O problema da terceira via está nos candidatos.
A sete meses da eleição, estreita-se a margem de manobra dos presidenciáveis que têm a pretensão de saltar do rodapé das sondagens eleitorais para o segundo turno. Com Lula e Bolsonaro enraizados na primeira e na segunda colocação, solidificou-se o consenso segundo o qual o bloco retardatário, fragmentado, perdeu o rumo. Ou, por outra, tomou o caminho da inviabilidade.
Num cenário em que a soma dos egos dos candidatos é maior do que o universo, os partidos acabaram se afeiçoando ao problema. Em vez de descartar hipotéticas opções, cogita-se acrescentar ao jogo uma carta que parecia fora do baralho. O governador gaúcho Eduardo Leite, derrotado por João Doria nas prévias tucanas, ensaia trocar o PSDB pelo PSD para pleitear o Planalto.
Quem ainda sonha com o surgimento de uma candidatura única na pista do centro precisa puxar uma cadeira. Ou um ronco. Algum enxugamento ocorrerá —menos por estratégia política do que por instinto de sobrevivência. Ralando pela própria reeleição, deputados e senadores não suportam a ideia de dividir a verba pública do fundão eleitoral com presidenciáveis nanicos.
Estimava-se que as cotoveladas começariam entre maio e junho. Foram antecipadas. A menos que o imponderável dê as caras, a corrida de 2022 conduzirá o eleitor para uma encruzilhada parecida com a de 2018. Nela, parte do eleitorado vota num candidato para evitar o outro. A exclusão pode prevalecer novamente sobre a preferência.
Há pelo menos sete personagens engarrafados na pista tentando atrair a atenção de quem não quer votar nem em Lula nem em Bolsonaro. A maioria do eleitorado não é capaz de recitar os nomes de todos os candidatos alternativos. Quem consegue enxergar a cara não vê as ideias.
Pode-se inventar uma série de desculpas para o fenômeno. Mas todas parecerão esfarrapadas se não vierem acompanhadas do reconhecimento de que o problema da terceira via está nos candidatos, não na plateia.