Busque abaixo o que você precisa!

Limitados também na esquerda, protestos viram test-drive para 2022

Igor Gielow / FOLHA DE SP
SÃO PAULO

Após o fracasso esperado das manifestações anti-Bolsonaro convocadas pelo que sobrou dos movimentos de direita que ajudaram a derrubar Dilma Rousseff (PT) em 2016, a esquerda sonhava com um ato que provasse sua força contra Jair Bolsonaro.

Afinal de contas, os protestos liderados pelo campo que gosta de se chamar de progressista haviam comandado manifestações robustas contra o presidente em maio e junho, comparáveis pelo maior escopo nacional ao grande 7 de Setembro golpista do inquilino do Alvorada.

Claro, a fotografia dos atos pelos quais Bolsonaro foi forçado a fazer um ato de contrição psicografado por Michel Temer é mais favorável ao presidente pela concentração pontual de Brasília e São Paulo, mas o fato é que a disputa pelas ruas seguia aberta.

Nesse sentido, o protesto deste sábado (2) foi mais um fracasso, ainda que bem relativo. Obviamente, havia bastante gente na avenida Paulista, e bem menos em qualquer dos pontos aferíveis pelo país. Mas o espraiamento das manifestações comprova o que já se sabia: o Fora, Bolsonaro seguirá vivo até a eleição.

O desejo mais puro de quem foi se arriscar em aglomerações, o de um impedimento, é hoje um cadáver insepulto. Como o 7 de Setembro mostrou, há diversos doutores Frankenstein dispostos a tentar reanimá-lo se a oportunidade se colocar, mas a realidade hoje aponta para um Bolsonaro no cargo até a eleição.

Ponto para Luiz Inácio Lula da Silva (PT), o ex-presidente que quer retomar a cadeira em 2022. Como seu empenho inexistente em engajar-se numa campanha politicamente destinada ao fracasso, a do impeachment, mostra, o melhor dos mundos para si é que exista um presidente sob questionamento.

Por outro lado, a falta de tração dos atos também remete ao aparente teto atingido por Lula nas mais recentes pesquisas eleitorais, como a do Datafolha, acerca da corrida eleitoral. Ele está em posição privilegiada, mas a idealizada vitória em primeiro turno parece mais distante, abrindo possibilidades de reação amparadas no antipetismo

O resto, no cálculo petista, é a gravidade: os desmandos da pandemia, o desmoronamento da governabilidade, os crescentes problemas econômicos, a paralisia parlamentar. Uma implosão prematura do governo permite, em tese, uma quebra da entropia e o rearranjo real da centro-direita.

Assim, por ora, atos como o deste sábado servem mais como um test-drive de estratégias para a campanha do ano que vem, que começa exatamente pelos itens da lista de lavandeira de Bolsonaro.

A presença dos lúdicos botijões de gás da "Ultraguedez", símbolo da rediviva inflação, é uma adição bastante eficaz do ponto de vista de marketing eleitoral às já decantadas acusações de "genocida" e "corrupto" impingidas ao governo nos atos anteriores.

Apesar de a pandemia estar pendurada no pescoço do Planalto, com suas quase 600 mil mortes e a inépcia diária de seu manejo da parte federal, há uma percepção clara na oposição de que os problemas econômicos tenderão a dominar boa parte da discussão em 2022.

Mas é só. Lula, como sempre, desapareceu do mapa no intuito de manter a sangria de Bolsonaro ativa, mas não fatal. É seu seguro: o maior risco que hoje o ex-presidente corre, pela leitura de pesquisas, é de que o eleitorado conservador se una em torno de um outro nome que não o do presidente para disputar o segundo turno contra o petista.

Isso é, como se sabe, uma tarefa quimérica para os proponentes da dita terceira via. Que eles não estariam todos abraçados no carro de som da CUT, ao lado do estande que abriga talvez a totalidade dos militantes do PCO lá no vão do Masp, isso foi apenas previsível.

As expectativas de união ventiladas pela esquerda nos últimos dias em nada diferiam daquelas vendidas pelo MBL (Movimento Brasil Livre) antes do protesto esvaziado de 12 de setembro. Fatos são fatos: salvo imprevistos, cada um vai correr na sua raia até o primeiro turno.

Compartilhar Conteúdo

444