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Temporada de caça a candidatos oposicionistas

Carlos Melo / O ESTADO DE SP

 

Foto: GABRIELA BILO / ESTADAO

A operação realizada pela Polícia Federal contra, entre outros, Ciro Gomes e seu irmão é mais um daqueles fatos que se tornaram comuns no Brasil desta quadra histórica. O País se acostumou com notícias e imagens que enxovalham reputações e deprimem, ainda mais, seu ambiente político. Naturalmente, é cedo para qualquer juízo a respeito da responsabilidade dos envolvidos ou da justeza da ação policial, feita com autorização judicial. Todavia, a denúncia é de 2017 e é nesse limiar de ano eleitoral que desponta para a mídia. Coincidência? Impossível não colocar o foco sobre a disputa de 2022.

Ciro Gomes, certamente, não será o único candidato envolvido em acontecimentos do tipo. No domingo, o próprio Jair Bolsonaro foi a público recomendar a assistência e a divulgação de um vídeo de denúncias que busca envolver Sérgio Moro com fatos supostamente discutíveis do seu passado de juiz. Em relação ao ex-presidente Lula, à parte já ter passado pelo purgatório e pelo inferno das acusações, nunca se sabe o quanto mais pode ser levantado dos governos petistas. João Doria, outro candidato-desafeto de Bolsonaro, passou pela administração da Capital e pelo governo paulista, dificilmente não haverá por onde instigá-lo.

Na vida pública, há que se prestar contas; órgãos de controle servem para restringir o espaço e punir maus feitos. Ainda assim, não custa lembrar que, à exceção do incômodo causado por alguns ministros do Supremo Tribunal Federal – notadamente, Alexandre de Moraes –, outros agentes públicos têm se mostrado bem mais condescendentes em relação aos atos do atual presidente.

Nesta semana, Moraes teve que arrancar, a fórceps, da Procuradoria Geral da República, material da investigação preliminar aberta contra Bolsonaro, resultante do relatório da CPI da Covid. Exigiu que o PGR o fizesse “sob pena de desobediência à ordem judicial e obstrução da Justiça”. Semana passada, foi a própria PF que encaminhou ao STF pedido de medidas mitigadoras em relação à pressão política exercida pelo Executivo nos inquéritos de fake news e atos antidemocráticos. Antes disso, este Estadão alertava que “não encontra precedentes” a troca ou afastamento de ao menos 20 delegados de cargos da chefia da PF.

No momento em que o bolsonarismo discute aprovar a liberação da caça esportiva no Brasil, a temporada de caça aos candidatos oposicionistas parece já estar aberta.

Carlos Melo, cientista político. Professor do Insper.

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