Voto concentrado no Nordeste será desafio para o PT
Dos 31 milhões de votos obtidos por Fernando Haddad no primeiro turno, quase metade saiu das urnas do Nordeste. A popularidade do PT na região não é nenhuma novidade, mas o partido nunca dependeu tanto de seus principais redutos quanto agora.
Seja qual for o resultado da corrida presidencial, a composição do eleitorado petista passa por uma mudança este ano. O desgaste profundo da imagem da sigla e o avanço de Jair Bolsonaro (PSL) na classe média impulsionam esse rearranjo.
O eleitorado nordestino foi responsável por 46% dos votos dados a Haddad no dia 7. O peso da região é o mais alto do ciclo iniciado com a primeira eleição de Lula, há 16 anos. Ao longo desse período, o partido acumulou força e transformou esses estados em suas fortalezas.
No primeiro turno de 2002, os votos do Nordeste representaram apenas 24% do desempenho de Lula. O mapa eleitoral era relativamente equilibrado. O petista ficou na frente em 23 estados e no Distrito Federal.
Perdeu para Ciro Gomes no Ceará, para Anthony Garotinho no Rio e para José Serra em Alagoas.
As políticas sociais voltadas para a população de baixa renda mudaram o quadro eleitoral nos anos seguintes. Desde a eleição presidencial de 2006, o PT obtinha sempre um terço de seus votos no Nordeste.
É cedo para dizer se o crescimento dessa proporção em 2018 é pontual ou duradouro. Não há indícios suficientes de que o PT se tornará apenas um partido regional, mas a sigla sairá da eleição com um desafio.
Caso a vitória de Bolsonaro se confirme, os petistas terão uma bancada razoável no Congresso para fazer oposição nacional ao presidente. Por outro lado, sua máquina administrativa estará concentrada no Nordeste, nas mãos dos três ou quatro governadores eleitos pelo partido.
Com Lula fora de cena, o PT pode se ver obrigado a recuar para reforçar suas trincheiras. O futuro do partido dependerá do desempenho do próximo governo e, principalmente, da economia.