Quase na mesma
A nova pesquisa Datafolha indica que a entrada do ex-juiz Sergio Moro na disputa presidencial acirra a concorrência na faixa da chamada terceira via, mas não altera o cenário mais amplo que vem se repetindo nas últimas sondagens.
Novamente o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva lidera com folga as intenções de voto para o Planalto em 2022. O petista, em cenário com Jair Bolsonaro (PL), Moro (Podemos), Ciro Gomes (PDT) e João Doria (PSDB), tem a preferência de 48% do eleitorado —fatia que supera a soma dos demais.
Bolsonaro permanece em segundo lugar, com 22%. O mandatário sofreu grande desgaste ao longo do ano e seu apoio vai se reduzindo à base eleitoral mais ideológica e fiel.
Distantes dos dois protagonistas, surgem os nomes que se acotovelam em busca de um lugar ao sol que possa eventualmente levá-los a um segundo turno. Os resultados até aqui não são animadores para esses postulantes.
Nesse pelotão, Moro, que experimentou um momento de considerável exposição ao se filiar ao Podemos e se apresentar como futuro candidato, não foi de todo mal ao marcar 9% das intenções. Resta saber se e como poderá evoluir.
O veterano Ciro empata na margem de erro com o ex-ministro da Justiça de Bolsonaro, com 7%. Já Doria colhe 4% das intenções, percentual fraco em se tratando do governador do estado mais rico da Federação —e nome que frequentou o noticiário de maneira positiva ao liderar esforços pela imunização contra a Covid-19.
É sempre prudente sublinhar que a pesquisa reflete o momento em que se realiza. A dez meses do pleito, não pode ser vista como um desenho que se repetirá nas urnas.
Lula mantém elevado índice de rejeição (34%), o mesmo de Doria; Moro não fica muito atrás: 30% descartam a hipótese de votar nele.
Bolsonaro lidera de longe nesse quesito negativo, com 60%, mas contará com a máquina federal, incluindo o novo Auxílio Brasil, e as alianças fisiológicas no Congresso para tentar recuperar terreno.
O líder petista alimenta a expectativa de uma chapa com o ex-tucano Geraldo Alckmin —o que, em tese ao menos, poderia ajudá-lo a construir uma imagem de candidato mais inclinado ao centro.
Não se veem sinais de que se repetirá em 2022 o fenômeno de negação da política tradicional observado em 2018. Por ora, esboça-se uma clivagem socioeconômica nas intenções de voto, com maior apoio da população de baixa renda e menor escolaridade a Lula, também favorito no Nordeste.
Restam pela frente um delicado debate programático, ainda incipiente, e a exploração dos não poucos aspectos controversos nas trajetórias dos principais candidatos.