ANÁLISE: Crescimento de Bolsonaro é mais vigoroso que ritmo de Haddad
Rodrigo Augusto Prando*, O Estado de S.Paulo
16 Outubro 2018 | 05h00
A primeira pesquisa Ibope/Estado/TV Globo do segundo turno das eleições 2018, divulgada na segunda-feira, 15, indica Bolsonaro com 59% e Haddad com 41% dos votos válidos, ou seja, excluindo os votos nulos, brancos e indecisos. Uma vantagem enorme para Bolsonaro, cuja força política foi sentida ao final do primeiro turno, não apenas, aqui, na disputa presidencial, mas, especialmente, na força do PSL, elegendo a segunda maior banca da Câmara.
Na votação para o segundo turno, há os seguintes recortes: sexo, idade, escolaridade e renda familiar. Nestes dois últimos, Haddad tem maior intenção de votos entre os mais pobres – que ganham até 1 salário mínimo – e entre os menos escolarizados – que cursaram até a quarta série. Contudo, mesmo nestes recortes, Bolsonaro ganha de Haddad em todos os outros segmentos de renda e de escolaridade. O ex-capitão, também, lidera nos recortes sexo e idade. Com isso, pode-se depreender que o ritmo do candidato do PSL é mais vigoroso que o ritmo do petista, até mesmo no “potencial de voto” e na “certeza do voto”. Bolsonaro tem um eleitor mais convicto e Haddad, por sua vez, já é mais rejeitado que Bolsonaro.
Com esses dados apresentados pela pesquisa, alguns pontos a considerar:
1 - Bolsonaro colhe os frutos de ter se firmado – antes dos outros – com maior força como um antipetista e o maior antagonista do ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva, condenado e preso na Operação Lava Jato;
2) A estratégia do PT de manter Lula em evidência e até o último momento e ligando-o a Haddad contribuiu sobremaneira para a força do discurso de Bolsonaro;
3) Provavelmente se o PT tivesse retirado Lula de cena e fortalecido a imagem mais centrada de Haddad, hoje, a disputa seria de outra ordem;
4) A campanha de Haddad ao mudar suas cores e subtrair o nome de Lula acusou, tardiamente, o golpe, mas tais mudanças não surtirão efeito, especialmente pela força dos seguidores de Bolsonaro nas redes sociais;
5) Haddad insistirá na ida de Bolsonaro aos debates televisionados, crendo que, com isso, possa frear seu oponente expondo suas fragilidades;
6) Se, por ventura, Bolsonaro for aos debates e seu desempenho for ruim, mesmo assim, terá pouco impacto em sua imagem e em suas intenções de voto, mantendo a vantagem;
7) A tal frente dos democratas – junto com Haddad – contra Bolsonaro não empolgou ninguém, ou seja, nem Marina e nem Ciro, especialmente, estão dispostos a vincular sua imagem à de Haddad neste momento;
8) A construção narrativa do PT do “nós” contra “eles” conseguiu, só agora, um adversário que luta na mesma sintonia – o PSDB e Marina nunca conseguiram devolver, na mesma moeda, os torpedos discursivos dos petistas;
9) A força de Bolsonaro nas redes sociais rompeu o paradigma da importância do tempo de rádio e televisão; e, finalmente,
10) A não ser que Bolsonaro cometa um erro crasso ou um escândalo de enorme proporção modifique o humor do eleitorado, será muito, muito difícil Haddad superar seu adversário.
* Professor e pesquisador da Universidade Presbiteriana Mackenzie / O ESTADÃO