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O país do cabeça para baixo ISTOÉ

Era uma vez, numa terra muito distante, o País do Cabeça Para Baixo.
Lá, tudo é ao contrário.
A água, ao invés de descer, sobe pelas cachoeiras.
As árvores crescem de ponta cabeça com as raízes para cima a as copas enterradas no chão.
Os carros andam de ré.
A chuva brota do chão e cai para cima.
As conversas começam com “adeus” e terminam em “oi”.
Nesse país, tudo é o oposto do que a gente imagina.


O que é feio é bonito e o que é bonito é feio.
O que é velho é novo e o que é novo é velho.
Quando você mora no País do Cabeça Para Baixo, compreende que a vida pode ser muito mais fácil.
Por exemplo, as leis são feitas para serem ignoradas então você pode fazer o que bem entender.
Os regulamentos, as regras, existem para serem burlados e sempre tem um jeitinho ou alguém que, por um trocado, resolve seu problema.
Quem mora no País do Cabeça Para Baixo aprende desde criança que estudar não é muito importante, porque não têm escolas para todo mundo.
Nem esgoto, nem hospitais, nem segurança.
Mas tudo bem, porque no País do Cabeça Para Baixo
fartura é faltar.
E mais.
No País do Cabeça Para Baixo pensar no coletivo é investir no ego.
Roubar não é grave.
Principalmente se for político.
Se alguém disser alguma coisa, respondem que tudo é feito pelo bem do povo.
E o povo acredita.
No País do Cabeça Para Baixo, as pessoas acreditam em tudo.
Em promessas, em boatos e até em mentiras deslavadas.
E as verdades, aquelas óbvias e inquestionáveis, todos acham que são mentiras.
Como é tudo ao contrário do que a gente imagina, quanto mais o tempo passa, menos aprendem sobre a vida, sobre as pessoas e sobre o mundo.
Esse ano estão acontecendo eleições no País do Cabeça
Para Baixo.
Eleições são um período onde o País do Cabeça Para Baixo fica especialmente diferente de tudo que já se viu.
Só o Carnaval deles é mais estranho que isso, com todo mundo andando pelado pelas ruas.
As eleições, contando ninguém acredita.
Os dois candidatos que disputam a presidência, por exemplo, são os que mostram bem como pensa quem vive no País do Cabeça Para Baixo.
O primeiro candidato nem é um candidato de verdade.
Está mais para um porta-voz, um candidato de mentira.
É que como o candidato para valer está preso, esse outro ocupa seu lugar.
Isso mesmo que você ouviu: preso.
O tal candidato de verdade foi preso por corrupção, mas, mesmo preso, continua mandando e desmandando no que o candidato de mentira pode falar.
Assim, antes de se pronunciar, o candidato de mentira tem de passar na cadeia para saber o que pode e o que não pode dizer.
Porque no País do Cabeça Para Baixo, preso é solto e solto é preso.
Eu sei, eu sei.
Difícil de acreditar, não é?
Você pode achar estranho, mas é só porque você não vive nesse país.
Muito mais estranho é que quando a bola entra no gol, é escanteio.
Quando vai fora, é gol.
Vai entender.
E tem o outro candidato.
Esse é um sujeito que diz que é “a favor da tortura”, que “tem de fechar o Congresso”, que abertamente se posiciona contra gays, índios, negros, e por aí vai.
Um monte de gente vibra com isso, porque no País do Cabeça Para Baixo o que é bom é ruim e o que é ruim é bom.
Os dois principais candidatos estão empatados nas pesquisas.
Um dos dois vai ganhar e a vida vai seguir seu curso.
Porque o correto, no País do Cabeça Para Baixo, é não ligar para nada.
Em alguns meses, ninguém lembra nem em quem votou, porque no País do Cabeça Para Baixo quem sofre de amnésia é quem lembra de tudo.
E olha, até hoje sempre deu certo.
Que para nós, na verdade, é errado.

MENTOR NETO

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