel Temer vestiu a carapuça: "A única intenção do ex-presidente Lula, certa e seguramente, é restabelecer o imposto sindical", disse ao Estadão. "Sendo assim, que o diga expressamente e não faça acusações a quem não retirou nenhum direito dos trabalhadores. Nossa reforma trabalhista acrescentou direitos aos trabalhadores brasileiros". Citou a possibilidade de parcelamento das férias, o registro formal do trabalho intermitente, o banco de horas e o home office.
Na véspera, num encontro com reitores universitários realizado em Juiz de Fora, Lula havia reiterado sua ojeriza ao teto de gastos, outra inovação introduzida na Constituição sob Michel Temer.
Numa campanha marcada pela inanição de ideias, aguarda-se com certa agonia pelo instante em que o primeiro colocado em todas as pesquisas presidenciais começará a dizer o que deseja colocar no lugar da reforma trabalhista e do teto de gastos, já destelhado por Bolsonaro..
Espera-se pelo instante em que Lula informará como planeja conter os reajustes dos combustíveis sem recorrer ao congelamento adotado sob Dilma, que abriu um rombo no caixa da Petrobras.
Há muita ansiedade para saber que precauções Lula planeja adotar para evitar que desçam novamente ao balcão da baixa política as estatais que ele não privatizará se retornar ao Planalto..
Lula leva a sério um raciocínio que expôs na entrevista publicada dias atrás pela revista americana Time: "Nós não discutimos política econômica antes de ganhar as eleições", disse ele.
Lula leva a sério um raciocínio que expôs na entrevista publicada dias atrás pela revista americana Time: "Nós não discutimos política econômica antes de ganhar as eleições", disse ele.
Atrás desse enunciado se esconde o receio de ser arrastado para um debate sobre o estrago produzido na economia durante a gestão de Dilma Rousseff. Foi a ruína de madame que impulsionou, na gestão Temer, a reforma trabalhista e o teto de gastos.
O desejo de Lula de receber do eleitor um cheque em branco não orna com um cenário em que se misturam a carestia, o desemprego e a desesperança. No evento da Força Sindical, Lula fez uma concessão ao óbvio ao dizer o seguinte:.
"Precisamos conquistar credibilidade, para que as pessoas acreditem naquilo que a gente fala. Precisamos ter previsibilidade." Bingo!.
O primeiro passo para dar previsibilidade a um eventual terceiro mandato seria Lula parar de se comportar como um freguês que entra no restaurante, senta-se à mesa, lê o menu e diz ao garçom o que não quer comer. Lula precisa começar a dizer o que quer.