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Há espaço, mas faltam propostas

O Estado de S.Paulo

08 de maio de 2021 | 03h00

Nota-se o cansaço da população em relação ao governo de Jair Bolsonaro. Muitas vezes, mais do que cansaço, o sentimento é de exasperação. Junto a isso, há toda uma perplexidade a respeito do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Aquele que, por força da Lei da Ficha Limpa, estava há tempos alijado do cenário político e recebeu de repente a oportunidade de participar das próximas eleições – se acaso, sempre é bom lembrar, não houver até o pleito uma nova condenação criminal em segunda instância.

A princípio, tal cenário, marcado por duas figuras políticas altamente desgastadas perante a opinião pública, seria a oportunidade ideal para o surgimento de uma terceira via, capaz de oferecer uma alternativa política de centro. Basta ver que, atualmente, poucas pessoas acreditam que algum dos dois, Lula ou Bolsonaro, preencha de fato as condições clássicas para o exercício da atividade pública: honestidade e competência.

Da mesma forma, poucos defenderão, de forma sincera e convicta, a proposta política de Lula ou a de Bolsonaro. A experiência da administração petista no governo federal não deixou saudade. O legado do PT no Palácio do Planalto foi a disseminação pelo País de um profundo antipetismo, como se viu nas eleições de 2018 e também nas de 2020. Depois que a população entendeu o modo como o PT trata a coisa pública, o partido de Lula encolheu.

Ao mesmo tempo, o governo de Jair Bolsonaro não desperta entusiasmo. Em menos de dois anos e meio, ficou evidente sua inaptidão para realizar e construir o que quer que seja. Pelos resultados na saúde, na educação e no meio ambiente, destruir parece ser a sua especialidade.

No entanto, a despeito de todo esse espaço para novas ideias e nomes, ainda não surgiram propostas políticas responsáveis e viáveis.

Sintoma dessa ausência de propostas é a menção, cada vez mais recorrente, à atual política econômica dos Estados Unidos, como se bastasse copiar aqui o que o presidente Joe Biden tem implementado lá. Os dois países têm problemas e circunstâncias completamente diferentes. Simplesmente brandir o plano americano é prova cabal de que ainda não se tem uma proposta para o Brasil.

Em recente artigo no Estado (Hora da decisão, 2.5.2021), o ex-presidente Fernando Henrique Cardoso comentou a necessidade de que, no regime democrático, propostas viáveis sejam apresentadas a tempo. “Convém, portanto, não apenas aceitar resultados eleitorais, mas propor alternativas. É esta a fase em que estamos: os arreganhos de uns e outros deixam entrever que há vários caminhos. É hora para os candidatos se apresentarem e dizer o que propõem. E me refiro aos candidatos de diversos partidos. Além de que, como se sabe, há mais de um candidato em alguns partidos”, escreveu.

É tempo, portanto, da apresentação de propostas viáveis e responsáveis para a economia, a saúde, a educação e o meio ambiente. O desafio de uma candidatura de centro é, por exemplo, muito maior do que apenas criticar a atuação do governo de Jair Bolsonaro ao longo da pandemia de covid-19.

Mesmo sendo evidentes, os erros, as omissões, os atrasos e o brutal negacionismo de Jair Bolsonaro no combate à covid-19 devem ser denunciados pelas lideranças políticas. Não se pode tolerar o desprezo à saúde e à vida da população manifestado de forma reiterada pelo presidente Jair Bolsonaro. No entanto, não suscitará entusiasmo na população o candidato que se dedicar apenas a criticar a conduta de Jair Bolsonaro na pandemia.

O País precisa urgentemente de propostas viáveis para o futuro. Há muito o que fazer, corrigir, reconstruir e inovar em todas as áreas. Há importantes reformas a serem feitas, por exemplo, a tributária, a administrativa e a política.

Para ser viável eleitoralmente, uma candidatura de centro não pode apenas dizer o que não é e o que não quer, criticando Lula e Bolsonaro, mas sem dizer o que propõe. É tempo de propostas. É preciso conquistar a confiança da população com propostas responsáveis, que descortinem de fato um horizonte além do lulismo e do bolsonarismo.

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