PSDB foca em Bolsonaro, esquece Lula e quer a centro-direita contra PT
14 de novembro de 2021 | 03h00
O presidente do PSDB, Bruno Araújo, aproveitou o debate dos candidatos às prévias do partido, no Estadão, para dizer a mais pura, e melancólica, verdade: “Todos os partidos perderam controle na relação direta com as suas bancadas”. Tradução: o bolsonarismo produziu, ou aprofundou, um estouro da boiada no Congresso.
Os governadores João Doria (SP) e Eduardo Leite (RS), candidatos às prévias tucanas, faziam malabarismo para se descolar do fato de que 22 dos 31 deputados federais tucanos votaram a favor da PEC dos Precatórios, ou “PEC da Reeleição” (do presidente Jair Bolsonaro, óbvio).
ACM Neto, presidente do DEM e futuro secretário-geral do União Brasil (DEM-PSL), poderia dizer: “Viram? Não fui só eu”. Exemplo da perda de controle das bancadas, ele não conseguiu manter os votos democratas no deputado Baleia Rossi para a presidência da Câmara.
Quando ACM e Rodrigo Maia, padrinho da candidatura de Baleia, abriram os olhos, era tarde demais. A maioria da bancada já tinha se bandeado para Arthur Lira, candidato de Bolsonaro. Foi assim nas demais bancadas e deu no que deu: a Câmara de Lira está a serviço de Bolsonaro, além de cuidar bem de seus próprios interesses e emendas e mal dos interesses nacionais.
No debate de Doria, Leite e o ex-prefeito de Manaus Arthur Virgílio – o único com passagem por Brasília e Congresso –, Bolsonaro virou batata quente, que Doria e Leite empurravam um para o outro. O sujo falando do mal lavado, porque ambos o apoiaram no segundo turno de 2018.
Suave na forma, ácido no conteúdo, Virgílio provocou: “Não deixe que lhe preguem na face a fama de bolsonarista. Isso não é justo nem digno de você”. Dirigia-se a Leite, mas poderia ser para Doria, que carrega o fardo do “Bolsodoria”.
Os dois viraram críticos do presidente, sobretudo Doria, mas ele ouviu quem entende de comunicação: os craques na “política de esgoto” são Bolsonaro e o gabinete do ódio. Quando entra na deles, Doria sai perdendo.
No debate, os tucanos se esqueceram de Lula, líder inconteste das pesquisas. O PSDB digladiou com PT em todas as eleições, até 2018, e agora aposta no confronto com Bolsonaro para ocupar a centro-direita e voltar à tradição do segundo turno entre PT e PSDB.
Hoje, o PT lidera, o PSDB disputa uma terceira via congestionada, Sérgio Moro é interrogação e Bolsonaro trocou Moro por Valdemar Costa Neto, condenado e preso no mensalão. A eleição está como o diabo e os jornalistas gostam.