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Eleição presidencial não está definida

Cristiano Noronha / istoé

 

“Ainda há muita água para passar por debaixo dessa ponte.” O ditado popular se aplica perfeitamente à disputa presidencial deste ano. Restam cerca de nove meses até a realização do primeiro turno (2/10) e, segundo as pesquisas de opinião, Lula (PT) começa o ano como favorito. De fato, ele é. Lidera com vantagem, apresentando entre 14 e 22 pontos sobre o presidente Jair Bolsonaro (PL), conforme as sondagens. Mas a eleição não está definida. As pesquisas, por enquanto, não refletem o efeito do pagamento do Auxílio Brasil no valor de R$ 400 sobre a popularidade do presidente e, consequentemente, sobre os índices de intenção de voto. Outro benefício importante é o auxílio-gás, no valor de R$ 52, destinado a 5,57 milhões de pessoas. É possível que os efeitos sejam sentidos a partir de fevereiro.

Hoje, a avaliação negativa do governo supera os 50%. Sem dúvida alguma, trata-se de um grande desafio. Para vencer a eleição, Bolsonaro terá que melhorar esse índice. De acordo com levantamento recente da Genial (6 a 9 de janeiro), 80% dos entrevistados desaprovam a forma como o governo está lidando com a inflação. Para se ter uma ideia, a taxa de desaprovação sobre a questão de emprego, a segunda maior, é de 63%. No ano passado, o IPCA ficou em 10,06%, embora a meta definida pelo Banco Central fosse de 3,75%. Para este ano, o mercado estima uma inflação da ordem de 5%, um percentual mais próximo da meta e que poderá ter reflexo positivo no eleitorado. Os preços dos combustíveis e da energia elétrica pesam muito no bolso do consumidor. O governo também enviará proposta ao Congresso para tentar reduzir os impostos federais nesses dois itens. E este é outro fator que poderá afetar positivamente a avaliação do governo e interferir nas eleições presidenciais.

A importância da máquina pública federal é muito grande: nas últimas décadas, candidatos que tiveram apoio do governo federal numa primeira eleição ou que tentaram a reeleição acabaram indo para o segundo turno, de onde muitos saíram vitoriosos. FHC, por exemplo, foi reeleito em 1998. José Serra, candidato do governo federal, foi para o segundo turno em 2002. Em 2006, mesmo afetado pelo escândalo do mensalão, Lula foi para o segundo turno e venceu. Em 2010, elegeu Dilma. Em 2014, Dilma foi reeleita. Nesse sentido, ao que tudo indica, a terceira via parece ter pouca chance. Lula pode até ter menos votos do que as pesquisas apontam agora, mas dificilmente ficará de fora de um eventual segundo turno. Jair Bolsonaro tem tempo para recuperar terreno perdido e, para isso, conta com o poder da máquina pública. Há pouco espaço para essa polarização ser rompida, apesar da quantidade de água que ainda veremos passar por debaixo da ponte.

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