BRP Pergunta: ‘PT talvez seja o partido mais preocupado com eleição’, diz Aragão
Equipe BR Político / O ESTADO DE SP
Nesta quinta-feira, 5, começa a janela partidária, período de 30 dias em que vereadores podem trocar livremente de partido sem perder seus mandatos. Como você leu no relatório Fique de Olho desta semana, segundo analistas ouvidos pelo BRP, enquanto partidos tentarão atrair vereadores para melhorar sua base eleitoral para a eleição de 2020, parlamentares devem buscar siglas que ofereçam estrutura de apoio e verba para campanha.
Segundo o cientista político Murillo de Aragão, da consultoria Arko Advice, o PSL tem carro, mas não tem piloto. Para ele, o PT talvez seja o partido mais preocupado com as eleições de outubro. Se for mal no pleito, a chance de ir bem em 2022 se reduziria.
BRP – Qual será o fator de barganha dos partidos para atrair políticos durante a janela partidária?
Murillo de Aragão – O fundo eleitoral é um fator decisivo, já que não há mais financiamento privado de campanha e o financiamento individual é escasso. Os candidatos que querem ser competitivos vão preferir estar filiados a siglas que têm um fundo partidário forte. Essa é a vantagem dos partidos tradicionais frente aos demais.
Pode haver filiações que não representem identificação entre candidato e partido?
Sem dúvida. O partido no Brasil é uma instituição muito fraca. Poucos políticos se filiam aos partidos por identificação ideológica ou programática, é mais por uma questão de competitividade eleitoral. A decisão de se filiar é não a existir, obviamente, um antagonismo ideológico. Então, a ideologia entra como um fator excludente, não como decisivo na adesão.
Nesse cenário, os partidos de extremos costumam ser excluídos porque o mundo político brasileiro é quase todo de centro, e a maioria dos partidos está dentro desse espectro ideológico de centro-direita e centro-esquerda. Então, a questão ideológica fica relegada a um plano inferior. Nesse sentido, a (questão) financeira ganha relevância e a estrutura partidária eventualmente também.
O PSL não é um partido considerado tradicional, mas terá muita verba pública. Ele se beneficiará do período da janela?
O PSL é o ponto fora da curva, mas que se beneficiou das regras e é um partido que tem fundos partidário e eleitoral muito fortes. Isso pode dar a ele uma vantagem competitiva em alguns lugares. Porém, se não tiver candidato viável, não adianta muito. Hoje em dia não basta ter dinheiro ou estrutura para ganhar. Bolsonaro ganhou a eleição à Presidência sem ambos. Entra aí o fato de que o candidato também tem que ser forte, ter que ter alguma identidade com a comunidade. As eleições municipais tendem a ser, no atual quadro, decididas por razões municipais. É importante que o candidato tenha adesão ao momento da comunidade na disputa pela eleição.
O PSL conseguirá angariar candidatos que já são populares nos municípios?
É possível, mas não vejo, por exemplo, em lugares como São Paulo. Lá, o PSL vai transitar com as figuras que ele já tem, que não são figuras de ponta. No Rio de Janeiro, também não. Em uma analogia com uma corrida de carro, o PSL tem possibilidades, com estrutura e com muito dinheiro. Agora vai depender do piloto. E em todos os lugares a gente não está vendo pilotos fortes disputando pelo PSL.
Qual será o cenário desenhado para a eleição de 2020?
Esta eleição vai ser a primeira nesse novo quadro, tendo um presidente como Jair Bolsonaro e com partidos tradicionais fragilizados pelas derrotas de 2018. É uma eleição de transição, que não vai dizer muito ainda a respeito de 2022. O que vamos observar é que o desejo de renovação que se expressou em 2018 vai se manter agora nessa eleição municipal.
As eleições municipais têm algum efeito no cenário político estadual, mas pouco no federal. Em São Paulo, se um candidato é alinhado a Bolsonaro, será bom para ele, dada a importância da cidade de São Paulo. No Rio de Janeiro, essa importância é menor. Em Belo Horizonte e outros lugares é menor ainda. E aí passa a ser muito mais um jogo estadual do que propriamente federal.
Para o PT, no entanto, é uma eleição muito importante. É muito relevante ver como o PT vai se comportar, qual será o seu desempenho. Isso vai mostrar que eles ainda têm capacidade de articulação e mobilização. Talvez seja o partido que esteja mais preocupado com eleição municipal, porque se eles forem mal, a chance de serem competitivos em 2022 reduz muito. / Roberta Vassallo