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MDB e PP fazem a principal dobradinha nas coligações para prefeito nas eleições de 2020

Por Gabriela Caesar, G1

 

A aliança de MDB e PP é a mais frequente entre os candidatos a prefeito nestas eleições. Em 71 municípios, o MDB é o cabeça de chapa na coligação com o PP. Já o PP lidera a aliança com o MDB em outras 68 disputas pela prefeitura. O MDB também aparece nas outras três coligações mais frequentes nestas eleições, junto com PSDB, PSD e PL.

O levantamento foi feito pelo G1 com base no repositório de dados do Tribunal Superior Eleitoral (TSE). As coligações continuam sendo permitidas na disputa para prefeito, mas estão proibidas na corrida para vereador a partir deste ano.

As alianças de MDB e PP são, inclusive, mais frequentes do que o lançamento de candidaturas a prefeito de partidos pequenos, como PMB, PSTU, Novo, PCO e UP.

"Principais dobradinhas nas coligações para prefeito em 2020: alianças partidárias valem para a disputa a prefeito; coligações estão proibidas para vereador a partir destas eleições — Foto: Aparecido Gonçalves / G1" width="650" height="1005" layout="responsive" i-amphtml-layout="responsive" style="box-sizing: inherit; display: block; position: relative; overflow: hidden !important; --loader-delay-offset:346ms !important;">Principais dobradinhas nas coligações para prefeito em 2020: alianças partidárias valem para a disputa a prefeito; coligações estão proibidas para vereador a partir destas eleições — Foto: Aparecido Gonçalves / G1

Principais dobradinhas nas coligações para prefeito em 2020: alianças partidárias valem para a disputa a prefeito; coligações estão proibidas para vereador a partir destas eleições — Foto: Aparecido Gonçalves / G1

Na eleição municipal de 2016, a coligação mais frequente foi de PT e PCdoB, seguida por MDB e PT e MDB e PSDB.

Nestas eleições, a coligação mais ampla é registrada em Aparecida de Goiânia (GO) na chapa do prefeito Gustavo Mendanha, que concorre à reeleição em chapa junto com o candidato a vice-prefeito Vilmar Mariano. Ambos são do MDB e receberam o apoio de outros 18 partidos. Entre eles estão PSL, PT e até o PCdoB.

A assessoria de Mendanha afirma que a coligação deve crescer ainda mais, com a inclusão do PROS, que desistiu da candidatura a prefeito. Segundo a nota, o candidato “aprendeu a importância de ser conciliador” quando foi vereador e ocupou a presidência da Câmara Municipal e também recebeu apoio nestas eleições de quem foi oposição em 2016.

Coligação ampla ajuda a construir base

O professor de ciência política da Universidade de Brasília (UnB) André Borges lembra que, ao construir uma coligação ampla, o candidato, caso eleito, deve ter facilidades para construir uma base de apoio com maioria no Legislativo. Ele afirma que, ao formar a aliança, os partidos da coligação já constroem um plano de governo, discutem pautas e até fazem campanha juntos.

“Montar uma coligação eleitoral aumenta as chances de se ter maioria do Legislativo. Quando você monta uma coligação, esses partidos geralmente vão fazer um acordo no entorno de programa de governo. O partido cabeça de chapa pode pegar sugestões dos outros partidos. Além disso, a coligação faz com que esses partidos desenvolvam uma relação de confiança. Se você já cooperou durante a campanha, depois, quando acaba a eleição, vai ser mais fácil para esses partidos trabalharem juntos no governo", afirma o professor.

Ele acrescenta que isso facilita a governabilidade, já que dificilmente apenas o partido do prefeito eleito terá a maioria das cadeiras, considerando a fragmentação partidária no Brasil.

“Do ponto de vista dos outros partidos [que compõem a coligação], há uma lógica parecida. Vai entrar na coligação porque já está na expectativa de, se a coligação for vencedora, ganhar um cargo, ser recompensado com uma secretaria municipal.”

Em cidades com mais de 200 mil habitantes, onde há eleição em dois turnos, Borges acrescenta que os partidos podem optar por formar uma aliança apenas após o primeiro turno, e afirma que esse apoio pode custar mais caro.

Nos municípios onde há apenas um turno, o apoio partidário pode vir antes do início da campanha, e o próprio eleitorado tende a adotar o voto útil, deixando de lado quem não tem tantas chances na disputa.

“Na eleição em turno único, a vitória é por maioria simples. Ou seja, o candidato que tem mais votos ganha. Neste caso, como não vai ter segundo turno, o partido pequeno, que sabe que terá apenas 5% dos votos, não tem chance e já forma uma coligação eleitoral. Além disso, mesmo se os partidos não agirem dessa forma, a eleição em turno único estimula o voto estratégico, que é o voto útil. Se o candidato favorito está no terceiro lugar, mas não tem chance de ganhar, você escolhe alguém entre os mais bem colocados.”

Alianças 'inesperadas'

No levantamento do G1, o PSL, partido pelo qual Jair Bolsonaro concorreu em 2018, se aliou principalmente a PP, PSD, PSDB e MDB. Há, porém, mais de 100 casos em que PSL e PT, rivais nas eleições presidenciais, formam juntos coligações eleitorais, acompanhados de outras siglas.

As principais alianças do PT também são com partidos grandes, com maior capilaridade, como PP e MDB. Logo depois, aparecem ainda PDT e PCdoB como partidos mais coligados.

O cientista político Bruno Schaefer, pesquisador da Universidade Federal do Rio Grande do Sul (UFRGS), afirma que as coligações “inesperadas”, como a união de PSL e PT, são mais frequentes em municípios menores, onde o “significado de esquerda, direita e centro variam de acordo com as elites locais que empunham esta ou aquela bandeira”.

Ele acrescenta ainda que as coligações partidárias tendem a refletir o panorama nacional em cidades mais populosas e nas capitais, o que tem a ver, entre outros fatores, com o grau de controle dos diretórios nacionais dos partidos.

“Por exemplo, em 2012, em 739 municípios (dos 3.918) com até 20 mil habitantes, PT e PSDB estiveram coligados. Este número vai a zero quando considerados municípios com mais de 500 mil habitantes. PT e PCdoB, por sua vez, estiveram juntos em pouco mais de 12% dos municípios com até 20 mil habitantes, mas em mais de 50% dos municípios com mais de 500 mil habitantes.”

Borges reforça que "a eleição local não tem, muitas vezes, relação com o que acontece no plano nacional". Ou seja, dois partidos que têm posições antagônicas no Congresso ou na disputa presidencial podem se unir em um pequeno município.

“Aquele político está pensando na sua sobrevivência local. Não está pensando necessariamente naquilo que é bom para o partido no ponto de vista nacional. Às vezes, as alianças podem fazer sentido do ponto de vista estratégico, pragmático", disse. Para ele, porém, isso não é positivo para o sistema brasileiro.

“Isso não contribui para que os eleitores consigam diferenciar os partidos. Num sistema partidário em que qualquer aliança é possível, então ele não é nem um sistema partidário, é uma geleia geral. Se tivesse consistência, se fosse programático, você imaginaria que não faz sentido uma aliança entre o PT e PSL, mas parece que há município onde isso vai acontecer. Fica difícil de entender. Como pode?”, questiona.

Formação de coligação

Schaefer lembra ainda que, ao construir uma ampla coligação eleitoral, o candidato a prefeito consegue mais tempo de TV e rádio, considerado um "ativo eleitoral importante, principalmente quando consideramos localidades onde a cobertura de internet é frágil ou inexistente".

Além disso, a construção de uma coligação enfraquece concorrentes, "na medida em que aproxima recursos (correligionários, militantes, dinheiro) que, de outra forma, poderiam abastecer outras campanhas". O pesquisador da UFRGS diz ainda que os dois fatores principais que tendem a influenciar a formação de uma coligação são a proximidade ideológica e racionalidade eleitoral.

Por exemplo, se os partidos compartilham de pautas e visões de mundo, então faz sentido eles estarem juntos em uma disputa eleitoral. Porém, dependendo do contexto político, os partidos também podem optar pela aliança com um partido de outro espectro político e, assim, ampliar a parcela de eleitores na tentativa de aumentar o número de votos.

Ele destaca ainda que trabalhos da ciência política já demonstraram haver maior chance de vitória eleitoral para partidos que estão coligados. Ao mesmo tempo, acrescenta Schaefer, candidatos que buscam a reeleição também têm vantagens em atrair parceiros e conseguir construir coligações eleitorais, embora ainda sejam considerados a avaliação do candidato e o potencial de vitória.

“O fato de ter mandato (ser prefeito), significativa, geralmente, capacidade de atrair parceiros para a coligação, como podemos ver, por exemplo, no caso da disputa para a prefeitura de São Paulo (Bruno Covas). Essa relação, no entanto, é mediada pela avaliação e potencial de vitória do candidato que busca a reeleição”, diz.

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