Dinastias políticas são derrotadas na eleição de 2018
09/10/2018 - 13:00 / 09/10/2018 - 18:06
BRASÍLIA - O produto era bom, mas não deu certo dessa vez. Assim o senador João Alberto de Souza (MDB-MA), eterno comandante do Conselho de Ética do Senado e integrante de uma das dinastias políticas mais longevas do país, analisa a debâcle política das famílias Sarney , Lobão e Muradnas eleições desse domingo. Como ele, os demais caciques que comandaram a política no Maranhão por décadas, sempre envolvidos em escândalos de corrupção, tentam digerir a estrondosa derrota dos herdeiros do ex-presidente, governador e senador por cinco mandatos José Sarney: a candidata a governadora Roseana Sarney , seu irmãoZequinha Sarney , candidato ao Senado, e ex-ministro e senador Edison Lobão com seu filho suplente, Edinho.
A enxurrada de votos contra que atingiu os Sarney no Maranhão também sepultou, por hora, outros grupos familiares que sobreviveram à sombra da corrupção em outros estados. A família de Jorge Picciani, que saiu da cadeia para prisão domiciliar, não conseguiu reeleger o ministro do Esporte Leonardo Picciani (MDB-RJ), também investigado na Operação Lava-Jato. Aliado dos Picciani, o filho do ex-governador Sérgio Cabral, Marco Antônio Cabral (MDB), foi derrotado na disputa de uma vaga na Câmara Federal. A derrota também tirou da Câmara a deputada Cristiane Brasil (PTB), filha do presidente do partido, Roberto Jefferson.
No Maranhão o único sobrevivente do clã Sarney é o neto Adriano Sarney, filho de Zequinha, eleito deputado estadual. João Alberto diz que o grupo se reunirá nos próximos dias para entender o que aconteceu, já que as pesquisas indicavam a eleição de Lobão e Zequinha para o Senado. Uma coisa é certa, anuncia: o grupo de Sarney não desistirá da política. Ele culpa o governador Flávio Dino (PCdoB) pela desgraça da oligarquia. Diz que tudo que ele não conseguia fazer, botava culpa nos Sarney. Dino não só derrotou Roseana no primeiro turno, como elegeu no lugar de Lobão e Zequinha os aliados de sua coligação Weverton Rocha (PDT) e Eliziane Gama (PPS).
— Nosso produto era muito bom, mas não deu certo dessa vez. Roseana era uma ótima candidata, Lobão e Zequinha iam vencer e houve uma reviravolta inexplicável no último dia. O pior de tudo, acho, é que não olhávamos para o eleitor deles, só olhávamos para as pesquisas. Nossas passeatas eram fenomenais, e depois o povo faz isso? Vamos continuar na oposição e ver o que vem aí pela frente, mas não vamos abandonar a política — disse João Alberto Souza.
O secretário particular de Sarney, Wanderley Azevedo, que disputou uma vaga ao Senado como suplente de Fátima Pelaes (MDB) no Amapá, também não teve sorte.
— A disputa foi braba e desleal. Eu nem falava no nome de Sarney na campanha para não gerar incompreensão. Eu tenho por ele uma grande admiração, respeito e uma amizade paternal — diz Wanderley Azevedo, revelando que o poder de Sarney no Amapá, estado que buscou um mandato no Senado, também derreteu.
DESGASTE DO PT
No Acre, com o desgaste do PT e do governo estadual, depois de 16 anos no poder, o eleitor afastou os irmãos Jorge Viana, ex-vice presidente do Senado, e Tião Viana, governador que não conseguiu eleger seu sucessor. A vitória do candidato a governador adversário Gladson Cameli se concretizou no primeiro turno. Jorge e o ex-governador Binho Marques integraram o chamado grupo “meninos do PT”, que movimentou a política do Acre no início da década passada, no auge da criação do partido .
Binho critica a gestão de Tião Viana, com quem rompeu pelo desgaste do grupo.
— Jorge e Tião nunca formaram um grupo. São muito diferentes e nunca seguiram o mesmo caminho. Para o eleitor, entretanto, são um só grupo. É verdade. Por este motivo o Jorge não foi eleito — avalia o ex-governador Binho Marques.