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Haddad diz estar 'aberto' a incorporar propostas de Ciro Gomes em programa de governo

Por Bárbara Muniz Vieira e Filipe Matoso, G1 — São Paulo e Brasília

O candidato do PT à Presidência da República, Fernando Haddad, afirmou nesta terça-feira (9) estar "aberto" a incorporar propostas de Ciro Gomes(PDT) no programa de governo.

Haddad deu a declaração em São Paulo, após se reunir com os governadores Wellington Dias (PT-PI), Camilo Santana (PT-CE), Rui Costa (PT-BA) e Flávio Dino (PCdoB-MA).

No último domingo (7), primeiro turno da eleição, Haddad recebeu 29,28% dos votos e disputará o segundo turno com Jair Bolsonaro(PSL), que recebeu 46,03% dos votos.

 

"Eu conversei ontem com o Roberto Mangabeira Unger [interlocutor de Ciro] e disse a ele que estaria aberto a incorporar [no programa de governo] propostas que fossem compatíveis com os princípios [do PT]. E não há incompatibilidade entre os programas. As diretrizes são as mesmas: soberania nacional, soberania popular, direitos trabalhistas e direitos sociais. Enfim, os dois programas estão muito afinados", declarou Haddad.

Disputando a Presidência da República pela terceira vez, Ciro Gomes ficou em terceiro lugar no primeiro turno deste ano, com 12,47% dos votos.

De acordo com o presidente do PDT, Carlos Lupi, o partido "jamais" apoiará Bolsonaro e estuda dar "apoio crítico" a Haddad.

Ciro Gomes (PDT) ouve fala de Fernando Haddad (PT) durante debate na TV Globo, em 4 de outubro — Foto: Marcos Serra Lima/G1

Ciro Gomes (PDT) ouve fala de Fernando Haddad (PT) durante debate na TV Globo, em 4 de outubro — Foto: Marcos Serra Lima/G1

'Figura muito importante'

Ao falar sobre Ciro Gomes, Fernando Haddad, disse que o candidato do PDT "é um democrata e lutará contra o fascismo", o que o torna uma voz "muito respeitada no país".

"[Ciro Gomes] é uma figura muito importante e não é de hoje. O Ciro Gomes tem uma longa trajetória de serviços prestados, inclusive nos nossos governos. PT e PDT governam o Ceará com grande êxito, o governador [Camilo Santana] teve algo próximo a 80% dos votos válidos. Enfim, vamos repetir o êxito do Ceará no Brasil", declarou o candidato do PT.

Para Fernando Haddad, a eventual "convergência" dele e de Ciro Gomes pode gerar um programa de governo "mais robusto".

Aliados históricos

PT e PDT são aliados históricos. Nos governos de Luiz Inácio Lula da Silva e de Dilma Rousseff, o partido comandou alguns ministérios, entre os quais o do Trabalho e o da Educação.

Na campanha deste ano, porém, Ciro Gomes criticou a decisão do PT de ter Haddad como candidato no lugar de Lula, afirmando que o Brasil "não aguenta outra Dilma".

Sobre o apoio no segundo turno, contudo, o candidato do PDT já afirmou que "ele, não", uma referência ao movimento #EleNão, contrário a Bolsonaro.

"Uma coisa eu posso adiantar logo, como vocês já viram: minha história de vida é uma história de vida de defesa da democracia e contra o fascismo", declarou Ciro no último domingo.

Encontro em SP

Haddad se reuniu nesta terça-feira, em um hotel na Zona Sul de São Paulo, com governadores e apoiadores da campanha dele à Presidência.

Além dos governadores do Nordeste, também estiveram presentes ao encontro o governador de Minas Gerais, Fernando Pimentel; Jaques Wagner, ex-ministro da Casa Civil e senador eleito pela Bahia; e Sérgio Gabrielli, ex-presidente da Petrobras e um dos coordenadores da campanha de Haddad.

Após o encontro, Haddad apresentou algumas propostas à imprensa. Disse, por exemplo, que a Polícia Federal passará a atuar contra o crime organizado "nacionalmente".

"Ou seja, a ideia é a de que nós avencemos no programa que foi apresentado ao Tribunal Superior Eleitoral (TSE), com a ideia de que a parte grande do crime hoje tem organizações nacionais. Debatemos isso e concluímos que isso é um fato. Organizações nacionais de organização criminosa, que atuam nacionalmente", afirmou.

"E para isso a Polícia Federal tem de entrar. Nós vamos chamar a responsabilidade da Presidência, do próprio presidente da República, a ideia de atuar no combate às organizações criminosas que atuam nacionalmente. Os governadores estão de acordo em relação e isso e agora passa a ser uma proposta encampada por autoridades já reconduzidas, já reeleitas, e, portanto, ganha um ímpeto maior para serem implementadas na primeira hora do próximo governo. Isso é importante declara porque é uma pauta comum", acrescentou.

Na pauta do encontro também foram discutidas propostas para a saúde pública. "Alguns estados do nordeste avançaram na questão das especialidades, sobretudo as policlínicas. Atenção básica é fundamental para que isso dê certo e a conexão com a atenção básica com a média complexidade vai ser feita através dessas clínicas de especialidades, inclusive contará com equpe p´ropria de especialistas", disse Haddad.

Sem visitas a Lula

O candidato do PT deve viajar menos nesta reta final das eleições, e ficar mais tempo em São Paulo para gravar os programas eleitorais. Até o fim da campanha, Haddad não deve mais visitar o ex-presidente Lula na prisão em Curitiba. Segundo o partido, foi um pedido do próprio Lula.

Segundo a presidente partido, a senadora Gleisi Hoffmann, o período do 2º turno é pequeno, e, por isso, o candidato deve aproveitar os dias para se dedicar às atividades eleitorais. "Ele [Lula] mandou um recado para mim: 'Manda o Haddad fazer campanha. Não precisa mais vir aqui'. Nós estamos com um curto espaço de tempo. Só tem mais 2 semanas. Nós temos que aproveitar as próximas semanas, as próximas duas segundas-feiras para que a gente faça campanha, faça as conversas que a gente tem que fazer e ganhe essa eleição'", afirmou Gleisi ao relatar o recado do ex-presidente.

Haddad visitou Lula nesta segunda-feira (8), um dia depois do primeiro turno, no qual obteve 31,2 milhões de votos (29,2% dos votos válidos), atrás de Jair Bolsonaro (PL), com 49,2 milhões (46,2%), com quem disputará o segundo turno no próximo dia 28.

Lula está preso no prédio da Polícia Federal em Curitiba desde o dia 7 de abril. Ele cumpre pena após ter sido condenado, em segunda instância, no processo do triplex do Guarujá.

Desde o início da campanha eleitoral, Haddad tem feito visitas ao ex-presidente às segundas-feiras, e foi criticado por adversários - entre os quais Bolsonaro - por se reunir com Lula, padrinho político e de quem herdou a candidatura depois que o Tribunal Superior Eleitoral vetou a postulação do ex-presidente com base na Lei da Ficha Limpa.

Apoio do PSOL

No fim do dia, Haddad foi visitado pelo ex-candidato do PSOL, Guilherme Boulos. O partido anunciou apoio a Haddad no 2º turno.

O partido ressaltou, em nota divulgada à imprensa, que decidiu pelo apoio à chapa de Haddad e Manuela D’Ávila (PCdoB) na vice, apesar das “diferenças políticas”.

“O PSOL apoiará, a partir de agora, a candidatura de Haddad e Manuela, mesmo mantendo diferenças políticas e preservando nossa independência. Convocamos toda a nossa militância a tomar as ruas para continuar dizendo em alto e bom som: ele não!”, afirmou a legenda em referência à campanha #elenao contrária a Bolsonaro.

Após o encontro, Boulos disse que o PT se comprometeu a incorporar propostas na campanha, como medidas para garantir salários iguais para homens e mulheres e o fim do auxílio-moradia para políticos e juízes.

 

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