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Choque entre Lula e Ciro por 2022 afasta PT e PDT nos estados

Bernardo Mello e Marcelo Remigio / O GLOBO

 

RIO — Com o acirramento da rivalidade entre o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva e o ex-ministro Ciro Gomes, ambos pré-candidatos à Presidência, PT e PDT entraram em choque por alianças locais a pouco mais de um ano para as eleições de 2022. Em estados como São Paulo e Pernambuco, o foco da disputa é o PSB, aliado pedetista nas disputas municipais de 2020 que passou a ser cortejado pelo PT. No Rio, a aproximação entre o PSB e Lula, após a filiação do deputado federal Marcelo Freixo, levou o PDT a acelerar a pré-candidatura de Rodrigo Neves ao governo.

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Ex-prefeito de Niterói, Neves foi filiado ao PT até 2016 e mantém boa relação com lideranças locais do partido, como o vice-presidente nacional petista, Washington Quaquá. Ao lançá-lo como candidato, além de garantir um palanque fluminense para Ciro Gomes, o PDT busca também atrair apoio de nomes de centro como o deputado Rodrigo Maia (sem partido) e o prefeito do Rio, Eduardo Paes (PSD), que vêm sendo cortejados por Freixo, que deixou o PSOL para viabilizar sua candidatura ao governo, e por Lula.

Está previsto, ainda nesta semana, um encontro entre Neves e caciques petistas no Rio, numa tentativa de aproximação inspirada nas alianças entre PDT e PT em 2020 que renderam vitórias em municípios como Niterói, Maricá, Itaboraí e Saquarema. Não está descartado um palanque duplo para Lula e Ciro, mas o arranjo nacional é um obstáculo.

— Rodrigo Neves é um bom nome, com pouca rejeição. Mas o problema todo é o Ciro Gomes, que ainda não entendeu que a disputa para o governo federal será polarizada. E isso tem dificultado a aproximação (com o PDT) nos estados — afirma Quaquá.

No Maranhão, onde há impasse semelhante, Lula conversou com o senador Weverton da Rocha (PDT-MA), pré-candidato ao governo. Weverton é aliado de Ciro e também do governador Flávio Dino (PSB), que apoia Lula.

Em São Paulo, o PT tenta abrir caminho para uma candidatura de Fernando Haddad ao governo e, para isso, fez acenos ao ex-governador Márcio França (PSB). A sondagem petista para lançá-lo ao Senado numa chapa com Haddad esbarra na vontade do próprio França, que tende a apoiar uma candidatura de Geraldo Alckmin (PSDB) ao governo. De olho nos movimentos do PT e tentando manter-se aliado ao PSB paulista, o PDT passou a incentivar nos bastidores um apoio a Alckmin, que deve sair do PSDB e poderia ter França como vice, repetindo o arranjo que foi vitorioso em 2014.

Em Minas Gerais, segundo maior colégio eleitoral do país, PT e PDT disputam a melhor posição numa chapa do prefeito de Belo Horizonte, Alexandre Kalil (PSD), ao governo. Kalil ainda não sinalizou apoio nem a Lula, nem a Ciro. Alguns dos nomes que orbitam a provável candidatura de Kalil, como o presidente da assembleia legislativa, Agostinho Patrus (PV), têm boa relação com lideranças petistas. Uma alternativa costurada pelo PDT para garantir palanque a Ciro é trazer de volta à política o ex-prefeito Márcio Lacerda (PSB), rival do PT local.

- Foto: Editoria de Arte
- Foto: Editoria de Arte

Nordeste em disputa

No Ceará, Lula tem se empenhado em lançar o governador Camilo Santana (PT) ao Senado e pode costurar um apoio do PT ao ex-senador Eunício Oliveira (MDB) para a sucessão estadual. Eunício vem defendendo publicamente a candidatura de Lula contra Ciro, de quem é rival. Já a chapa pedetista ao governo deve ser encabeçada pelo ex-prefeito de Fortaleza Roberto Cláudio, aliado de Camilo. Recentemente, Eunício alfinetou Cláudio nas redes sociais, insinuando que o adversário teria dado apoio a Eduardo Girão (Podemos), hoje aliado do governo Bolsonaro no Senado, para deixá-lo sem mandato em 2019.

Com a candidatura de Camilo, o PT busca ampliar sua base no Congresso e retirá-lo de palanques do PDT, ou ao menos dividir seu apoio.

— Não creio que Lula vá querer comprar essa briga no Ceará. Camilo vai ter uma certa dificuldade para se equilibrar, mas acredito que, sendo candidato ao Senado, apoiará o PDT ao governo — afirmou o presidente do PDT, Carlos Lupi.

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Ainda no Nordeste, PT e PDT estão decididos a ficar em lados opostos em Pernambuco. Após uma disputa familiar tensa em Recife entre os primos João Campos (PSB), eleito em segundo turno, e Marília Arraes (PT), lideranças petistas acenaram com um apoio ao PSB em 2022 para a sucessão do governador Paulo Câmara, que tem mostrado simpatia à candidatura de Lula. Campos, por sua vez, encabeça a ala do PSB que prega uma terceira via, mas não defende publicamente, por ora, a candidatura de Ciro, que o apoiou em 2020. Para diminuir as resistências à aliança, o PT tem sinalizado ao PSB que Marília perdeu espaço e tenta agendar um encontro entre Lula e Campos.

O movimento desagradou o PDT, que passou a conversar com nomes de oposição ao PSB, como o ex-senador Armando Monteiro (PSDB) e o prefeito de Petrolina, Miguel Coelho (MDB), filho do líder do governo Bolsonaro no Senado, Fernando Bezerra (MDB-PE).

— Nada contra o Lula, que está no seu direito, mas esse assédio ao PSB ligou o sinal amarelo para nosso plano de ter palanque para o Ciro. Conversamos com nomes da oposição e podemos buscar outras siglas, como o DEM, com as quais temos boa relação em outros estados — disse o deputado Wolney Queiroz (PDT-PE).

No Piauí, como o governador Wellington Dias (PT) deve reunir sua base em torno de Lula, o PDT já abriu conversas com o Ciro Nogueira (PP-PI), aliado de Bolsonaro e pré-candidato ao governo.

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