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Líderes nas pesquisas perdem vantagem em capitais após abstenção alta e mudanças na reta final

Bernardo Mello / O GLOBO

 

RIO - Em dez das 18 capitais que terão segundo turno, candidatos que apareciam na liderança das pesquisas na última semana tiveram queda em suas vantagens para os adversários, em meio à alta abstenção e movimentos de última hora do eleitorado. Em alguns casos, como Rio, São Paulo e Recife, a redução foi de até dez pontos percentuais. Na maioria dessas grandes cidades, contudo, as pesquisas captaram as preferências do eleitorado, ainda que os números finais tenham variado.

Apenas em três disputas - Rio Branco, Boa Vista e Porto Alegre - concorrentes que não lideravam até a última pesquisa do Ibope antes do primeiro turno acabaram na dianteira após a apuração das urnas.

Os levantamentos do Ibope antes do primeiro turno apontaram sete reeleições que se confirmaram no domingo: Belo Horizonte, Campo Grande, Curitiba, Florianópolis, Natal, Palmas e Salvador. Outras sete capitais não tiveram variações significativas em relação ao último cenário apontado pelo Ibope, na semana passada. Em Aracaju, Cuiabá, Fortaleza, Goiânia, Maceió, Manaus e Porto Velho, as variações no resultado ficaram dentro da margem de erro.

Na contramão das dez cidades que tiveram redução da liderança, Vitória, capital do Espírito Santo, foi a única em que o líder ampliou sua vantagem no primeiro turno: Delegado Pazolini (Republicanos), que havia ultrapassado João Coser (PT) na reta final, mas seguia tecnicamente empatado, apareceu com nove pontos de vantagem (30% a 21%) na apuração dos votos.

Ibope e Datafolha dizem que as pesquisas são "retratos" de momentos do cenário eleitoral, que pode mudar ao longo dos dias, e que mais importante do que os números em si é o "filme", isto é, a trajetória dos candidatos. Na capital fluminense, por exemplo, o Datafolha detectou uma oscilação positiva do prefeito Marcelo Crivella (Republicanos) na última semana, após ter recebido o apoio do presidente Jair Bolsonaro. Em Rio Branco, capital do Acre, Tião Bocalom (PP) tinha avançado sete pontos no início da última semana, e manteve a trajetória de alta. Em Porto Alegre e Rio Branco, por outro lado, as pesquisas não captaram tendências de crescimento de Sebastião Melo e Arthur Henrique, ambos do MDB.

Abstenção localizada

No Rio, Eduardo Paes (DEM) figurava com 41% dos votos válidos na véspera da eleição, segundo o Ibope, contra 16% de Crivella. O Datafolha apontava 18% para o atual prefeito. Na apuração, Crivella terminou com 21,9%, mais próximo ao resultado apontado na pesquisa boca de urna do Ibope, enquanto Paes teve 37%. O mapa de abstenções do Rio aponta taxas maiores de não comparecimento nas zonas eleitorais da Barra da Tijuca e da Zona Sul, onde Crivella foi menos votado. O prefeito, por outro lado, teve melhor desempenho em bairros da Zona Oeste onde a abstenção ficou por volta de 25%, bastante abaixo da média da cidade, de 33%.

-- A abstenção elevada foi decisiva para mudanças de última hora, e isso dificilmente é detectado pelas pesquisas, até mesmo pela boca de urna. Mas é preciso lembrar que Crivella também vinha apresentando um crescimento orgânico na última semana, segundo as pesquisas - avaliou o cientista político Josué Medeiros, do Núcleo de Estudos sobre a Democracia Brasileira (Nudeb) da UFRJ.

Em São Paulo, onde a taxa de abstenção total foi de 29%, os maiores índices apareceram na região central da cidade, onde tanto Bruno Covas (PSDB) quanto Guilherme Boulos (PSOL) tiveram suas maiores votações. Na véspera da eleição, Covas figurava com 38% dos votos válidos, segundo o Ibope. Na apuração, o prefeito terminou com 32,8%. Boulos, que marcava 16% no sábado de acordo com o Ibope, podendo chegar a 19% pela margem de erro, apareceu com 25% na pesquisa boca de urna. No resultado final, porém, o candidato do PSOL teve 20,2% dos votos válidos.

Em Recife, por outro lado, a abstenção ficou entre as menores do país: 20%. Lá, segundo o cientista político Josué Medeiros, o estreitamento da vantagem entre João Campos (PSB) e Marília Arraes (PT) pode estar menos relacionamento ao comparecimento de eleitores -- ambos os candidatos tiveram “manchas” parecidas de votação -- e mais a um possível desgaste do PSB. O partido ocupa o governo de Pernambuco desde 2002, ano da vitória de Eduardo Campos, falecido pai de João Campos, e também engatou dois mandatos consecutivos na prefeitura da capital com Geraldo Julio. Marília Arraes, que vinha crescendo acima da margem de erro nas pesquisas, terminou o primeiro turno apenas dois pontos atrás de Campos (29% a 27%). Na véspera, a vantagem era de 13 pontos.

-- É algo que se costuma chamar de “fadiga de material”. Quando há algum tipo de desgaste do grupo político, é natural que o eleitor procure uma alternativa na reta final - afirmou Medeiros.

Evoluções de última hora

Em Porto Alegre, Manuela D'Ávila (PCdoB), que tinha 40% dos votos válidos na véspera da eleição segundo o Ibope, contra 25% de Sebastião Melo (MDB), terminou o primeiro turno dois pontos atrás do adversário (31% a 29%). Na semana passada, Melo havia iniciado uma arrancada nas pesquisas após receber o apoio do partido de José Fortunati (PTB), que desistiu da candidatura. Outras reviravoltas aconteceram em Boa Vista e Rio Branco, capitais que tiveram sua última pesquisa alguns dias antes do primeiro turno. Nelas, Arthur Henrique (MDB) e Tião Bocalom (PP) ultrapassaram seus adversários e chegaram perto de vencer no domingo, alcançando o patamar de 49% dos votos válidos.

Em três capitais do Nordeste - João Pessoa, Teresina e São Luís -, candidatos que lideravam as pesquisas viram sua vantagem cair no dia da eleição. A maior variação ocorreu na capital paraibana, onde Cícero Lucena (PP) passou de 27% dos votos válidos, segundo pesquisa Ibope na véspera da eleição, para 20% após a apuração. Lá, o segundo colocado, Nilvan Ferreira (MDB), também oscilou negativamente, passando de 20% para 16%, dentro da margem de erro. Ferreira foi ao segundo turno com menos de 1 mil votos de diferença para o terceiro colocado, Ruy Carneiro (PSDB).

Em Belém, embora o líder Edmilson Rodrigues (PSOL) tenha flutuado dentro da margem de erro, Delegado Eguchi (Patriota) confirmou um viés de alta na reta final e ultrapassou Priante (MDB) para chegar ao segundo turno. Eguchi, que figurava com 13% dos votos válidos na véspera da eleição, obteve 23% na apuração.

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